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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

"Raízes" Um poema do exílio de Sidónio Muralha


Canta Amália Rodrigues

Raízes

Velhas pedras que pisei
saiam da vossa mudez
venham dizer o que sei
venham falar português
sejam duras como a lei
e puras como a nudez.

Minha lágrima salgada
caiu no lenço da vida
foi lembrança naufragada
e para sempre perdida
foi vaga despedaçada
contra o cais da despedida.

Visitei tantos países
conheci tanto luar
nos olhos dos infelizes
e porque me hei-de gastar?
vou ao fundo das raízes
e hei-de gastar-me a cantar.

Sidónio Muralha

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Amália Rodrigues com a sua voz ímpar deu vida a este poema inspirado do Poeta Sidónio Muralha, que viveu numa sociedade marcada pela pobreza e desigualdade social a que se agigantava o autoritarismo imposto pelo Estado Novo a partir de 1933.

Por esse tempo como aconteceu com outros intelectuais Sidónio Muralha exilou-se voluntariamente e acabou por se fixar no Brasil.

Ao sentir muito difícil o seu retorno a Portugal, o exílio e a saudade ditaram o poema "Raízes" que é na sua temática um grito de alma que o leva a desafiar as pedras dos caminhos que pisou em Portugal para que falassem e o fizessem em  português antigo, longe da ditadura que o levou a verter a sua lágrima salgada, caída no lenço da vida, como aconteceu com tantos outros homens da cultura.

Vale a pena ler e ouvir este poema de desgosto pátrio cantado por Amália Rodrigues em cuja voz a saudade do Poeta é um ariete lançado contra um tempo padrasto que Portugal viveu, e como diz o poema, foi uma vaga despedaçada / contra o cais da despedida, porque, como aconteceu com o Poeta nascido no bairro da Madragoa, em plena Lisboa que o não soube acarinhar se finou. exilado, em terras do Paraná, desse Brasil que o acolheu.

Lembro, pois, com todo o carinho, Sidónio Muralha e atrevo-me a pedir a quem me ler que vá atrás da escrita que ele nos deixou e, com ela, reviva um homem grande do século XX português atiçando a memória dos que o esqueceram.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"Fado das andorinhas"

Canta António Menano

Passarinho da ribeira
Não sejas meu inimigo
Empresta-me as tuas asas.
Quero ir voar contigo.

Ao longe cortando o espaço
Vem um bando de andorinhas
Que te levam um abraço
E muitas saudades minhas
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O Doutor António Menano, natural de Fornos de Algodres - terra a que me prende uma das minhas velhas amizades - foi, possivelmente, depois de Augusto Hilário uma das vozes mais ouvidas e preponderantes da canção de Coimbra, como este "Passarinho da Ribeira" cuja letra de fino recorte literário e de não menos inspiração poética é das mais belas composições que se fizeram para serem cantadas aos serões ou nas reuniões académicas onde as guitarras e as vozes ganhavam maviosidades que ficaram para sempre.  
                  
Alguém me disse em tempos que já lá vão - e que não voltam mais - que aquele "passarinho da ribeira" cantado pelo famoso cantor António Menano, não era uma ave canora, mas uma letra dedicada em honra duma tricana das muitas que enchiam de beleza feminina as ruas de Coimbra - muitas delas lavadeiras das margens do rio Mondego - e que naquele eram a causa de muitas serenatas que a estudantada lhes cantava, de rua em rua, pela noites luarentas.

E deu-me esta velha gravura que guardei e aqui reproduzo em sua homenagem póstuma.

Revista "O Occidente" de 1 de Maio de 1879
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Deus sabe se o meu amigo tinha razão.

