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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

"O Filho do Homem"


A expressão "Filho do Homem" é muitas vezes usada nos textos bíblicos como um título que o próprio Jesus Cristo deu a si mesmo, e este tratamento tem gerado para os não crentes alguma perplexidade opondo-o ao outro título "Filho de Deus", como se o primeiro citado estivesse em contraposição com o segundo.

 Lembremos este exemplo em que Jesus fala assim:

"Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores”. Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.  (Mateus 8, 19, 20)

Ainda em S. Mateus lemos o seguinte em 13, 37: "Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem" e ainda mais este exemplo (Mt 17, 22) "Reunindo-se eles na Galileia, Jesus lhes disse: "O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens", a que se seguem (Mt, 18,11): "O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido" e (Mt 24, 44) "Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam" e, ainda (Mt 25,31): "Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, ele se assentará em seu trono na glória celestial"

Em termos latos o que temos em todas estas expressões é a confirmação de Jesus - Filho de Deus - com estes títulos arrogados para si ter desejado parecer-se connosco ao ter sido humano como nós somos, ao tomar para a sua Pessoa o primeiro exemplo bíblico de "Filho do homem" que aparece numa profecia de Daniel (7, 13-14):  "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído." 

Nesta profecia, Daniel, antevê a chegada do Messias com este título messiânico, e tal título
dado por Jesus a si mesmo ia ao encontro dos judeus daquela época que naturalmente estariam bem familiarizados com o termo e a quem se referia, e esta foi a razão porque Jesus - judeu como era - ao falar daquele modo mais não fez que lembra a velha profecia e que Deus se manifestou aos homens através daquela "visão da noite" do seu profeta em que ele viu entre as nuvens do céu "um como Filho do Homem", antevendo que aquela personagem que ele viu em sonhos era feito de carne e osso como aconteceu com Jesus que viveu entre os homens, sendo no entanto, Filho de Deus, obra de uma concepção sobrenatural que há-de ultrapassar para sempre o entendimento humano.

Quem foi o profeta Daniel que predisse a chegada de Jesus seicentos anos antes?

Diz a Bíblia que ele era descendente de uma nobre família do reino de Judá e que teria sido deportado para a Babilónia e alio agregado aos pagens do rei Nabucodonosor que ali terá escrito o seu Livro que se entre os capítulos 1 a 6 se serviu de histórias antigas que pertenciam a um género tradicional de literatura didáctica e educativa, então muito em voga. 

Daniel tinham o objectivo de inculcar espe­rança e fé nos judeus perseguidos, e assim, nos capítulos 7 a 12 fê-los crer no género apocaliptico, também frequente naquele tempo em que as revelações de Deus aos homens iam tomando forma, fazendo-a diferir da literatura bíblica tradicional, reportando-a aos tempos do Exilio, afirmando os exegetas que a literatura de Daniel faz a ligação entre o Antigo Testamento e o Novo, demonstrando que entre os dois há uma continuidade de ideias.

 Eis, porque, o seu texto faz parte da visão de alguém que ele viu entre nuvens como "um Filho do Homem", razão por que se considera o Livro de Daniel entrosado nas concepções messiânicas, fazendo que aquele "Filho do Homem" viesse  a ter na Cristologia um importante contributo para a sua compreensão, tanto na letra como no Espírito, motivo suficiente para que, ainda hoje, se possa afirmar que se no tempo em que o judaísmo do tempo de Jesus esperava um Messias-Rei, triunfador dos intrusos romanos da sua terra, Jesus se tenha apresentado como Messias-Servo e sofredor na sua humanidade de um "Filho do Homem" que Daniel viu vir do Céu "para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído".

Ou seja , Ele seria um dominador, mas bem diferente daquele que os judeus esperavam, porque, embora, Rei  "o seu reino jamais será destruído", por não ser um reinado efémero como o reinado vulgar dos homens.

E como "Posfácio" deste apontamento tendo em conta a perplexidade que isto dá em algumas mentes mal esclarecidas ou que fazem deste título um ataque ao Mistério da divindade de Jesus, retenha-se esta frase dita por Ele mesmo e relatada por S Mateus, (18, 22) já referida: "Reunindo-se eles na Galileia, Jesus lhes disse: "O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens", ou seja, neste passo, Jesus que conhecia como ninguém as profecias que falavam da vinda da sua Pessoa, apontou directamente para a visão de Daniel, porquanto, "o Filho do homem" a que Ele se refere para ser imolado "nas mãos dos homens" era o Deus feiro Homem que Daniel prefigurara.

Tudo isto é um Mistério?

É evidente que o é, mas há que ter a humildade de o entender, tal qual ele é, por ele pertencer àquela parte incognoscível que está vedada ao homem por mais inteligente e sábio que seja o seu pensamento.

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