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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Festa da Imaculada Conceição


UMA CARTA (em correio azul) para 
NOSSA SENHORA

Paris, Museu do Louvre
A Virgem Maria de Angiolo Bronzino
(Pormenor do painel A Santa Família)
in, 1º vol. do livro de João Ameal "Fátima Altar do Mundo"


Senhora: tu sabes como tudo aconteceu.

Eu é que preciso de relembrar - para chegar àquilo que te quero dizer - do que aconteceu com José, o filho predilecto de Jacob que não tendo conquistado a simpatia dos seus irmãos, o venderam como escravo para o Egipto.

Naquela Pátria distante - como relata o Génesis -  num certo dia, o faraó teve dois sonhos que muito o inquietaram: viu sete vacas gordas que saiam do Nilo e o mesmo número de vacas magras saídas das mesmas águas e num segundo sonho viu sete  espigas grandes e belas e outras tantas espigas magras e ressequidas, uma coisa estranha que fez que o faraó não dormisse mais naquela noite. 
De manhã convocou todos os magos de que dispunha ao seu serviço para lhe explicaram o sentido daquele sonhos, o que não conseguiram fazer.

Foi então que o copeiro-mór lhe falou de um escravo hebreu que a ele e ao chefe dos guardas - tendo os dois tido um mesmo sonho - lhos explicou, e isto bastou para que o faraó mandasse buscar o hebreu José que não tardou a estar ante a sua presença, para sem tardança lhe dar a explicação erudita  sobre os dois sonhos que ele tivera.

Ante o espanto do faraó, José disse-lhe: 

Os sonhos que tivera eram um só.  As sete vacas gordas e as sete vacas magras representavam sete anos de grande abundância e sete anos de grande fome que iriam surgir a seguir, de modo que toda a abundância desapareceria do Egipto e a fome devastaria o país, o que implicava por vontade de Deus que o faraó escolhesse um homem sábio e lhe encarregasse o destino do Egipto para vencer as dificuldades nos anos de fome que iriam acontecer.

Não hesitou o faraó. Tendo visto em José tal sabedoria e tendo acreditado em tudo aquilo que ouvira colocou-o como Intendente à frente de todo o país, dando ordens para que todos os seus vassalos lhe prestassem homenagem.

Relata a Bíblia  (Gn 41, 47 - 55)  o seguinte:

A terra, durante os sete anos de fertilidade, produziu colheitas abundantes. Acumularam-se as provisões dos sete anos de abundância, que houve no Egipto, e abasteceram-se as cidades; puseram em cada cidade os géneros dos campos que as rodeavam e guardaram-nos em cada uma. José acumulou trigo como a areia do mar, em tão grande quantidade que deixaram de o medir, pois era incalculável. Antes que chegasse o período da fome, nasceram a José dois filhos, que lhe deu Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. José chamou ao primogénito Manassés: «Porque – disse ele – Deus fez-me esquecer todas as minhas tribulações e toda a casa de meu pai.» Ao segundo chamou Efraim: «Porque – disse ele – Deus fez-me frutificar, no país do meu infortúnio.» Tendo terminado os sete anos de abundância, no país do Egipto, sobrevieram os sete anos da fome, como José predissera. Houve fome em todos os países, mas no Egipto havia pão. Quando a fome começou a manifestar-se no Egipto, o povo clamou por pão ao faraó; mas o faraó respondeu aos egípcios: 

- Ide ter com José; fazei o que ele vos disser.


Passaram os tempos. Séculos dobraram outros séculos... e mais outros... até que um dia, Tu, Senhora, estavas lá.
Isto aconteceu em Caná da Galileia.

Como sempre atenta às misérias,  muito antes que nascesse a revolta nos convivas, porque, decorridos alguns dias faltara o vinho naquela festa de casamento... - uma desonra - segundo os costumes do tempo,  apontaste aos criados que serviam às mesas a figura do Teu Filho: Jesus.
E, mesmo, sabendo que Ele tinha mais poder que o Intendente do velho Faraó, disseste com a mesma intenção, apontando Jesus, palavras iguais:

- Fazei o que ele vos disser (1)

Diz a Escritura, que no Egipto, embora em tempo magro, José encheu de trigo todas as gentes... e, diz a mesma Escritura, que o Teu Filho, Jesus, da água das fontes de Caná encheu os convidados de um vinho  de marca... talvez do Monte Carmelo, e, tudo, sob o influxo da graça das mesmas palavras:

- Fazei o que Ele vos disser.

Olha, Senhora:
Tu que existes desde o princípio dos tempos nos planos de Deus, certamente, inspiraste ao faraó as tais palavras, que um dia,  pelo poder da Tua boca soaram em Caná da Galileia como uma música antiga... mas sempre nova.
No Egipto, foi uma fartura de trigo e em Caná uma fartura de vinho que encheu as talhas vazias!

Permite, pois, Senhora, que Te peça, hoje, as mesmas palavras para os povos de todo o mundo, onde existe,  embora com fartura de pão e vinho que são alimentos do corpo e necessários à vida, a falta de outro trigo e de outro vinho... enquanto alimentos divinos, igualmente necessários à vida plena a que todos nós fomos chamados.

Manda, Senhora - amanhã! - todos os homens a Jesus  e diz-lhes a velha fórmula: 

- Fazei o que Ele vos disser.

Por mim, podes crer, aceito o desafio...  e posso falar por muitos dos meus irmãos, com a mágoa que temos de carregar um grave problema que é comum a tantos de nós... coisas vãs do nosso mundo entontecido!
Andamos, é certo, com a falta do tal trigo e do tal vinho.

Mas estamos fartos de tudo. É esse o problema. Temos automóveis de luxo, casas de campo e de praia. Temos joias caras, roupas de etiquetas...  tantas coisas! Eu sei lá, Senhora, o que nós temos!...
O problema é, pois, complicado... temos até, vinhos aromáticos, de rótulos finos e, embora sabendo que nos falta o tal vinho que tem a marca de Jesus, tenho receio de não virmos a fazer o que Ele nos disser!...

Peço-te, Senhora...  tenta uma vez mais!

Manda-nos a todos... manda este pobre mundo até Jesus...  e quem sabe, Senhora:
-Talvez cansados de  termos tantas coisas... e, tantas delas, inúteis, bebamos de um só trago o vinho que Ele nos der e façamos a Sua vontade.

Tem piedade de nós, Senhora!

Somos um mundo de pobres... de indigentes da Tua graça...  da graça do Teu Filho... e andamos - tantos de nós - a fingir de ricos quando nos falta o essencial:

- o trigo de José, que é um pão sadio que muitos de nós deixámos de comer!...
- o vinho de Jesus, que muitos de nós deixámos de beber!...

Vê, Senhora, como somos pobres...  como temos fome e temos sede!

A Senhora Mãe de Jesus, a Admirável Mãe de todos os Dons e de todas a Graças, já respondeu a esta carta,
Assim o sinto neste Dia 8 de Dezembro do Ano da Graça de 2016 em que sou chamado a viver a sua Imaculada Conceição, sendo para ela que vai serena a minha oração deste dia:


Obrigado, Senhora,
que és minha Mãe
segundo o carinho do teu Filho
por todos os homens!

Confesso, Senhora,
que pela beleza e prontidão
da resposta à minha carta azul,
convenceste-me
que no Azul Imaculado do Céu
- onde habitas –
também tens e sempre disponível
para as respostas mais urgentes
um santo “correio azul”
com resposta em cima da hora!

(1) – cf Jo 2, 5

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