Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta Antigas gravuras e tipos urbanos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Antigas gravuras e tipos urbanos. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O Arco das "Portas do Mar"

O Arco das Portas do Mar
in, "CANTOS DE LISBOA" Festas da Cidade de 1935
Quadras de Castelo de Morais
...................................................................

Naquele já longínquo ano a publicação "CANTOS DE LISBOA" brilhou pelo seu oportunismo e beleza, quer dos versos dedicados a cada um dos "Cantos de Lisboa" que nela figuram como da beleza das gravuras.

Estas "Portas do Mar" em Alfama, junto ao Terreiro do Trigo, fizeram parte das 46 portas da denominada "cerca nova" mandada construir pelo rei D. Fernando entre 1373 a 1375, constituindo aberturas por onde se penetrava nesta vetusta localidade de Lisboa, e cujo primeiro nome foi: "Portas Novas do Mar".

O poeta não esqueceu estas portas nas quadras que lhe dedicou, deixando na primeira quadra todo o desejo da mulher amada, antevendo a saudade que iria sofrer com a partida do marinheiro depois de passar aquelas Portas "Sempre abertas para a barra", desejando ter, se tal fosse possível, a possibilidade humana de as fechar!

Meu amor é marinheiro.
Falo-lhe às Portas do Mar…
Quem me dera ter uns braços
Com força para as fechar.

Sempre abertas para a barra,
Abertas para os meus ais.
E os meus braços sem  poderem
Fechá-las para nunca mais… 


http://geo.cmlisboa.pt/ (parte da cerca moura)
(as "Portas do Mar" estão identificadas pelo nº 2)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

"A vendedeira de laranjas"

A VENDEDEIRA DE LARANJAS
Aguarela de Roque Gameiro
in, Revista "Branco e Negro" de 3 de Outubro de 1897
.....................................................................................................

Não raro, ainda hoje, no bairro onde habito, em locais bem marcados e, sobretudo, onde é costume passa gente, existem os vendedores ambulantes que oferecem as suas mercadorias hortícolas, denunciando que elas são frutos recentes das suas pequenas explorações agrícolas, muitas vezes, existentes nos próprios quintais das casas onde habitam.

Sentam-se - quando podem - e exibem ramos de salsa, coentros, cabeças de nabos, rabanetes, morangos, framboezas, couves, fruta de várias espécies, onde não faltam as laranjas que inspirou a aguarela de Roque Gameiro (Alfredo).

Este pequeno comércio - ilegal perante o Fisco - e, portanto, ambulante, quando passo por ele deixa-me sempre a pensar na pobreza daquela gente que vende produtos tão ricos, quantas vezes retirando-os da mesa onde comem os seus filhos, apenas para poderem angariar algum dinheiro para suprir as necessidades diárias de casas pobres, de que parece um exemplo A VENDEDEIRA DE LARANJAS de Roque Gameiro, em cujo rosto e na mão que ostenta uma laranja se lê o desejo de chamar a atenção de quem passa.

É isto que eu mesmo sinto quando passo pelas vendedeiras ambulantes do meu bairro ao ver o seu ar simples, e o olhar empobrecido de quem sem roubar o alheio, faz pela vida, com a honestidade dos que vendem - parecendo agradecer àqueles que lhe compram o que apregoam - sem, como eu tenho visto, não regatear o preço que é sempre pequeno para poder ser vendido.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Pregões... que já não há!

Gomes Leal 
(caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro)


in, Revista "ARGUS" de Maio de 1907
........................................................................

Que saudades eu tenho dos velhos pregões que enchiam, na minha juventude, as ruas de Lisboa!

Oh! viva da costa.
Olha a sardinha, que é vivinha da costa.
Ó freguesa leve-as todas. É fresquinha a minha sardinha.
Fava rica, que quer almoçar.
Quer figos quem quer almoçar?
Olha o figo da capa- rôta.
Olha a laranja é da baía.
Olha o feijão carrapato, há alface, há repolho.
Oh freguesa veja os meus tomates .
Olha a boa couve lombarda, é para o bacalhau.
Olha o alho reconchudo.
Olha o gelado, fruta oh chocolate, há baunilha .
Olha o rajá fresquinho.
Olha o cone sorvete
Cá está o amolador, concerto guarda chuvas.
Tachos panelas e alguidares, olha o funileiro á porta.
Está cá o ferro velho .
Quem tem trapos, ou garrafas p'ra vender.
Olha o Século, olha o Diário de Noticias .
Olha a Capital, Republica ó Popular.
Diário de Lisboa, olha o Popular, trás o desastre.
Olha a sorte grande, amanhã anda a roda.
Só sai a quem joga, olha a sorte grande.
Cá está o petrolino.

