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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Ano 2022: Portugal recebe as Jornadas Mundiais da Juventude


Papa Francisco: a próxima Jornada será em português!

Ao saudar os os fiéis e peregrinos de língua portuguesa durante a Audiência Geral, o Papa recordou que a "próxima Jornada será em português!", em referência a Lisboa, que acolherá o evento em 2022.

O Papa Francisco brincou com os fiéis e peregrinos de língua portuguesa durante a Audiência Geral de 30 de janeiro. Ao saudá-los, recordou que a "próxima Jornada será em português!", em referência a Lisboa, que acolherá o evento em 2022.

"Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente o grupo do Colégio São José de Coimbra. Queridos amigos, o mundo precisa de uma Igreja jovem, alegre e acolhedora: renovemos o nosso compromisso para que as nossas comunidades se convertam em lugares onde se faz a experiência do amor de Deus, que não exclui a ninguém. E a próxima Jornada será em português! Que o Senhor vos abençoe a todos!"
in, Rádio Vaticano

Já todos sabíamos.

Anunciadas no encerramento do encontro de jovens da Igreja Católica na cidade do Panamá, onde chegou no dia 23 de Janeiro de 2019 para presidir à 34ª edição das Jornadas Mundiais da Juventude, hoje, dia 30 de Janeiro na Audiência Geral na cidade do Vaticano, à comunidade portuguesa fez questão de o recordar

Num Mundo a caminhar cheio de desencontros sociais e religiosos as Jornadas Mundiais da Juventude, um evento instituído pelo Papa, hoje, S. João Paulo II em 20 de Dezembro de 1985, desde então passou a reunir milhões de jovens de todo o Mundo que durante uma semana dão mais cor à Fé católica, construindo pontes de amizade e esperança entre povos e Continentes.

Deus dê saúde ao Papa Francisco - uma bênção de Deus para o tempo que passa - para que Portugal o possa receber no ano de 2022.

Faz, pois, de Jesus a tua estrela...



Não te esqueças disto:

A tua luta deixará de ser justa e eficaz
quando deixar de ser
uma causa de amor arreigada em Jesus,
que travou com os homens do seu tempo
uma luta assim... uma luta de amor, pela causa justa
de todos os homens.

Faz, pois, de Jesus a tua estrela
em cada uma das lutas que fores chamado a travar
no cumprimento do teu destino.

Age com coragem.
É preciso transformar o mundo que temos
numa nova terra, pondo nela os homens novos
que têm de renascer das cinzas dos passos mal dados.
Ama-os a todos.
Pois, quantas vezes, os passos mal dados
não são por se viver em cima de coisas velhas
que não são destinos,
nem rotas onde se possam cumprir
os altos destinos dos homens, chamados à vida
para construírem a Cidade de Deus.

Faz, por isso, que em cada um dos teus dias
esteja sempre presente a estrela tutelar de Jesus,
pois sem Ele, a justiça neste mundo
é sempre uma miragem e uma ilusão maior.
Agarra, Jesus,
para que a tua luta de amor pelo mundo novo
que é preciso construir
seja um marco à beira do teu caminho.

A nossa Democracia está doente!

https://www.sapo.pt/ de 30 de Janeiro de 2019
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A nossa Democracia está doente, a necessitar de uma transfusão de sangue novo que lhe dê uma vida nova.
  • Crimes económicos que prescrevem, como e porquê?
  • Será verdade que o Parlamento agora que se sente a necessidade de uma nova "Comissão de Inquérito" à Caixa Geral de Depósitos, como diz o Jornal "ECO" vai receber um "relatório inútil da CGD"?
  • Mas por que não chegou ele em tempo oportuno?
E não me pergunto mais porque preciso de defender a minha sanidade mental.
Que longe estás minha  bela madrugada de 25 de Abril de 1974, quando um amigo meu me despertou para me avisar de "um tempo novo" que ia "acabar com o regime velho" e que passei a minha juventude e adolescência.
Valeu a pena?
Valeu.
Mas, infelizmente, faleceram os homens que corporizaram aquela bela madrugada e os que lhe sucederam - com as excepções honrosas - não a souberam honrar, pelos muitos desvios do caminho que o Sol daquela antiga madrugada encheu de um esplendor novo, mercê da corrupção de valores.