Mas estes "passarinhos" podem ou não ser os cantados há muitas dezenas de anos pelo famoso cantor de Coimbra, mas foram no tempo devido nas margens do rio Mondego - ou fora delas - sons e modos de viver que inspiraram poetas e cantores.

sábado, 16 de dezembro de 2017

"Grande Senhor. Ó poderoso rei" - Ária do "O Oratório de Natal" de J. S. Bach


UM BELO CONCERTO DE NATAL 


GROSSE HERR (GRANDE SENHOR)-do Oratório de Natal - Bach

Grande Senhor, ó poderoso Rei
Amável Salvador, ó quão pouco
Considerais os esplendores da Terra.
Ele que mantém todo o mundo
E criou a sua Glória e Ornamentos
Tem de dormir num berço duro.

(Do guião que acompanhou o Concerto de Natal) 

Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira
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Tive a graça de ter assistido, ontem à noite, na Aula Magna a um Concerto de Natal promovido pela "Associação de Antigos Alunos da Universidade de Lisboa", tendo este evento tido como executantes de metais a "Orquestra Académica da Universidade de Lisboa" e de vozes, o "Coro de Câmara do Instituto Gregoriano de Lisboa", o "Coro Essence Voices" e "Coro da Universidade de Lisboa".

Do feliz acontecimento melómano, ressalto a Ária "Grande Senhor. Ó poderoso rei" de J.S.Bach em que o compositor - como diz o guião - transformou uma seccão numa canção emocional de exaltação sobre Jesus, correspondendo esta peça musical a uma pequena parte do conjunto das seis cantatas que Bach compôs para celebrar o Natal, com começo no Dia de Natal e terminando na Epifania,


Orquestra e Coros

Este "Grande Senhor. Ó poderoso rei", como é exaltado nesta Ária teve de dormir num berço duro, por não haver outro em Belém, onde nasceu, mas tal facto estava de acordo com o "Rei" que ele era, efectivamente, porque não era deste Mundo, cujas honras sempre dispensou, e logo, nunca considerou os esplendores da Terra, porque o seu reinado - embora Ele fosse Rei, como havia de dizer um dia a Pôncio Pilatos - era-o, de facto, mas do Céu de que fora enviado.



O momento ontem vivido foi de uma grande paz espiritual, a que acresceu o facto de entre os executantes da "Orquestra Académica da Universidade de Lisboa" estar o meu neto João, em cujo arco do seu instrumento musical, eu li, distinto e muito belo o encanto melómano que desde muito novo tomou conta dele, a que junta - e com proveito académico - a sua acção estudantil.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

"Inquietação" - um fado de Coimbra de Edmundo Bettencourt



INQUIETAÇÃO
Letra e voz de Edmundo Bettencourt


Quanto mais foges de mim
Mais corro e menos te alcanço.
O meu amor não tem fim…
Morrerei mas não me canso.

Todo o bem que não se alcança
Vive em nós morto de dor;
Bem amar e amar não cansa
E se morrer é de amor.


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Edmundo Bettencourt gravou este fado de Coimbra em 1928 para a editora Columbia, na cidade do Porto, concretamente no bem conhecido "Palácio dos Carrancas", uma das mais valiosas peças aquitectónicas do século XVIII, daquela cidade, adquirido pelo rei D. Pedro V para servir de habitação nas deslocações da Família Real ao norte de Portugal, passando, então, a ser conhecido por: PAÇO DO PORTO ou PAÇO REAL.


Nele se acoitou e fez dele o seu quartel-general na segunda invasão francesa, Soult, que em 1809 abandonou à força com a aproximação do exército anglo-português às ordens de Arthur Wellesley, tendo sido doado por D. Manuel II, em 1915, por via testamentária à Santa Casa da Misericórdia, e hoje, sede do Museu Nacional de Soares dos Reis.

Relata-se isto, porque no tempo que passa, a História vive, tanto vive da voz e da lírica das duas quadras do Poeta funchalense que a Columbia gravou e difundiu no primeiro quartel do século XIX, como dos locais que lhe serviram de Estúdio, para ser hoje, um afamado Museu Nacional.