E não me recordo de outros mais, mas ficam estes para matar a minha saudade e homenagear o Poeta Gomes Leal, que de um modo literário como ele soube fazer, até viu e sentiu que as musas, essas entidades mitológicas, para além da capacidade de poderem inspirar a arte, apregoavam uvas e maçãs!

O que pode fazer a imaginação humana!

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Mudanças "a pau e corda"...

in, "Ilustração Portuguesa" de 1 de Julho de 1907
..............................................................................................................

As mudanças do mobiliário "a pau e corda" - quando se mudava de casa - no início do século XX, na Lisboa antiga, era assim e, pela sua dureza constituía um trabalho esforçado do qual a gravura nos dá uma ideia bem precisa com estes quatro carregadores que faziam por etapas, conforme a distância a percorrer aquela tarefa.

Quase sempre, cabia a galegos emigrados e residentes na velha Lisboa, este traslado das mobílias, tarefa que faziam, muitas vezes, ao som de cantigas de trabalho que erguiam entre eles, quando se tratava de incentivar sempre que o terreno se inclinava e nos momentos de paragem para um breve descanso, transformando a cantiga numa ordem.

A revista "Ilustração Portuguesa" que no tempo publicou a foto que se reproduz dá-nos conta que era hábito as mudanças de casa ocorreram em meses estivais - como Junho - acrescentando que o lisboeta "tem sobre si um encargo mais pesado que um mundo: é o de arranjar carroças ou galegos que lhe transportem a mobília de um extremo a outro da cidade".

Os galegos que naquela época constituíram em Lisboa uma colónia apreciável dedicando-se a estes serviços e outros ao negócio de taberna, eram normalmente naturais de Tuy ou de Santiago de Compostela.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Antigamente era assim...

in, Revista "O Occidente" de 1 de Junho de 1893
..........................................................................................................

Quase a dobrar o século XIX, a Revista "O Occidente" com a publicação desta sugestiva gravura mostra à saciedade numa rua de Lisboa como era vendido o leite ao domicílio, com as pachorrentas vacas leiteiras aguardado a freguesia servida "in loco" pelo pastor que fazia o papel de leiteiro, servindo o leite morno, onde faltavam cuidados higiénicos que nos tempos de hoje eram impensáveis.

Ao olhar a velha gravura que se reproduz o meu pensamento voou célere para a minha infância passada na Rua de Centeeira - ainda existente - e na qual, de fio a pavio, a D. Sara servia os fregueses do leite que ia buscar a uma das quintas próximas, já com outros cuidados higiénicos no atendimento ao freguês, mas recolhido na quinta onde o ia buscar por processos semelhantes aos representados na gravura.

Como isto vai longe... e como tudo está tão presente neta máquina admirável que é o nosso cérebro, o arquivo privilegiado das nossas recordações infantis!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A "leiteirinha"... de Gomes Leal e que, ainda, foi minha!

Gomes Leal
Caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro
in, livro "O Anjo Rebelde" de Júlio Dantas

Pregões matinais

Passo ás vezes na cama um dia inteiro
de papo para o ar, como um madraço ...
fumando qual filósofo ou palhaço,
- sem mulher ... sem cuidados ... sem dinheiro!

É de manhã então que me é fagueiro
ouvir trinar no cristalino espaço
um pregão mais macio que um regaço,
que se esvai a carpir ... como um boieiro ...

De manhã é que passa a leiteirinha,
com seu pregão chilrado de andorinha,
passam varinas de gargantas sãs ..

E ao escutar tais cantantes semifusas,
eu creio que oiço ao longe as frescas Musas
- a vender uvas e apregoar maçãs.

Gomes Leal
Mefistófeles em Lisboa
in, Revista "Argus" Maio de 1907

....................................................................................................................