Não gosto de escrever sobre isto.

Sinto pena do meu velho Portugal, pobre é verdade - que desde 1820, podendo ter sido mais melhor - também naquele tempo não soube responder a um "tempo novo" que se abriu, e por isso, mergulhou, desde então em tantas crises de regime de que o Estado Novo que muitos pensam ter sido a sanidade de todos os nossos males, não o foi seguramente, a ponto de ter sido derrubado para dar lugar a actual Democracia, que penso, hoje, bem podia ter  sido mais bem aproveitada.

E não estar doente...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Parábola dos servos inúteis


Parábola dos servos inúteis
Sobre a prática da caridade

Texto do Evangelho de S. Lucas 17, 7-10


Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, ao voltar ele do campo: chega-te já, e reclina-te à mesa? Não lhe dirá antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que eu tenha comido e bebido, e depois comerás tu e beberás? Porventura agradecerá ao servo, porque este fez o que lhe foi mandado? Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer.


Para a vaidade humana esta parábola é difícil de aceitar, se na sua interpretação entrarem apenas julgamentos sumários despidos dos conceitos que estão, apenas, na esfera de Deus.

- Somos servos inúteis?

A parte humana do ser que somos não deixa de ficar intrigada com esta asserção dita tão categoricamente, e logo à primeira reflexão põe-se em desacordo, donde é preciso fazer uma chamada àquilo que em cada um de nós tem reflexos do amor divino.
Deus não usa o homem, para no momento seguinte ao serviço prestado o descartar como este configurasse uma inutilidade, porque o que está dito, passa por uma chamada clara – é verdade – da subordinação do homem à divindade.
Tal como aquele que serve não faz qualquer favor, pelo facto de ter desempenhado uma missão que lhe estava confiada, de igual modo o homem nunca deve julgar-se credor de Deus no momento em que, conscientemente, cumpre uma qualquer obrigação nesta empresa que nos liga a Ele e através d’Ele a todos os homens.
Cumprimos, simplesmente, a nossa missão.

É um dos deveres que temos de respeitar nas relações com Deus, tomando depois de cumprir o que se impõe, uma atitude de humildade perante a divindade e, até, para com aquele a quem a nossa acção foi útil, não se ficando à espera de qualquer favor de Deus nem de uma qualquer recompensa pelo serviço praticado.
Na sua mais íntima essência o homem está orientado para Deus, mas só O atingirá em plenitude quando a sua atitude tiver a humildade de reconhecer o pequeníssimo grão de areia que ele é, em face do seu Criador. O servo inútil é, pois, alguém que leva a vida a praticar por amor ao próximo e a Deus, acções concretas de bens praticados e, após eles se apaga como se fosse uma vela que encheu a casa de luz e ao apagar-se, parece – sem o ser – uma inutilidade.
Cumpriu o seu dever e inutilizou-se, apagando-se.
É este o sentido da parábola.

Feito por amor a Deus um qualquer serviço a favor do outro, o prestador deve remeter-se a um religioso recato, como que inutilizando-se, ou seja, passar despercebido, como se nada tivesse feito.
Fez-se, apenas, o que devia ser feito.
Deus não quer que o homem se ensoberbeça pelo serviço que pratica em prol da comunidade ou do outro, porque fazendo-o por amor d’Ele, não pode existir qualquer obrigação recompensatória traduzida em benesses de se alcançar uma qualquer felicidade desejada de fortuna ou cargo social.
A doutrina evangélica condena esta postura.

Na humildade da sua condição o homem caminha para se atingir a si mesmo e isto só acontece quando o seu ser imperfeito se confunde com a divindade que trabalha dentro dele, devendo por isso, superar-se, julgando a sua inutilidade perante Deus como a maior utilidade que deve ter em todos os serviços que venha a praticar.
É ponto assente que em consequência das acções menos conseguidas, da altivez, da toleima e da contumácia, o homem insubmisso entende mal a sua subordinação a Deus e lhe parece uma ofensa da divindade o chamamento de inútil que lhe é dado,  algo que a sua farronca não pode aceitar pelo facto dele, arrogantemente, julgar que pode pedir contas a Deus.