Por tudo isto, que o fado INQUIETAÇÃO pela sua letra amorosa que espelha bem o momento então vivido e cantado por Edmundo Bettencourt, seja, neste momento, um motivo que nos leve a meditar e a crer no amor e que o - Bem mar e o amar não cansa -  e só nos cansa a falta do amor puro e simples, construtor de mundos e que, infelizmente, no tempo que passa nos devia inquietar.

Honra à memória deste afamado cantor de Coimbra.
Ouçamo-lo com reverência.

"Fado d'Anto"


"Fado d'Anto" - canta Edmundo Bettencourt 



A cabra da velha torre
Meu amor, chama por mim.
Quando um estudante morre
Os sinos tocam, assim.

Aí quem me dera abraçar- te
Junto ao peito assim, assim.
Levar-me a morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim.


 

Edmundo Bettencourt foi um grande cantor do fado de Coimbra, cidade que o acolheu vindo do Funchal, sua terra natal, tendo chegado a Coimbra em 1922, instalando-se na "República do Funchal" concluindo ali a sua formatura em Direito e cabendo-lhe a honra de ser um dos fundadores em 1927 da revista "Presença" que viria a ser uma influente publicação literária do século XX até se extinguir e 1940.

Foi dono de uma voz que encheu de encanto as serenatas coimbrãs a par de ter sido um Poeta inspirado da Canção de Coimbra, cabendo-lhe a autoria dos seguintes livros:
  • Poemas Surdos - poemas produzidos entre 1934 e 1940;
  • O Momento e a Legenda (1930);
  • Poemas de Edmundo de Bettencourt (1963), com prefácio de Herberto Hélder
O Fado d'Anto foi gravado no já longínquo ano de 1928 e cuja gravação denota a idade que tem, sem no entanto, apesar do som, ser um encanto a sua audição.

É nela que vibramos com a voz timbrada e melodiosa deste famoso cantor, deixando-nos embalar de  tal modo que apetece fechar os olhos, pensar e reflectir na beleza das quadras que são uma memória do seu autor e do cantor, ambos afamados e que hoje dormem o sono eterno e se tornam presentes ante nós, que temos a felicidade de os ler e ouvir,

Esta mesma letra, foi, mais tarde cantada por Zeca Afonso, uma outra voz famosa de Coimbra e que é hoje uma grande saudade por nos ter deixado cedo demais.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Hino de Louvor ao Senhor da Glória


Coro Masculino da Sé Catedral de Coimbra

O Senhor é a minha força
e o meu louvor.

Ó Memorial da morte do Senhor,
Ó vivo Pão que aos homens dás a vida,
Que a minha alma sempre de Ti viva,
Que sempre lhe seja doce o Teu sabor.

Refrão

Jesus, a Quem contemplo oculto agora,
Dá-me o que eu desejo ansiosamente:
Ver-Te face a face na Tua glória,
E na glória contemplar-Te eternamente.

Refrão

in, nº 99 de  "O Astrolábio" de 25 de Junho de 2017
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Fui agradavelmente surpreendido pela indicação do endereço electrónico e da letra deste Hino de Louvor ao Senhor da Glória - Minha força e meu louvor - e é enlevado com a audição do cântico Coro Masculino da Sé Catedral de Coimbra - meus Distrito de nascimento - que aqui deixo o meu agradecimento enternecido, na certeza que tenho que ou os homens arrepiam caminho e se dão as mãos à doutrina do Senhor da Glória, ou arriscam-se a continuar a caminhar por sendas escuras onde espreitam "os filhos das trevas".

Digo isto convictamente.

Que todos os dias este Mundo aprenda que é preciso subir, ainda que seja devagar, mas porfiadamente ao cimo da montanha das Bem-Aventuranças dos nossos dias, onde, no devido tempo o Senhor da Glória deixou a Grande Lição para ser prosseguida pelos homens durante todos os séculos.