Ainda me recordo de alguns pregões de antigamente que, eram costumes de uma certa Lisboa desaparecida.

Tinham eles a graça de encher as ruas e de lhes dar no bulício rotineiro o tom àlacre daquele modo característico como os comerciantes ambulantes anunciavam a mercadoria que traziam para vender, pelo que, neste pormenor citadino, Gomes Leal se parece a Cesário Verde pelo mesmo amor às coisas da Lisboa de então, que são hoje, para os que, ainda as viveram, um grata recordação.

Também eu me recordo da minha leiteirinha - a D. Sara que Deus lá tem - que vinha todas as manhãs a minha casa, numa rua que ainda existe, lá para as bandas dos Olivais, vender o leite ainda morno da ordenha, de uma quinta - que já não existe e onde pastavam vacas - e que ela anunciava com  seu pregão chilrado de andorinha, como diz Gomes Leal, para ser o meu primeiro regalo da manhã.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Obras no Porto de Leixões no século XIX


O guindaste Titan
Obras no Porto de Leixões
in. Revista "Occidente" de 1 de Março de 1886


Desenhado pela pena de um ilustre colaborador da Revista "Occidente" esta revista publicou com o pormenor que o guindaste Titan - uma máquina prodigiosa para aquele tempo - suscitou.

Diz assim o relato:

 É uma verdadeira monstruosidade, um dos grandes arrojos da mecânica moderna, o imenso guindaste  que está funcionando nas obras do porto de Leixões e que se destina a colocar blocos artificiais do peso de 50 toneladas no fundo do mar, para a construção dos molhes.

 O ilustre publicista o sr. Oliveira Martins, falando deste poderoso aparelho, comparou-o à torre dos Clérigos, deitada de costas.

Efectivamente, nada mais imponente do que ver esta máquina a extraordinária deslisar serenamente pelos carris em que assenta, girar em todas as direcções com a maior facilidade, erguer sern o menor esforço pesadíssimas massas e ir submergi-las no fundo do oceano.
Para melhor se avaliarem as dimensões e estrutura do Titan, que o Occidente hoje reproduz em gravura, damos aqui as seguintes minudências:

O grande braço mede de comprimento 68,75m, dividundo-se para a frente em 46 metros e para a rectaguarda ou culatra em 22,75m. O contrapeso nesta última pane é forrmada por um maciço de alvenaria. A altura do braço no centro, é de 5 metros e meio, na culatra, de 3 metros e na extremidade oposta de 80 centímetros.

Esse braço repousa sobre uma torre assente num plano circular, ao qual imprimem o movimento circular 16 rodas de aço, agrupadas quatro a quatro. Pelo centro de um veio que liga o braço à torre, passa o eixo vertical que dá movimento ao aparelho de translação do guindaste. O plano circular tem 9,20m de diâmetro.

Toda a parte superior do guindaste assenta sobre duas paredes paralelas apoiadas em 32 rodas, colocadas em dois grupos de oito rodas de cada lado, as quais giram em quatro carris de aço, separados cada par por uma entrevia de 8,70m.

No cimo do braço, parta o lado da culatra, estão as caldeiras de vapor da força de 50 cavalos, bem como uma máquina que comanda todo o mecanismo do Titan. Um só homem, movendo as alavancas põe em acção todos os membros do imenso aparelho.

O peso total do guindaste é de 450 toneladas de ferro e o braço tem força para pegar em 50 toneladas até 27 metros do centro da trave e em 15 toneladas até 47 metros.
O tempo gasto em cada operação é de 16 minutos e 20 segundos, divididos do seguinte modo: 30 segundos para erguer um bloco de 50 toneladas a 20 entimetros acima do solo; 550 para o descer à profundidade de 8 metros; 250 para subir de novo a cadeia e aparelho de suspensão: 150 para engate e desengate.

Informa a Revista "Occidente" que esta máquina que assombrava que a via trabalhar foi fabricada nas oficinas Fives, um famoso Grupo Industrial sediado em  Lille, em França, ainda hoje existente. 


