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domingo, 4 de dezembro de 2016

Pregões... que já não há!

Gomes Leal 
(caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro)


in, Revista "ARGUS" de Maio de 1907
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Que saudades eu tenho dos velhos pregões que enchiam, na minha juventude, as ruas de Lisboa!

Oh! viva da costa.
Olha a sardinha, que é vivinha da costa.
Ó freguesa leve-as todas. É fresquinha a minha sardinha.
Fava rica, que quer almoçar.
Quer figos quem quer almoçar?
Olha o figo da capa- rôta.
Olha a laranja é da baía.
Olha o feijão carrapato, há alface, há repolho.
Oh freguesa veja os meus tomates .
Olha a boa couve lombarda, é para o bacalhau.
Olha o alho reconchudo.
Olha o gelado, fruta oh chocolate, há baunilha .
Olha o rajá fresquinho.
Olha o cone sorvete
Cá está o amolador, concerto guarda chuvas.
Tachos panelas e alguidares, olha o funileiro á porta.
Está cá o ferro velho .
Quem tem trapos, ou garrafas p'ra vender.
Olha o Século, olha o Diário de Noticias .
Olha a Capital, Republica ó Popular.
Diário de Lisboa, olha o Popular, trás o desastre.
Olha a sorte grande, amanhã anda a roda.
Só sai a quem joga, olha a sorte grande.
Cá está o petrolino.

E não me recordo de outros mais, mas ficam estes para matar a minha saudade e homenagear o Poeta Gomes Leal, que de um modo literário como ele soube fazer, até viu e sentiu que as musas, essas entidades mitológicas, para além da capacidade de poderem inspirar a arte, apregoavam uvas e maçãs!

O que pode fazer a imaginação humana!

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