Bastava para tanto seguir o pensamento de Platão que "o que faz andar o barco não é a vele enfunada, mas o vento que se não vê", ou seja, saber que o pensamento mais belo seria o dos homens seguir Aquele que não vemos fisicamente, mas esteve presente no Mundo num certo tempo e lugar e foi daí que deixou o Legado de, na sua glória, ser contemplado eternamente, como sugere a última estrofe do Hino que acima se transcreve com a vénia que ele merece.

sexta-feira, 24 de março de 2017

"Maria se fores ao baile" -Um fado de Coimbra de Fernando Rolim


Canta  o Dr. Fernando Rolim, um voz intemporal do fado de Coimbra

Maria se fores ao baile
Leva o teu xaile, pode chover;
De manhã, de madrugada
Cai a geada podes morrer.

Maria, se ouvires cantar
Vem ao luar ouvir quem canta.
Que a noite com seu luar
Lembra o olhar de quem encanta.

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Canção popular dos tempos da minha adolescência, era - entre outras - um hábito animar os descantes das aldeias do Distrito de Coimbra a que me honro de pertencer, nos momentos profanos que sempre tinham lugar nas romarias em honra dos Santos do lugar.

Recordo-me, ainda, no caso particular da minha aldeia, de uma voz que entoava esta canção maravilhosamente, e de quem ao som timbrado da guitarra, ambos enchiam de graça e encanto o arraial que parava a dança para serem ouvidos os cantadores.

O Dr, Fernando Rolim encheu esta canção com outro encanto. 

O encanto próprio da sua voz incomparável em que as guitarras vibram em acordes envolventes da sua voz sonora onde não falta, perceptível, a letra de cada verso, pelo que, ao ouvir, hoje - mais uma vez de tantas que lhe perdi o conto -  esta canção num tempo em que os anos me deixaram as suas marcas, a voz do afamado cantor da minha Coimbra entrou bem dentro de mim e é com emoção que dou graças a Deus da recordação que guardo dos tempos em que ouvia a primeira quadra - era a que me recordo de ouvir cantar - no terreiro do arraial da minha aldeia, finda que estava a cerimónia religiosa e se dava a vez às danças de roda e aos cantadores.

Coisas que não esqueço e que hoje, infelizmente, não acontecem!

quinta-feira, 23 de março de 2017

"Salve Regina"!


Canto Gregoriano - Salve Regina
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Salve Rainha, Mãe de Misericórdia,
 Vida, doçura e esperança nossa, salve!
 A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva.
 A Vós suspiramos, gemendo e chorando
 neste vale de lágrimas.

Eia, pois, advogada nossa,
 Esses Vossos olhos misericordiosos
 A nós volvei,
 E, depois desse desterro,
 Mostrai-nos Jesus, bendito fruto do Vosso Ventre.
 Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Virgem Maria.

Rogai por nós Santa Mãe de Deus,
 Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.”

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Se há figuras no Catolicismo merecedoras da atenção dos que sendo fiéis - ou não o sendo - se agigantam acima do Mistério que é a vinda de Jesus Cristo ao mundo, Nossa Senhora é essa figura excelsa sobre qualquer aspecto em que a consideremos. razão suficiente para que neste Tempo Quaresmal - a Rainha de todas as Santas seja recordada - porque foi dela que partiu o Milagre acontecido num dado tempo e lugar, em que Mãe e Filho  - que era Deus encarnado - viveram lado a lado em Nazaré.

Nesta Quaresma, um tempo especial que antecede a Páscoa cristã, lembrar, seja pelo canto ou recitando a bela Oração, conhecida em todo o Mundo é um dever de amor por aquela mulher que ao entender a saudação do Anjo, desde esse momento se tornou na origem de um Tempo Novo anunciado havia milénios.