Titan (ou Saturno VI) é a maior lua de Saturno.  
Pela sua densidade foi a este fenómeno atmosférico que os fabricantes franceses desta máquina recorreram para lhe dar o nome, não só pelo facto dela girar rotativamente, como ele faz à volta do planeta Saturno, mas pela densidade da sua sólida construção metálica.

Esta máquina revela, como desde sempre, o homem se tem esforçado pelo domínio das coisas, cumprindo, aliás, um mandato do Criador que para tanto colocou ao seu dispor os materiais naturais, que ontem como hoje continuam a dar resposta à sua ânsia de saber e de projectar sobre a matéria inanimada a força do seu espírito e o génio da sua inteligência.

Ficamos assim a saber que no fundo do Porto de Leixões estão colocados maçiços de 50 toneladas que a Titan proporcionou que ali fossem lançados, assegurando, a segurança do cais de então e, possivelmente, ainda hoje, a beneficiar dos trabalhos então realizados por esta máquina prodigiosa que Oliveira Martins não se esqueceu de a lembrar como a Torre dos Clérigos deitada de costas, tal era a sua envergadura.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Os mestres calafates


"Os calafates de Setúbal"
Gravura de J. Vaz  publicada pela Revista "Occidente" 
em 1 de Fevereiro de 1888


O calafate é uma profissão desaparecida e que remonta aos tempos da construção naval das naus portuguesas que se fizeram ao mar à descoberta de novas terras.
Na gíria marítima eram operários especializados - e assim tratados por "mestres" - a quem cabia o zelo de vedar com estopa de algodão embebida numa mistura de alcatrão as fendas entre tábuas dos navios por forma a evitar a entrada da água.

Olhando a gravura e a sua data, existiu em Setúbal um famoso calafate, António Maria Eusébio (1819-1911) conhecido na cidade por "O Calafate", uma personagem que juntou à sua profissão a arte de escrever versos populares que publicou aos 84 anos de idade.

Nunca saberemos se J. Vaz, o autor da gravura se inspirou nele e na sua profissão para nos dar o sugestivo quadro que se reproduz, mas sabemos que os seus versos de "cantador popular" reunidos apareceram em 1901 sob o título: "Versos do Cantador de Setúbal" que mereceram um "Prefácio" de Guerra Junqueiro e que a cidade honrou este homem bom, em 1968 com um busto em bronze e que se encontra no Parque do Bonfim.


.
E é neste desfiar do novelo das ideias que surge o insigne Poeta Cesário Verde, que na sua poesia tendo sido um acrisolado "pintor" de quadros urbanos não esqueceu "os mestres calafates", e como testemunho do amor que tinha por eles - e outras profissões de que nos fala - fá-los viver no seu poema AVE-MARIAS, onde eles surgem de volta do trabalho, dando-nos deles uma "pincelada" breve, mas intencional, como aliás, aconteceu com todas as figuras que nos deixou imorredoiras, nos seus versos.

AVE-MARIAS

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!



Os "mestres calafates" já se foram embora, mas deles ficou a bela recordação dos homens bons desta terra que na humildade das suas profissões conseguiram deixar para os que sucederam - e com toda a justiça - lembranças que apagadas pelo devir dos tempos, não podem deixar de merecer a homenagem que lhes é devida, tal como a que lhe prestou Cesário Verde e a municipalidade da cidade de Setúbal a António Maria Eusébio "O Calafate"


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Antigamente, era assim.



Foto captada em "Rstos de Colecção"


Era assim no início do século XIX.

O que a foto representa eram e com toda a propriedade os chamados "hipomóveis" enquanto veículos de tracção animal que a Câmara Municipal de Lisboa dispunha, ora para carrear os lixos da cidade, ora para transportar mercadorias ou abastecimento de água a bairros periféricos, como Marvila, Olivais, Carnide e outros.

De acordo com informação obtida a foto que se apresenta tem como cenário o Cais do Sodré, pelo qual se pode ver, transcorrido um pouco mais de um século, a transformação não só dos costumes em que o animal desempenhava um acção fundamental, como no arranjo da via pública, mantendo-se na sua arquitectura austera o edificado.

O progresso imporia, porém as suas leis neste campo tão importante da vida citadina, como era - e são - os transportes mais variados, quer da limpeza urbana, como os restantes.