Mas Jesus sabia do que falava e, sobretudo, para quem falava, precisamente, para os seus discípulos a quem competia continuar a Mensagem que Ele trazia da parte do Pai e deveria pautar-se pela assunção plena e radical da humildade do homem perante Deus, mas que não fosse feita de uma subordinação humilhante com a perda da autonomia e da liberdade, mas de uma subordinação humílima, autónoma e em tudo no pleno uso da sua liberdade pessoal.
O que está em causa é a assunção deste dom.

Jesus foi bem claro na resposta que deu aos filhos de Zebedeu, Tiago e João que eram seus apóstolos, quando estes, talvez pensando nos bons serviços que prestavam e sentindo-se merecedores de um beneplácito especial pediram que estando o Mestre na Sua glória, sentasse um à sua direita e outro à sua esquerda.

Conta S. Marcos que Jesus chamou-os para junto de si e disse-lhes: Sabeis que os que são reconhecidos como governadores dos gentios, deles se assenhoreiam, e que sobre eles os seus grandes exercem autoridade.  Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos(...) (1)
Como a parábola dos servos inúteis foi contada aos próprios discípulos, onde estavam Tiago e João, entende-se que eles, lembrando-se do pedido feito, compreenderam pela voz do Mestre o sentido daquelas palavras, incompreensíveis, apenas, para os homens cheios de si mesmos.



(1)- Mc 10, 42-45

domingo, 27 de janeiro de 2019

"O bom samaritano


 Parábola do Bom Samaritano
Sobre o messianismo de Jesus
  
Texto do Evangelho de S. Lucas 10, 30-37

Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, os quais o despojaram e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo. De igual modo também um levita chegou àquele lugar, viu-o, e passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão;  e aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar.
 Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?  Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe, pois, Jesus: Vai, e faz tu o mesmo.


É uma das parábolas mais conhecidas.
Encerra, para além da atitude de ordem sobrenatural, uma lindíssima e comovente história de solidariedade humana.
Geograficamente existe um acentuado desnível entre Jerusalém (750 m. acima do nível do mar) e Jericó (390m. abaixo). A localização desta cidade herodiana desde sempre permitiu que fosse conhecida pela sua vegetação luxuriante e afamada como a cidade das palmeiras. Nela morreu Herodes, o Grande, que a visitava amiudadas vezes.
A ligar as duas cidades existia uma estrada com cerca de 25 km  comprimento, onde era hábito acoitarem-se salteadores, na procura de interceptar os caminhantes na mira de os espoliar de bens. Jesus sabia desta realidade maléfica que punha bem longe dos corações criminosos o amor ao próximo, que deixava de ter direitos de cidadania naquela estrada.

Na sequência do que havia sido profetizado, Jesus anunciou, definitivamente, o Juízo Final, onde a culpa do homem esquecido das graças oferecidas seria castigada, donde toda a atitude havida em relação ao próximo haveria de por a descoberto a aceitação ou a recusa de Deus.
Aquele doutor da Lei que S. Lucas refere, ao perguntar-lhe: Mestre que hei-de fazer para possuir a vida eterna?(1), sendo como é crível da escola de Gamaliel (2) sabia que os sete últimos Mandamentos da Lei de Deus se referiam no amor que era devido ao próximo e desse modo respondeu acertadamente à pergunta de Jesus sobre o que estava escrito na Lei.

É então que Jesus conta a história em forma de parábola de um homem que descia de Jerusalém a Jericó, tendo sido vítima de um assalto, a ponto dos malfeitores o terem deixado meio morto.
Um sacerdote que vinha pelo mesmo caminho, olhou a cena e o estado em que ficara o infeliz caminhante e fez vistas largas, possivelmente transido de medo não fosse, também ser assaltado e espancado.
O levita (3) que casualmente passou a seguir teve o mesmo procedimento de abandono, sem ter parado um momento que fosse.Viu-o, e passou de largo, não fossem pensar os outros meliantes que se dispunha a ajudá-lo, por isso fez vista grossa.