A Oração que na época medieval era conhecida por "Saudação Angélica" é, como hoje a conhecemos, o resultado de um longo processo de amor dos homens por Maria, em que as duas partes - de louvor e súplica - leva que uma e outra fazem parte do Evangelho de S. Lucas quando relata a saudação do Anjo: "Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo" (Lc 1, 28) e na saudação de Isabel, quando a recebeu em Ain Katim: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! (Lc 1,42), tendo começado a ser rezada cerca do ano 1.000, nos mosteiros, tornando-se universal a partir do século XIII, constituída pela primeira parte (a do louvor) e só a partir do século XV se acrescentou a segunda parte (a da súplica) 

Rogai por nós Santa Mãe de Deus,
 Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.”
 .

terça-feira, 21 de março de 2017

Um trecho musical da "Paixão segundo S. Mateus", de Bach


Na grande roda do Tempo não tarda aí o dia 9 de Abril que assinala, este ano, o Domingo de Ramos que dá início à Semana Santa que no Calendário Litúrgico relembra aos fiéis a entrada de Jesus em Jerusalém, em que se celebra a Paixão,a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo.

Há dias um zeloso sacerdote - meu Amigo - que no seu múnus espiritual tem a seu cargo o cuidado pastoral das gentes do meu velho Concelho que se orgulha do seu foral dado pelo "Rei Lavrador", enviou-me a par como o Boletim informativo do serviço apostólico que ele sempre enriquece com cultura de cunho espiritual de formação e reflexão do "rebanho" que a Diocese lhe confiou, o endereço electrónico de uma parte musical da "Paixão segundo S. Mateus", que se crê tenha sido escrita em 1727 e que, como preparação para o tempo litúrgico que se aproxima - e é o fundamental de todo o Ano Litúrgico - aqui fica à disposição dos leitores do meu "blog" ou de quem a ele aceder.

"Paixão segundo S Mateus(BWV244" - Johann Sebastian Bach)
Captação in, "O Astrolábio"

A Paixão segundo S. Mateus, assim conhecida no Catolicismo é uma famosa oratória de Bach que representa o sofrimento e a morte de Jesus Cristo de acordo com a narração do Evangelho de S. Mateus e, no todo, tem a duração de duas horas e meia nas duas partes que a compõem, constituindo a mais extensa obra musical do famoso compositor, constituindo-se como uma das maiores obras-primas da música ocidental.

È um momento de refúgio em que a alam do homem se intromete coma Alma imortal do grande Sacrificado do Calvário naquela semana de ódios à solta em que, julgando os seus algozes que O iam aniquilar para sempre por causa da sua pregação, estavam longe de supor que foi a partir daquela semana violenta vivida em Jerusalém que Ele ficaria vivo para sempre.

Fica por aqui o escrito...
Mas não devia ficar sem ser ouvida - que se me perdõe o pedido - esta parte pequenina da grande oratória de Bach, parte importante da grande música que ilustra a Paixão do Crucificado do Gólgota.

segunda-feira, 20 de março de 2017

"Menina e moça" - Um fado de Coimbra de António Menano



Menina e moça

É preciso ter sofrido
E ter-se d’amor chorado,
P’ra entender o sentido
Que há na tristeza do fado.

Numa noite de luar
Como um véu doce e calado
Nada se pode igualar
À mágoa dum triste fado.
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Volto uma vez mais a António Menano.

E volto para o lembrar numa balada triste em que, na composição poética - cheia de sentido humano - a voz melodiosa do cantor de Fornos de Algodres numa afirmação certeira, sem mentir à realidade de que por vezes se enche a vida, nos vem cantar  que nem sempre ela é o "mar de rosas" sonhado e acalentado, pois, quantas vezes, para a entender - É preciso ter sofrido - para que o fado, que é também, um sinónimo do destino que ordena as coisas ou aquilo que tem de acontecer, ganhe no sentimento humano a sua dimensão exacta.

O Fado - MENINA E MOÇA - fui buscar a inspiração ao livro do mesmo nome de Bernardim Ribeiro que numa edição de 1557 - se chamou SAUDADES - e em que o texto começa com um monólogo da MENINA nessa novela pastoril, levada na tenra idade - sem que o soubesse - para longe e que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava, e que, em termos ficcionais, é nesse lugar de mudança que surgem polos de uma comum nostalgia amorosa e do fatalismo do sofrimento, em que o amor e a saudade se casam numa da obras maiores da Literatura Portuguesa, onde muitos sentem os traços de uma melancolia presente, ainda hoje, na nossa identidade de povo.