A ter em conta um registo histórico fidedigno, sabe-se que:

As primeiras viaturas mecânicas adquiridas pelo Município datam de 1910, mais concretamente 2 máquinas de varrer, então adquiridas em Inglaterra.

As primeiras viaturas ligeiras apenas foram adquiridas em julho de 1920, para “poder deslocar a todos os pontos da cidade os vereadores e seus vogais”, segundo um novo modelo de gestão camarária então aplicado, que defendia uma maior proximidade dos responsáveis políticos com os trabalhos em curso no terreno.

Acompanhando a evolução dos tempos, a Câmara Municipal de Lisboa intensificou o processo de mecanização da frota a partir de 1922, apostando nas mais recentes inovações no setor para melhorar a sua capacidade de carga e polivalência de funções.

in, sítio da CML 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os mestres calceteiros (2)






Fotos capturadas a partir do Arquivo Municipal de Lisboa



Profissão esforçada de um tempo que lá vai e que de ponta a ponta da rua ocupava em toda a roda do dia os mestres calceteiros em posições de trabalho duríssimas - na actualidade, menos desgastantes, pelo auxílio mecânico  das máquinas de compactação dos pavimentos e outras - os calceteiros de Lisboa, no tempo das pavimentações das grandes ruas e avenidas do início do século XX,  agora recobertas pelo betuminoso, escreveram páginas de um trabalho manual que lhes exigiu, para além do cansaço físico, o saber do alinhamento das pedras, quer fosse nas zonas destinadas aos rodados do trânsito da época, quer das valetas para o escoamento das águas pluviais, quer dos passeios pedonais.

A história não apagará a saga destes mestres calceteiros que trabalhavam alinhados no sentido transversal da rua, vendo um o trabalho do outro, por forma a dar ao pavimento a forma do seu próprio alinhamento físico, tendo a dirigi-los o capataz de olhar atento à obra que ia progredindo nivelada com os batimentos dos pesados maços de madeira que aqueciam e calejavam as mãos destes trabalhadores que com a sua obra alteraram a fisionomia das ruas e avenidas de Lisboa.

Cesário Verde, o poeta da Lisboa que se erguia buliçosa, com os seus trabalhadores empenhados nas mais diversas profissões, mereceu que ele, no poema CRISTALIZAÇÕES dedicasse, logo no início um apontamento sobre os mestres calceteiros que ele imortalizou deste modo:


Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha, os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua.
Como as elevações secaram do relento,
E o descoberto sol abafa e cria!
A frialdade exige o movimento;
E as poças de ar, como em chão vidrento,

Reflectem a molhada casaria.

.......................................................
Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!
Tomam por outra parte os viandantes;
E o ferro e a pedra - que união sonora! -
Retinem alto pelo espaço fora,
Com choques rijos, ásperos, cantantes.
Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,
Cuja coluna nunca se endireita,
Partem penedos; cruzam-se estilhaços.
Pesam enormemente os grossos maços,
Com que outros batem a calçada feita.
A sua barba agreste! A lã dos seus barretes!
Que espessos forros! Numa das regueiras
Acamam-se as japonas, os coletes;
E eles descalçam-se com os picaretes,
Que ferem lume sobre pederneiras.

.......................................................

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Os aguadeiros





O aguadeiro chegou a ser uma profissão em Lisboa, devidamente credenciado pela edilidade a quem pagava uma taxa.

Tinham por missão a venda de água de porta em porta, anunciando-a com o costumado pregão
. Á... a...úú!
Ou, então, por este:
- À...á...áuga!

A maioria dos aguadeiros de Lisboa eram galegos, normalmente associados em corporações, que segundo um testemunho se vangloriavam da profissão, dizendo em ar de troça: "a água é deles e nós é que lha vendemos!"

Sendo o chafariz público o local de abastecimento, as rivalidades e rixas eram vulgares, partindo sempre dos preços díspares que os aguadeiros cobravam aos fregueses, pelo que o Senado da Câmara em 11 de Julho de 1780, com o intuito de estabelecer alguma ordem pública publicou um edital para o pagamento da água levada a casa, consoante esta fosse transportada em quartas ou barris, estabelecendo preços diferenciados para Verão e Inverno.

Quando findava o dia de trabalho eram forçados a transportar para suas casas os pipos ou barris cheios de água como precaução, na eventualidade da existência de algum incêndio a que tinham de acorrer.