Mas um homem de Samaria que passou depois de tudo isto, ao ver o estado em que se encontrava o agredido, encheu-se de compaixão;  e aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
E fez mais.
Teve o cuidado de pagar a hospedagem e dizer cheio de amor ao hospedeiro: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar. Aquele bom samaritano ia de viagem e, porque, certamente, teria algum assunto que não podia ser retardado teve a precaução de pagar a quem tratasse o ferido e ajuntar a seguinte recomendação: e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar.
Quando terminou o ocorrido na estrada que levava de Jerusalém a Jericó, Jesus num ímpeto de argúcia fez ao doutor da Lei a pergunta fundamental:
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores? ao que o interrogado respondeu, dizendo: o que usou de misericórdia para com ele.

E respondeu bem.
Vai e faz tu, também, do mesmo modo – despediu-o, Jesus.
Sobre o tema do próximo o Concílio Vaticano II teceu a seguinte consideração, que é um alerta para os homens de hoje, cujos afãs quotidianos nem sempre deixam margem para pensar no amor que nos deve merecer o outro: o Concilio recomenda a reverência para com o homem, de maneira que cada um deve considerar o próximo, sem excepção, como um “outro eu”(...)(4)
É esse “outro eu ”a que Jesus se referiu ao responder a um dos fariseus, após lhes ter constado que Ele tinha calado os saduceus, pensando que O embaraçavam sobre qual era o maior dos mandamentos: Mestre, qual é o grande mandamento na lei?  Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.  Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.(5)

Esta parábola do amor que é devido ao outro, resume-se, finalmente no grande ensinamento do Mestre: Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós também.(6)
O encontro com o próximo é um dos que maiores consequências produz e, ao mesmo tempo, um dos mais inevitáveis. O “eu” está ordenado para o “tu” da comunidade. (7)
O eu e o tu tendem, deste modo, a ser o “outro eu” vendo-se o próximo com o amor como nos vemos a nós mesmos.
O samaritano da parábola foi um fiel intérprete deste sentimento.



(1) - Lc 10, 25
[(2)- Gamaliel é conhecido na história como um dos melhores professores da Lei que orientava o povo de Israel. Era um homem temente a Deus. Foi professor de Paulo. Ele não era fechado nos seus conceitos como muitos outros "doutores da lei", mas sempre se mostrou aberto ao diálogo e tinha capacidade de perceber a verdade que está nas pessoas com pensamentos e tradições diferentes
(3)- O levita era um membro da tribo de Levi, entre os hebreus. Levi foi o terceiro filho de Jacob e de Lia. Nos seus descendentes foi perpetuado o sacerdócio de Israel.
(4) - GS, nº 27- 
(5) - Mt 22, 36-40
(6)- Mt 7,12
(7) - in, A Essência do Cristianismo, de Michael Schmaus

Corpo e Alma


O grande erro da filosofia materialista
profundamente ateia, 
é que, ao negar à alma
a sua realidade independente
lhe tira toda a grandeza de ser a par do corpo,
a parceira mais íntima da aventura da vida.

Corpo e alma, no entanto, completam-se.

Enquanto o corpo é a caixa de ressonância
dos gritos da alma,
esta, conta e sente os aleluias das conquistas do corpo,
enquanto agente físico que gera as vitórias
sobre os pântanos de que é fértil o mundo.

Assim, se o corpo não pede aquilo que o espírito
lhe pode dar,
é não entender que sendo ele ilimitado
pelo poder da Graça,
se renuncia ao que de mais profundo
existe no Mistério da vida
que Deus deu a todos os homens.

Querer, pois, que a matéria conduza a vida
sem olhar ao espírito, que é uma ave que voa
pelo céu da vida, num looping sobrenatural
da alma humana,
que é por vontade divina, quem dá carácter e consciência
às atitudes altruístas dos homens
é reduzi-los à massa fria da soma dos corpos
que um dia, irremediavelmente,
se hão-de perder na poeira do nada
deixando famintas de luz as almas que os habitaram
por nunca terem cumprido a vontade
d’Aquele que desde o princípio
lhe impôs o selo da imortalidade.

sábado, 26 de janeiro de 2019

"Eloquência do silêncio".


