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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

"Litania de Natal" - um poema de José Régio


Adoração dos Magos (Pintura de Domingos Sequeira)

Litania do Natal

A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus...»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus...»
Que então me recordei do santo dia.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus...»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.

E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»

De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus...»

E assim, mais uma vez, Jesus nascia.

José Régio, in 'Antologia Poética'
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Nesta semana que termina com a celebração do Dia de Natal, foi minha intenção em cada dia lembrar Aquele Menino Jesus esperado durante séculos - e um dia se tornou Deus connosco - tendo sido em Nazaré um menino igual aos outros pelo nascimento natural, mas diferente, porque por ter nascido de um Acto que foi e vai continuar a ser o Grande Mistério a que o racional do homem não sabe responder, que não seja, admirar a sobrenaturalidade da sua condição a que um dia, André Malraux, perguntado sobre Ele, apenas soube dizer que o Menino cujo nascimento vamos lembrar de novo, disse: 

É um anarquista que teve êxito, o único.

Podemos interrogar-nos sobre o nome de anarquista dado ao Menino que se tornou e ficou conhecido para sempre como Jesus Cristo, mas ao pousar o pensamento na "Litania de Natal" de José Régio, ao sentir que o Poema reflecte o significado que devem ter todas as Orações em que se pede a Deus - ou aos Santos - a sua intercessão pelo bom êxito das nossas vidas, o que ressalta é o facto de bastar aos homens - como o fazia José Régio - implorar o nome de Jesus para que Ele nascesse e assim, acontecesse Natal em cada dia - e cada dia - fosse dedicado àquele anarquista que  nasceu para por em ordem a confusão política do seu tempo e impor como regra - que devia reger a ordem de todas as coisas - o Amor dos homens entres si e de cada um por Deus.

Lembrar, depois, que é esta falta de Amor pelo Menino-Deus que vamos lembrar, que, ainda hoje, o Mundo está cheio de confusões políticas e sociais, quando devia ser naquilo que representa a lembrança do seu nascimento e o que resultou d'Ele ter nascido - que embora com as diferenças naturais dos homens devia ser o cimento de uma união centrada no respeito e amor humano que cada um deve ao outro - e, neste caso, para que tal se cumprisse, a anarquia seria um bem social, pelo que olhando por este prisma a frase de André Malraux faz sentido.


O Menino Jesus que veio a ficar conhecido por CRISTO, veio ao Mundo para pugnar pela união de todos os homens e se, para este fim se fez anarquista ao romper com poderes ditatoriais instituídos, como acontecia com os fariseus, saduceus e outros grupos anti-sociais, agindo  ao contrário de Lei que trazia para ser cumprida, bem merece por isso ser lembrado o seu nascimento, porque Ele trazia a Lei Maior - A LEI DO AMOR ENTRE TODOS OS HOMENS - e é essa que ainda falta cumprir... e para que ela se cumpra. se for preciso, que todos sejamos anarquistas.

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