Diz-se que em meados do século XVIII, havia cerca de 200 aguadeiros e depois da conclusão da obra do Aqueduto das Àguas Livres, com a profusão de chafarizes distribuídos pela cidade, este número chegou a cerca dos 3.000.

Ainda em pleno século XX, antes da água canalizada ter entrado nas habitações, esta profissão era exercida em Lisboa, com grande incidência no Bairro de Alfama, servindo como toma de água o Chafariz de Dentro e o Chafariz del-Rei, onde se reuniam as comunidades de homens e mulheres,

O transporte era feito à cabeça, por mulheres com o pipo apoiado na rodilha ou ao ombro, pelo homem.


sábado, 12 de abril de 2014

A "mulher da fava rica"



Captura de imagem do Arquivo Municipal de Lsboa


O pregão  "fava-riiiiiica" que enchia determinadas ruas de Lisboa extinguiu-se com o início do século XX. 
Era cantado por mulheres que em plena rua vendiam esta saborosa sopa muito do apreço popular, nutritiva e rica pelo elevado teor de proteínas.
A sopa era cozinhada a partir da fava seca que era colocada um dia inteiro de molho e que depois de cozida era refogada com azeite, alhos e pimenta e sal q.b.
Constituiu a sua venda um dos últimos pregões de Lisboa.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Os mestres calceteiros



Foto do Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Lisboa


Foi em tempos uma dura profissão, bem documentada na velha gravura representando um grupo de calceteiros entregues à tarefa de calçar as ruas com os paralelipípedos de granito com os quais chagaram a encher uma grande parte de Lisboa, em que a força dos braços partia, colocava e ajeitava  a pedra sobre a base de areia ou caliça, na posição incómoda - de còcoras e até de joelhos - para depois a calcarem com o peso dos grossos e pesados maços de madeira que ao fim do dia eram um motivo de cansaço, mas também de alegria pelo trabalho realizado.

Esta velha profissão - que hoje sofre o seu esbatimento por força dos  tapetes betuminosos que cobrem as ruas e avenidas não está extinta , devendo, até a arte que encerra e é um ex-libris de Lisboa, merecer a atenção dos responsáveis - mereceu na época, pela dureza do trabalho que era levado a cabo, que o Poeta Cesário Verde lhe dedicasse uma agrande parte do poema "Cristalizações", onde lemos e meditamos:


Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha, os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua.

Como as elevações secaram do relento,
E o descoberto sol abafa e cria!
A frialdade exige o movimento;
E as poças de ar, como em chão vidrento,
Reflectem a molhada casaria.

Em pé e perna, dando aos rins que a marcha agita,
Disseminadas, gritam as peixeiras;
Luzem, aquecem na manhã bonita,
Uns barracões de gente pobrezita
E uns quintalórios velhos com parreiras.

Não se ouvem aves; nem o choro duma nora!
Tomam por outra parte os viandantes;
E o ferro e a pedra - que união sonora! -
Retinem alto pelo espaço fora,
Com choques rijos, ásperos, cantantes.

Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,
Cuja coluna nunca se endireita,
Partem penedos; cruzam-se estilhaços.
Pesam enormemente os grossos maços,
Com que outros batem a calçada feita.

A sua barba agreste! A lã dos seus barretes!
Que espessos forros! Numa das regueiras
Acamam-se as japonas, os coletes;
E eles descalçam-se com os picaretes,
Que ferem lume sobre pederneiras.
.................................................................................................

Bom observador desta e outras profissões citadinas, o Poeta começa pelo relato da posição em que os calceteiros trabalhavam - de cócoras e alinhados - sem deixar de referir a lentidão do trabalho motivada pelo acasalamento das pedras.
Ao dar-lhes o apodo de terrosos, pela sujidade do trabalho, quis Cesário dizer que os calceteiros se confundiam com o solo.
Mas não se pense que o termo grosseiros era um acinte ou um precipitado julgamento do operário que ele imortalizou com a sua poesia - algo que Cesário nunca faria - mas, antes, porque, o aspecto espelhava a rudeza do trabalho que as suas mãos reflectiam à saciedade deixando ver a marca do esforço e, até, quantas vezes o desalinhamento dos ossos.