Cónego Rui Osório




A oração é uma lenta e serena aprendizagem do silêncio, na aproximação possível do profundo e insondável mistério de Deus, em comunhão fraterna com todas as suas criaturas. Nunca rezei tanto como em graves momentos de sofrimento com um único objetivo: estar na intimidade de Deus na vida presente como na futura, no tempo como na eternidade, e ter a alegria da companhia de todos os eleitos, os santos, meus irmãos, para interpretarmos em coro a celestial a sinfonia divina. Contemplativo na ação e ativo na contemplação, sei distinguir no possível a súplica da ação de graças e o louvor da adoração.

Limito-me a balbuciar palavras doces de amor até à eloquência do silêncio. Calado, o mais calado possível, sei que Deus me conhece até ao íntimo e abandono-me ao seu carinho de Pai, com a ajuda possível da Mãe do seu Filho e nossa Mãe que me recebe no seu colo maternal e me aquieta o coração. Desculpem-me, estou em silêncio e nunca tão ouvinte do que me dizem os meus interlocutores como de quem me quiser ouvir o que melhor tenho para lhes dizer, saudáveis ou doentes. Apenas e só uma coisa muito simples e muito verdadeira: sejam felizes e semeiem felicidade a rodos. Rezar é também estar na companhia fraterna e amiga com todos os homens e mulheres, e com a opção preferencial pelos mais frágeis e mais padecentes.

Não há desculpa possível para ser egoísta na dor. A dor é para pôr em comum com quem sofre no corpo ou no espírito. Quem não sabe partilhar com sabedoria e delicadeza a dor perde uma boa ocasião para ajudar os outros a serem mais felizes. Detesto a patologia obsessiva da dor, o dolorismo, e a resignação de quem, vencido ou derrotado, já desistiu de combater até à exaustão os males dolorosos quaisquer que sejam, reversíveis ou irreversíveis. Meia cura ou mais está em quem sofre e tudo espera para se libertar da ignomínia do sofrimento, que, mesmo assim, se for real, é para combater e jamais para ser perdido como prova de vida que germina na semente da terra húmida e cálida com a esperança de vida nova à luz do Sol ou como a criança que sonha no seio materno com a beleza do que será a sua vida à luz do dia e para longo futuro. Outos agentes, absolutamente obrigatórios, são o pessoal de saúde e a sua suposta e desejada competência

No resto e é tudo, seja a vontade de Deus, o único que nos leva a cantar o hino da vida para além das agruras da morte. Sou homem de palavra, oral ou escrita. Pouco mais sei do que comunicar e ouvir as respostas possíveis às mensagens. Quem me dera voltar ao normal, Mas ainda não me é possível, nem sei quando. Até lá, garanto-vos, estou na eloquência do silêncio, aprendendo o essencial para mim, para vós, queridos leitores, e, como só desejo, para Deus, até que Ele seja tudo em todos.

Até breve!


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Porto, 31 mai 2018 (Ecclesia) – O cónego Rui Osório, da Diocese do Porto, faleceu hoje aos 77 anos de idade, na cidade nortenha.

O corpo sacerdote e jornalista vai ser trasladado para a Sé do Porto, esta sexta-feira; a Missa exequial tem início marcado para as 15h00, sob presidência do bispo diocesano, D. Manuel Linda, seguindo o funeral para a freguesia do Olival.

“Foi Diretor Espiritual da Legião de Maria, Director do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais até 2003 e Pároco de São João da Foz. Dedicou grande parte da sua vida ao jornalismo, sendo fundador do Jornal Voz Portucalense, colaborador do Jornal de Notícias e da Rádio Renascença”, refere a Diocese do Porto, em comunicado.

O presidente da República Portuguesa publicou uma mensagem de condolências, lamentando a morte de um “amigo”.

“Homem da Igreja e do Jornalismo, com uma carreira de décadas no Jornal de Notícias e na Rádio Renascença, fundador da Voz Portucalense, o padre Rui Osório, desde há muito um amigo pessoal, foi também um combatente pela Liberdade, discípulo de D. António Ferreira Gomes, perseguido pela Polícia Política antes do 25 de Abril”, refere o texto divulgado pela Presidência da República.