Esta balada de António Menano com este título que até parece fora do contexto poético das duas quadras, foi beber precisamente a esta novela do século XVI para que naquela noite de luar  a imagem doce colocada na segunda quadra nos dizer, logo a seguir que nada se pode igualar / à mágoa dum triste fado, e em que este está bem longe de se referir àquela forma de rimar palavras para serem cantadas, por ter como sentido literal a vida real em que, quantas vezes para a sentir na sua dura realidade é preciso ter-se d'amor chorado....

E, mais uma vez, surge nesta balada a nostalgia amorosa que faz da novela de Bernardim Ribeiro uma obra sem tempo, e aqui, pela letra e pela voz de António Menano prova que a canção de Coimbra, para além da sua melodia vai buscar muito longe o seu sentido e entrecho, uma razão a mais para que o fado MENINA E MOÇA deste celebrado cantor de Coimbra seja ouvido na sua profundeza literária e artística.

sábado, 18 de março de 2017

"Quando estavas na Igreja" - Um fado de Coimbra de António Menano




Quando estavas na Igreja

Quando estavas na Igreja
A teus pés ajoelhei.
À Virgem por mim rezavas,
À Virgem por ti rezei.

E na crença e na vertigem
Foi então que eu me perdi.
Em vez de rezar à Virgem
Rezava mas era a ti.

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Mais uma vez a corda da minha saudade tangeu forte e sonora dentro das minhas antigas lembranças fonográficas e dei comigo a lembrar-me de António Menano e desse famoso fado de Coimbra - QUANDO ESTAVAS NA IGREJA - que é, nas duas quadras maravilhosamente esculpidas uma balada de amor onde a mística religiosa se mistura admiravelmente com a humanidade das personagens.

O quadro que a arte do Poeta nos apresenta numa paleta de cores a que a voz melodiosa de António Menano empresta toda a graça, é na sua compostura dividido em duas partes.

A primeira a quadra expressa um acto puramente religioso, À Virgem por mim rezavas, a que corresponde a troca dentro do mesmo sentido místico, À Virgem por ti rezei, para na segunda parte o quadro se nos apresentar expresso numa quadra perpassada de um amor humano cândido e puro, em que o cortejador diz que se "perdeu", sem contudo deixar de assinalar que o fez na crença que ele vivia de joelhos junto da sua amada, pois, Em vez de rezar à Virgem - na vertigem do momento confessa o seu "pecado" - Rezava mas era a ti, o que prova que quando o amor é puro a Virgem que vive no Altar e a quem rezamos costuma receber no seu Amor infinito, o amor finito das criaturas.

Eis, porque, fica aqui como preito da minha saudade à voz de António Menano que tanto me encantou, a minha homenagem, pela arte e pelo seu amor à Virgem do Céu e àquela  - possivelmente imaginada, mas lhe preenchia a juventude - e que a seu lado erguia uma oração para o Altar da Virgem, sem suspeitar, que recebia do amado a mesma oração erguida para a mesma Virgem, mas, também, para a mulher amada que a seu lado estava de joelhos numa mesma união de sentimentos.

O quadro é encantador e, porque o é, exprime-se jubilosamente na voz do cantor de Coimbra que jamais esquecerei enquanto Deus me der vida e saúde para o fazer presente no baú das minhas recordações.

sexta-feira, 17 de março de 2017

"O Beijo" - Um fado de Coimbra de António Menano



O Beijo

À minha amada na praia
Dei um beijo a sós e a medo.
Mas a onda que desmaia
Foi contar o meu segredo.

E às outras logo contando
O beijo que me viu dar;
Foi de onda em onda passando
O meu segredo a contar.

Treme ansioso o teu seio
E eu pálido de temor;
Que todo o mar anda cheio
D'aquele beijo d’amor.