Maravilhosas mãos grosseiras que atapetaram as ruas da cidade!

Cesário que foi um observado atento e dedicado ao cantar os rapagões calceteiros deixou deles um retrato fiel, que pela beleza da forma e da autenticidade, repetimos, para que ao relembrá-lo, meditemos nestes esforçados trabalhadores: 

(...) E os rapagões, morosos, duros, baços,
Cuja coluna nunca se endireita,
Partem penedos; cruzam-se estilhaços.
Pesam enormemente os grossos maços,
Com que outros batem a calçada feita.

Grande homenagem ao calceteiro fez Cesário Verde, cuja coluna nunca se endireita!
Muito pequena é a minha homenagem. 
Mas fica feita.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O engraxador


Engraxador
Captura de foto do Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa


De acordo com a ficha idetificadora a foto reporta-se ao ano de 1948 e fi seu autor o fotógrafo Pozal, Fernando Martinez (1899-1971) e como local uma rua de Lisboa, não declarada.

O engraxador foi uma figura típica dos bairros lisboetas que percorreu de caixa ao ombro, com a sapateira entalada no ombro nas suas deslocações para os lugares estratégicos de todos conhecidos.
A profissão - que o chegou a ser, até a ser exercida em lojas com alguma profusão - está, hoje, em vias de extinção, restando, apenas, os que na gíria popular bajulam os chefes e quejandos, baptizados por "engraxadores", por puxarem o "lustro" da lisonja fácil e desleal, na mira de atingirem inconfessáveis benesses.
Restam, pois, esses, que os simpáticos e antigos profissionais são uma raridade nas ruas de Lisboa.
Prestemos atenção aos versos de António Aleixo dedicados aos tais, que continuam e hão-de continuar a existir enquanto a sociedade não crescer um pouco mais na moral e na honra, coisas sérias da cidadania, que eles não se coíbem de ofender a qualquer passo.

São estes os "engraxadores" do poeta algarvio:

Engraxadores sem caixa
Há aos centos na cidade
Que só usam da tal graxa
Que envenena a sociedade.

        

A diligência para Carnaxide



Diligência para Carnaxide em 1908


Captura de imagem do vol. I - nº 3 do Boletim Cultural e Estatístico 
da Câmara Municipal de Liboa referente aos meses Julho/Setembro de 1937


É uma foto histórica bem demonstrativa de como na época se vencia o trajecto entre a planura de Algés e a serra da Carnaxide, que na então gozava de grande fama popular advinda de ter ser construida em 1893 a Igreja de S. Romão em honra de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, que segundo a lenda teria aparecido numa gruta no ano de 1822.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Pedindo para as almas



Título da foto: Pedindo para as almas
  captura de uma imagem do arquivo fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa 

De acordo com a ficha documental da CML,  a foto pertence a fotógrafo não identificado e foi executada em 1900, apresentando a Rua da Esperança - tendo ao centro da foto a casa onde viveu o Almirante Gago Coutinho  - e a Calçada do Marquês de Abrantes, ambas da freguesia de Santos - o - Velho, vendo-se o seguinte equipamento urbano: o marco do correio, o pilarete circular de cantaria, o gradeamento de ferro e o característico candeeiro de iluminação pública, da época.
Os dois tipos populares são distintos quanto ao trajes e posturas, apresentando o elemento activo - o que pede para as almas, de saco na mão - envergando o traje que o identifica como alguém pertencendo a uma qualquer Irmandade eclesial e o outro, de traje vulgar identificado como um homem comum, com ar de quem ouve e reflecte sobre o pedido que lhe é feito.


Pedir esmola para as almas do Purgatório em público como a foto demonstra, acontecia em Lisboa, ainda no início do século XX, cumprindo-se na cidade o antigo hábito que era comum no interior do País. Hoje, este peditório está completamente abandonado, reportando-se ao interior dos Templos, salvo as raras excepções que continuam a acontecer.

Acontecia, normalmente, no tempo da Quaresma,  a um dos Domingos do Tempo Pascal.