“No livro ‘O Senhor escreva connosco’, por ocasião do 50.º aniversário da sua ordenação, agradeceu ao Espírito Santo o dom da Comunicação; um dom que pôs ao serviço do bem comum e que fica na memória dos seus leitores e ouvintes, dos paroquianos da Foz Velha, dos amigos”, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.

Ordenado sacerdote em 1964, Rui Osório de Castro Alves desempenhou várias funções no ‘Jornal de Notícias’, tendo recusado os convites para ser diretor de vários jornais por solicitação de D. António Ferreira Gomes.

Natural de Vila Nova de Gaia (Diocese do Porto), onde nasceu a 27 de outubro de 1940, o cónego Rui Osório deixou a sua marca na área da comunicação social; era ainda pároco da Foz do Douro, assistente Diocesano da Ação Católica Rural (ACR) e membro do Cabido da Catedral do Porto.

O diretor da Agência ECCLESIA, Paulo Rocha, evoca Rui Osório como “um defensor da verdade”, enquanto padre e jornalista”, que “deu ao jornalismo o sentido da missão e à Igreja Católica o rigor e seriedade na abordagem das várias problemáticas”.

“Homem do Norte, sempre defendeu as suas gentes e as causas da região. Voz na Renascença e palavra   no jornal Voz Portucalense e no Jornal de Notícias até há poucas semanas, o padre Rui Osório foi um mestre no jornalismo e na promoção dos jornalistas, referência no jornalismo de temática religiosa e amigo dos que partilham projetos de comunicação. O  seu modo de fazer, de estar e ser permanecem como referência nos ambientes informativos e crentes”, conclui.

OC





sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Todos nascemos para ser pessoas importantes!



Se sentes que o teu destino foi talhado
para fazer de ti uma “montanha humana”,
sê fiel à tua sorte e cumpre-a,
mas sempre, com a humildade de que fores capaz.

Se, porém,
sentes que a tua humanidade se cinge a um “vale”
sem ter sonhos de altura,
sê do mesmo modo fiel ao teu destino, porque Deus,
pesa todos os homens na mesma balança
e a todos quer equilibrados nos dons que lhes deu.

Sê, pois, um “vale humano”,
e planta nele todas as flores que puderes,
e que sejam sempre flores de paz.

E atenta nisto:

Apesar do equilíbrio como Deus quer todos os homens,
não te esqueças que hão-de haver sempre
os que sobem alto e se sentem “montanhas”
sem contudo, deixar que nos seus píncaros
floresçam flores iguais 
às que tu plantas no "vale humano"
que és!

Por isso, aprende que o mais importante é ser.

Deus é que sabe de nós,
sejamos “montanhas” ou “vales humanos”,
desde que no plano da humanidade
saibamos ser grandes ou pequenos,
leões ou formigas,
se tivermos dos nossos destinos
a noção exacta daquilo que nos é pedido
na concertação do mundo.

É isto o mais importante.

Cumpramos, pois, os nosso destinos,
na certeza, que nascemos para que na balança de Deus
todos tenhamos o equilíbrio de viver, 
para podermos ser pessoas importantes!

Em memória do Poeta Afonso Lopes Vieira




Faz, hoje, 73 anos que nos deixou o Poeta Afonso Lopes Vieira, esse ilustre leiriense cuja acção sócio-política se centrou no Renascentismo que fez escola entre os séculos XIV a XVII.

O Poeta com um pé assente nesse Movimento cultural, económico e político inspirado na Antiguidade Clássica, viu no Humanismo o seu principal valor centrado na única Verdade irrefutável, aquela que Jesus trouxe ao Mundo, e teve o outro pé assente na Pátria que o viu nascer e na qual viu uma realidade natural que esteve presente em muitas das suas obras poéticas, como se pode perceber neste poema:

O Segredo do Mar

A “Flor do Mar” avançando
Navegava, navegava,
Lá para onde se via
O vulto que ela buscava.

Era tão grande, tão grande
Que a vista toda tapava.

E Bartolomeu erguido
Aos marinheiros bradava
Que ninguém tivesse medo
Do gigante que ali estava.

E mais perto agora estão
Do que procurando vão!

Bartolomeu que viu?
Que descobriu o valente?
- Que o gigante era um penedo
que tinha forma de gente?