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Aconteceu, hoje.

De volta com a minha discografia antiga dei com esta gravação de António Menano, um dos meus cantores preferidos de Coimbra - o meu distrito natal - e, ouvindo-o naquela melodia, que é uma melopeia encantadora servida por uma letra em que cada verso é um primor de perfeição artística na poesia que o enforma, senti uma grande saudade do médico e cantor de Fornos de Algodres, cuja voz encheu de encanto os tempos áureos que, no meu caso, há muito se foram embora.

Foi, por isso, que hoje dei graças a Deus para através do meu "blog" ter-me dado ainda tempo de me lembrar deste cantor de Coimbra e de o fazer lembrar, numa homenagem sentida em que, a gravação denotando o tempo, é - segundo a minha opinião - uma mais valia que torna mais fidedigna a voz de António Menano que nesta composição poética e sonora - O BEIJO - se enquadra naquela moldura em que as ondas da praia, por terem visto que naquele beijo dado a sós e a medo, ia inteiro e puro um sentimento de amor...

E foi, por isso, que de onda em onda passando, beijos dados assim deviam encher o mar da vida!

domingo, 30 de outubro de 2016

"Lacrimosa" de Mozart: um hino todos os anos renovado.

Lacrimosa


Dia de lágrimas aquele
em que ressurgirá das cinzas
um homem para ser julgado.

Tende, pois, piedade dele, ó meu Deus!
Ó misericordioso, Senhor Jesus
concedei-lhe o repouso eterno. Amém

in, Vagalume
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O profeta Sofonias em (1, 15-16)diz o seguinte: 

Um dia de ira, aquele dia,
dia de angústia e tribulação,
dia de destruição e devastação,
dia de trevas e de escuridão,
dia de nuvens e de névoas espessas.
Dia de trombeta e de alarme
contra as cidades fortes
e as altas torres angulares.
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É o famoso "Dies Irae" ou "Dia de Ira" que veio a ser - e é - um famoso hino surgido no século XVIII e cuja inspiração o seu autor - de que se desconhece por inteiro a sua identidade - foi buscar ao Livro profético de Sofonias que antevia um dia de juízo universal, tenebroso e terrível, que afectaria - no seu tempo - Judá, a terra desobediente que com a sua atitude se dispunha a ficar sob a influência, quer do Egipto ou da Assíria, advertindo aquele povo que era ainda tempo de escapara  a ira divina.

Mozart utilizou esta passagem bíblica para fazer dele a apoteose do seu "Requiem" e como consequência na tradicional Missa católica dedicada aos falecidos, pelo que ao aproximar-se o dia 2 de Novembro "Dia dos fiéis defuntos" esta composição "Lacrimosa" ganha toda a sua excelência tradicional por tornar presente aos vivos as memórias dos que partiram e a intercepção destes perante Deus, para que sobre eles reine o poder da piedade divina e lhe dê o repouso eterno.

"Serenade" de Schubert

Serenade


Esta extraordinária peça musical foi escrita por Franz Schubert tinha ele 29 anos de idade (1836) e veio a falecer um jovem com 31 anos dois anos depois. Melodia em que a simplicidade se equivale ao seu encanto, parece, dada a idade do famoso e imortal compositor ter sido inspiração de um momento em que a emoção amorosa transpareceu em cada nota perfeita de graça e de uma beleza que nunca esmorecerá enquanto houver sobre a face da Terra sentimentos de amor humano.

Silenciosamente invoco em minhas músicas
Durante a noite
No bosque calmo
Amor, venha para mim!

Árvores farfalhantes sussurram
À luz do luar
Espionando
Querida, não tenha medo
Você está ouvindo os rouxinóis?

