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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre os caminhos do homem



Cada homem é chamado a percorrer um dado caminho, o que implica que ele deva ter deste pressuposto uma ideia que vai buscar à acção, enquanto manifestação da força interior que é impelida a vencer por razões da própria identidade natural, razão que levou Flaubert (1) a declarar: Não desculpo de modo algum aos homens de acção que não vençam, uma vez que o êxito é a única medida do seu mérito, donde se tira a ilação que é para a conquista do êxito que todo o homem é chamado desde o mais fundo da sua consciência.
 É nessa conquista que assentam as bases da felicidade humana, que num grau superior, o pode conduzir à santidade num grau em que esta está para além da postura normal que está ao alcance de todos os homens, um convite bem conhecido através do apóstolo S. Pedro: A exemplo da santidade daquele que vos chamou sede também vós santos em todas as vossas acções. (2)
Tudo isto, porém, implica uma caminhada consensual e porfiada em busca dos meios que nos conduzem à conquista de felicidade, ponto de partida para vôos mais largos e, porventura, mais proveitosos, o que nos leva até um livro de  Teilhard de Chardin (3) “Sobre a Felicidade/Sobre o Amor o qual, através de um esquema simples mas proveitoso coloca o leitor em face de uma atitude vivencial que não pode deixar de ser considerada, tendo em vista a conquista da felicidade.
Tudo começa com a apresentação de um grupo de alpinistas no momento em que é iniciada a missão de escalar o cume difícil de um alto monte, para, num dado momento da escalada, logo que as dificuldades se passaram a sentir, nos ser mostrado o grupo que partiu unido no eu todo, se dividir em três, com estados de alma, ou atitudes diferentes quanto ao modo como cada um deles enfrentava a tarefa iniciada.
Os membros de um dos grupos lamentava-se de ter partido.
Outros não se lamentam, embora caminhem com dificuldades de olhos em baixo.
Outros, tendo a coragem dos do segundo grupo no que se referia aos lamentos, ao contrário deles são mais decididos e não tiram os olhos do cume do monte.
É nestas três atitudes em que se baseia Teilhard de Chardin para equacionar um esquema bem urdido em defesa de uma tese baseada nas posições mentais e nos sentimentos que as formam.
Quanto aos fins procurados os grupos pelos antecedentes das atitudes de cada um deles, assumem, agora, três posições bem definidas, de que resulta como consequência imediata, que haja de ter em consideração, o seguinte:
Os membros do primeiro grupo, são os cansados que deixaram de procurar a felicidade, trocando-a pela tranquilidade, pela quietude e comodidade de quem calça as pantufas e vive acomodado no seu canto.
Os do segundo grupo, são os que vivem o momento, mas sem terem na mente a procura do futuro. Caminham, mas vão às apalpadelas. Sabem que a tarefa a cumprir está mais acima, mas gostam de lá chegar com o menos esforço possível, parecendo-lhes indiferente a vitória da caminhada para vencerem a escalada.
Finalmente, os do terceiro grupo, são os valentes, os que aprenderam a fazer da vida uma ascensão permanente, agindo na procura da felicidade pelo crescimento, pelo desenvolvimento, pela alegria de saborearem o momento de fundarem no alto do monte  a bandeira da vitória.
Teilhard de Chardin, neste ponto, debruça-se com toda a acuidade sobre a atitude deste terceiro grupo, fazendo nele uma análise centrada na ordem dos sentimentos mais íntimos, apontando-o como um agregado de valentes, onde havia em cada um dos seus membros um tríptico de posturas dividido nas seguintes determinações, que cada um assumia para si mesmo como norma baseada em personalizações mentais bem definidas que o autor resume assim:
O centrar-se cada um em si mesmo, pela ordenação física do esforço, direccionando o  intelecto e a moral em ordem à elevação e formação cultural, com esta a tender à unificação do eu em si mesmo.
Depois, numa ordem ainda mais elevada, cada indivíduo deixava de fazer se si mesmo o centro de tudo o que acontecia e descentrava-se no outro, sentindo que em si mesmo e só por si pouco valia e, que se enriquecia sempre que se revia no  companheiro ou nos companheiros da caminhada.
Finalmente, numa ascensão humana, a rondar o ascetismo, o homem que já se deixara de se ver a si mesmo como centro,  sobre-centra-se num eixo maior que ele, num desejo de alargamento do “eu” complementando-se  com algo que existe no outro que está ao lado, ou em algo que se sente estar mais além e acima de si mesmo, o que equivale a dizer que a vida de alguns é subordinada a uma ocorrência que superior à própria percepção das coisas.
Temos assim, que é nos membros do terceiro grupo – os valentes – que devemos situar a procura da felicidade, em qualquer dos estádios, quer no que procura guindar-se acima, pelo esforço próprio, no que sente que é preciso sair de si mesmo em prol da colectividade e, finalmente no que, vê no outro uma capacidade humana superior que até o torna capaz de sair dessa condição para ser exemplo de santidade.

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(1) - Gustave Flaubert (1821 – 1880) foi um notável escritor francês. Flaubert marcou a literatura francesa pela profundidade de suas análises psicológicas, pelo seu senso da realidade e da sua lucidez sobre o comportamento social.
(2) -  1 Pe 1,15
(3) - Pierre Teilhard de Chardin (Orcines, 1 de Maio de 1881 — Nova Iorque, 10 de Abril de1955) foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que logrou construir uma visão integradora entre ciência e teologia. Através de suas obras, legou-nos uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino e sua teologia. Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas. Muitos colegas cientistas negaram o valor científico de sua obra, acusando-a de vir carregada de um misticismo e de uma linguagem estranha à ciência.

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