Que era dantes o mar? Um quarto escuro
Onde os meninos tinham medo de ir.
Agora o mar é livre e é seguro
E foi um português que o foi abrir.

 in 'Antologia Poética'

 Ou, ainda, neste outro extenso e belo poema:

Saudades Trágico-Marítimas

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Na praia, de bruços,
fico sonhando, fico-me escutando
o que em mim sonha e lembra e chora alguém;
e oiço nesta alma minha
um longínquo rumor de ladainha,
e soluços,
de além...

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

São meus Avós rezando,
que andaram navegando e que se foram,
olhando todos os céus;
são eles que em mim choram
seu fundo e longo adeus,
e rezam na ânsia crua dos naufrágios;
choram de longe em mim, e eu oiço-os bem,
choram ao longe em mim sinas, presságios,
de além, de além...

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

Naufraguei cem vezes já...
Uma, foi na nau S. Bento,
e vi morrer, no trágico tormento,
Dona Leonor de Sá:
vi-a nua, na praia áspera e feia,
com os olhos implorando
- olhos de esposa e mãe -
e vi-a, seus cabelos desatando,
cavar a sua cova e enterrar-se na areia.
- E sozinho me fui pela praia além...

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

Escuto em mim, - oiço a grita
da rude gente aflita:
- Senhor Deus, misericórdia!
- Virgem Mãe, misericórdia!
Doidos de fome e de terror varados,
gritamos nossos pecados,
e sai de cada boca rouca e louca
a confissão!
- Senhor Deus, misericórdia!
- Misericórdia, Virgem Mãe!
e o vento geme
no vulcão
sem astros;
anoitecemos sem leme,
amanhecemos sem mastros!
E o mar e o céu, sem fim, além...

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

Ah! Deus por certo conhece
minha voz que se ergue, branca e sozinha,
- flor de angústia a subir aos céus varados
p'la dor da ladainha!
Transido, o clamor da prece
do mesmo sangue nos veio
Deus conhece os meus olhos alongados;
onde o mar e o céu deixaram
um pouco de vago anseio
nesse mistério longo do seu halo...
Rezam em mim os outros que rezaram,
e choraram também;
há um pranto português, e eu sei chorá-lo
com lágrimas de além...

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

Ó meu amor, repara
nos meus olhos, na sua mágoa clara!
Ainda é de além
o meu olhar de amor
e o meu beijo também.
Se sou triste, é de outrora a minha pena,
de longe a minha dor
e a minha ansiedade.
Vês como te amo, vês?
Meu sangue é português,
minha pele é morena,
minha graça a Saudade,
meus olhos longos de escutar sem fim
o além, em mim...

Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.

in 'Ilhas de Bruma'
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Sintetizando, temos que em Afonso Lopes Vieira a ideia renascentista foi um modo como ele viu e sentiu naquele Movimento uma missão orientadora que desejou não ver morrer por ver nela linhas sociais e políticas que deveriam ser guias para o seu tempo e na Pátria, viu e sentiu uma Entidade fundamental, de cariz natural e linguística, donde lhe é atribuído o seu carácter activo e multifacetado que grandemente lhe influenciaram a existência, dando-lhe inspirações, quer fossem para a sua pena literária, quer para as muitas conferências a que se sentiu chamado e que ilustrou em  nome de valores artísticos e culturais de índole nacional.

Recolheu tudo isto no volume: "Em Demanda do Graal" - 1922 - e de novo com o título: "Nova Demanda do GraaL" - 1942 -  apontando-se-lhe, o facto de se ter desmarcado do Estado Novo a partir do seu despontar com o livro "Éclogas de Agora", mantendo-se fiel ao "Integralismo Lusitano".

Este Movimento ou Agrupamento sócio-político influente entre 1914 a 1932,  é pena que não ressurja com a renovação dos seus ideais para o tempo presente, porquanto a República, tal qual a conhecemos devia ser refundada, por ter um peso demasiado no erário público para desempenhar as funções que lhe cabem, assim como a centralização do Estado num Parlamento donde tudo dimana, deveria ser mais descentralizado em favor do municipalismo, como já o havia advogou, no seu tempo, Alexandre Herculano