Oh! Eles acenam para você
Com doce, melancolia
Eles rogam por mim
Eles entendem os apertos do coração
Conhecem a dor do amor
Enchem com tons prateados
Cada coração terno
Deixe que nossos peitos fiquem repletos de encantos
Querida, ouça-me!
Tremendo espero por você!
Venha, por favor!

in, Vagalume
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Franz Schubert, vítima de uma doença breve, nesta tradução da música em letra pela qual o menos melómano o pode entender, pareceu, dada a morte que não tardou a ceifá-lo do convívio da sua família, amigos e público que tanto gostava de ouvir as suas composições, que ao ler e meditar em cada um dos versos nos leva a ouvir a harmonia expressa em cada uma das notas inspiradas de "Serenata" aquele desejo expresso: Tremendo espero por você / Venha por favor!

E veio. Não o que ele pedia... mas a morte cruel que em 1828 levou do Mundo aquela alma sensível e enamorada - e de tal modo o foi - que vai a caminhar para dois séculos, a sua "Serenade" continua a ser imortal, tão imortal como continua a ser o nome do compositor austríaco que teve a honra de ser o inovador da era do Romantismo ao findar o século XVIII, deixando a sua marca na música que para sempre glorificará o seu génio.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

"AVE MARIA" de Charles Gounod

in, Revista "O Occidente" de 11 de Novembro de 1893



Diz uma versão do tempo da vida terrena de Charls Gounod que o compositor escreveu uma melodia que intitulou "MEDITAÇÃO", que mais tarde juntou o texto da AVE-MARIA para oferecer à sua namorada.

Fosse como fosse, o que aconteceu é que o resultado originou que ficasse para a posteridade uma das mais belas composições da História da Música que ao longo dos tempos tem merecido as atenções dos melómanos e executantes.

Ouçamos esta AVE-MARIA e façamo-lo como uma meditação em honra da formosa Senhora que lhe serviu de inspiração.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Adeste Fideles (31)


in, "O Astrolábio" (coro da Catedral de Coimbra)
Adeste Fideles: https://www.youtube.com/watch?v=OOlRhtOIcb4


ADESTE FIDELES - Hino Português tocado em todo o mundo no Natal. "Adeste Fideles" é o título do chamado Hino Português escrito pelo Rei D. João IV de Portugal. Foram achados dois manuscritos desta obra, datados de1640, no seu palácio de Vila Viçosa. Muitos outros alegam a autoria desse hino, a John F. Wade, que não pode ter composto a obra, já que o seu manuscrito data de 1743. O mais provável é que Wade tenha traduzido o Hino Português, como era chamado em Londres na época e ficado com os louros. D. João IV de Portugal, “O Rei Músico” nascido em 1604 foi um mecenas da música e das artes, assim como um sofisticado autor; foi também compositor e durante o seu reinado possuiu uma das maiores bibliotecas do mundo. A primeira parte da sua obra musical foi publicada em 1649. Fundou uma escola de música em Vila Viçosa de onde saíam músicos para Espanha e Itália e foi aí, no seu palácio, que se acharam dois manuscritos desta obra. Esses escritos (1640) são anteriores à versão de 1760 feita por Wade. De entre os seus escritos podemos encontrar “Defesa da Música Moderna (Lisboa, 1649) ano em que o Rei D. João IV lutou contra o Vaticano para conseguir a aprovação da música instrumental nas igrejas. Uma outra famosa composição sua é Crux fidelis, um trabalho que permanece popular nos serviços eclesiásticos.
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Todos os fiéis vós, alegre e triunfante,
Vinde, ó vinde a Belém.
Nascido
Rei dos Anjos:
Vinde, adoremos (3x)
Senhor.

Deus de Deus, Luz da Luz
Lo.
Deus verdadeiro, gerado, não criado.
Vinde, adoremos (3x)
Senhor.

Cante, agora 'Io', um coro de anjos;
Seu canto agora no céu,
Glória! Soli Deo Gloria!
Vinde, adoremos (3x)
Senhor.

Assim que nasceu neste dia.
Senhor, glória,
Eterno Pai, o Verbo feito carne.
Vinde, adoremos (3x)
Senhor