Independentemente da esmola em dinheiro, nas vilas e aldeias havia a oferta de géneros alimentícios já confeccionados ou produtos das hortas, como milho e trigo.
O produto das espécies era depois vendido em hasta pública nos adros das Igrejas e o resultante do leilão era entregue aos Párocos que o anunciavam às comunidades paroquiais, destinando-o à celebração de missas pelos fiéis defuntos.

Não nos pareça, hoje, esta acção um desconchavo, porque manda a racionalidade do homem situar-se em cima do tempo que passou e respeitar os hábitos e os compromissos que neles coabitavam. 
Era assim naquele tempo: um profundo respeito pelas almas dos falecidos em que esta - espírito que é - era considerada imagem de Deus em detrimento do corpo, porquanto, na linha eclesial, o corpo não é imagem de Deus, porque sendo Deus um puro Espírito não tem corpo.
É, ainda, assim, no tempo actual.
Se se abandonou, ou quase, o hábito de pedir para as almas no espaço público, o povo crente continua a ter pelas almas a certeza que elas sobreviveram ao poder da morte corporal.

Tenhamos, pois, presente, que o nosso corpo é perecível enquanto a alma subsistirá na eternidade e que as Missas que se celebram pelos falecidos reflectem que a alma - sem nunca deixar de existir - pode ter perdido a graça santificante e estar espiritualmente morta. Tome-se como exemplo um ramo cortado do tronco da árvore; existe, mas está morto, pelo que para voltar a receber a seiva tem de ser enxertado, assemelhando-se esta operação do agricultor à Missa celebrada pelo Padre por intenção da alma.


sexta-feira, 28 de março de 2014

O vendedor de castanhas



O vendedor de castanhas assadas é um dos tipos populares de Lisboa, ainda nos nossos dias.
Sempre que chega o Outono -  que já se foi, por agora, na roda do calendário - aparecem os simpáticos fogareiros, hoje mais sofisticados que os da antiga gravura que se publica, captada do Arquivo Municipal de Lisboa (1960), porquanto, hoje, não apenas o fogareiro mudou de aspecto, mas por força da ASAE, o antigo cartucho de papel da lista telefónica - de preferência amarelo -  foi substituído por um invólucro mais higiénico, ainda que o outro, que se conste, não matou ninguém, até porque a casca do fruto mesmo depois de assado o continuava a proteger.


As castanhas são os frutos capsulares dos ouriços do castanheiro.
Chegaram a Portugal a partir da Ásia e do Cáucaso, e tem estado presente no Ocidente, segundo se crê, há cerca de 100 mil anos com o seu elevado poder calórico que desde o homem da Pré-História, até hoje,o tem ajudado na sua alimentação, sabendo-se que tano o povo grego com  o romano a conservavam envoltas em mel para lhe conservarem o sabor do montado, fazendo-as incluir nos seus lautos banquetes.

Na Idade-Média este apetecido e rico fruto fez parte de Mosteiros e Abadias, onde em muitos deles, a castanha era moída, tornando-se deste modo um farinácio importante e determinante nas suas iguarias, tendo o Renascimento ganho com ela novas formas de requintado aspecto com que chegou a Portugal com as Invasões Francesas.

Hoje - como os tempos mudam - é considerada comumente, uma guloseima da época.


Guloseima, que se come, não só assada, como cozida, mas devendo a sua aura popular aos assadores que percorrem as ruas de Lisboa, perfumando-as com o cheiro apetitoso que é adivinhado de longe pela fumo que se enovela, ao grito característico de "quentes e boas" - o que não é desmentido pelos fregueses mais esquisitos.

Pelo S. Martinho - 11 de Novembro - há restaurantes que no fim do almoço e antes da toma do tradicional café, colocam na mesa um pratinho de castanhas assadas.

E não esqueçamos a sabedoria popular que diz que em dia de S. Martinho não pode ser dispensado: "lume, castanhas e vinho",  ou ainda esta: "é com água-pé, castanhas e vinho que se faz um bom S. Martinho", o que se pode acompanhar, dizendo que nas ruas de Lisboa, o primeiro anúncio do S. Martinho é feito todos os anos pelo simpático e bem característico vendedor de castanhas, que o fadista Carlos do Carmo canta deste jeito, enaltecendo o fruto milenar e o seu assador, a que chama com ternura: O Homem das Castanhas.

Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.

É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.

A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.