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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Fausto José (1903-1975)




Breve biografia

O poeta Fausto José dos Santos Júnior nasceu em 1903, em Aldeia de Cima do concelho de Armamar, tendo feito a Escola Primária na sua aldeia natal, donde transitou para o Liceu Nacional de Lamego até 1917, transitando depois para o Liceu Rodrigues de Freitas, no Porto que frequentou até 1920, ano que foi admitido na Universidade de Coimbra onde se licenciou em Direito em 1929.

É em Armamar que dá início à advocacia, vindo a abraçar, nesse concelho o cargo de Conservador do Registo Civil, funções idênticas que viria a ocupar na ilha do Porto Santo (1938-39), vindo a ser no ano seguinte até 1951, Presidente da Câmara Municipal de Armamar, cargo que abandonou para se dedicar às funções do Conservador em Tarouca (1951-64) e Peso da Régua até ao ano de 1971.

Ainda, estudante, em Coimbra fez parte de um pequeno círculo de jovens que se dedicavam às Letras, onde se incluíam nomes, como José Régio, Miguel Torga, Alberto de Serpa e outros, que por fim, acabaram por fundar a revista "Presença" que apareceu ao público como a paladina de uma nova geração modernista, onde a poesia de Fausto José não se integrava de todo, mais virada para acontecimentos circunstanciais ou de história, onde o seu estro poético mais se enquadrava, o que o levou a colaborar com a revista "Byzâncio" (1923.24) e "Tríptico" (1924), sem contudo, abandonar a "Presença" que amparava financeiramente.

Manteve aturada correspondência, para além de José Régio, com Alberto de Serpa, Adolfo Casais Monteiro, Tomás de Figueiredo e Vitorino Nemésio, tendo mantido palestra sobre temas de Literatura a partir de 1954 na Rádio Alto Douro.

Para comemorar o centenário do seu nascimento, em 2003, a Câmara Municipal de Armamar, tendo-lhe erigido um memorial em Aldeia de Cima, donde ressalta o busto do poeta encimando uma pilha dos seus livros, e dado o seu nome à praça central da povoação.

Publicou:

  • Fonte Branca (1928
  • Planalto (1930)
  • Remoinho (1933)
  • Síntese (1934)
  • Solstício (1940)
  • Embalo (1942
O POETA


VISÃO

Desconheço a matéria  de que és feita,
Que mão febril teus corpo modelou;
Minha alma, ao pressentir-te, insatisfeita,
Como as ondas do mar se alevantou!

Oh! feminil visão clara e perfeita
Que o meu olhar profano dissipou,
Névoa que a luz do alvorecer enfeita
E o hálito da aragem dispersou!...

Na terra, em sonhos ando a procurar-te,
Na terra, pelo céu, e em toda a parte
Para beijar os rastos dos teu pés...

Mas quanto mais minha alma te procura,
Mais teu vulto se perde na fundura...
E por ti morro sem saber quem és!

(Fonte Branca)


PROFECIA

Se evoco a tua história,
Auguro a tua signa:
Terás aquela glória,
Ó alma, de quem és digna...

E embora eu não te veja
Irei sempre contigo...
Bem que, por vezes, seja
O teu pior amigo!...

(Solstício)


POEMA V DE INQUIETAÇÃO

Ah! vida, vida!
Vida preciosa
Que não tem preço!...
Formosa vida
Que eu não mereço...

Fundura de água cristalina,
Onde a luz vibra, se persigna,
Com os meus olhos debruçados
Do verde seio namorados!...

Vida a que tanto me apego...
Ah! vida, meu desassossego:
Exposta a todos os perigos,
Aos golpes de amoráveis inimigos!...

Vida infinita como um céu profundo,
Que tal frágil raiz deita ao mundo!...
Um frémito fugaz, um sopro, um nada
E pronto: a luz foi apagada!...

(Embalo)


E pronto
A luz do Poeta apagou-se em 1975, mas pela vida e obra que deixou teve a arte - o que não acontece a todos os homens - de receber todos os dias e em cheio, na praça que tem o seu nome na terra onde nasceu, a luz do sol a iluminar-lhe o rosto e uma montanha de livros onde apoia a sua mão direita, como se, naquela posição de escrita, continuasse ali, especado, naquela imagem pétrea a escrever o poema dos que, pela vida que levaram se vão da lei da morte libertando.



terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Campos de Figueiredo (1899-1965)





José Campos de Figueiredo, poeta, ensaísta e dramaturgo é natural Cernache, distrito de Coimbra. No tempo que passa, ele que foi um poeta de primeira grandeza é uma figura injustamente esquecida, como resultado de um tempo inculto que não vê nos escritores, como Campos de Figueiredo os pilares de uma certa imaterialidade vivida em cima das coisas reais de que se compõe a vida e que é preciso ler, porque mesmo na ficção- quando a usam - não deixam de apontar caminhos de vida.

Ele são - e se o não são - deviam ser considerados uma valia do País.

Campos de Figueiredo aliou à sua carreira de homem das Letras, num dado tempo, a profissão de bancário da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de que foi gerente, mas tendo-se notabilizado, sobretudo, como poeta o que lhe valeu ter recebido no ano de 1942 o prémio Antero de Quental com o livro "Navio da Montanha".

Como dramaturgo distinguiu-se no teatro radiofónico com o poema lírico-dramático "Obed", que lhe valeu a outorga em 1957 do prémio Ricardo Malheiros conferido pela Academia das Ciências de Lisboa.

Não é considerado como um lídimo representante de qualquer escola literária, no campo da poesia, tendo situado a sua obra poética escrita à margem de qualquer espartilho de ordem literária, assumindo assim, um cunho muito pessoal, onde perpassa um sentido cristão, sem esconder, no entanto, uma tendência pessimista o que, em termos cristológicos não deixa de ser algo antagónico, tendo em conta que estes apontam para uma linha de salvação do homem fundada nas raízes da sua esperança em Deus, como se habitasse nele o poeta atormentado pelo efémero das coisas e dos seres e alguma melancolia pelo destino frágil do homem.

A sua poesia, tem no entanto, uma graça leve a roçar o ar da Primavera, como se esta existisse sempre na roda do ano, o que de certo modo atenuou o pessimismo, onde nunca deixou morrer o seu cristianismo fazendo deste sentimento o recurso intemporal da sua arte poética.

Na sua juventude foi redactor do Jornal "O Povo de Cernache" e o "Académico", um periódico estudantil, até que, num vôo mais largo foi director de Revistas, como: "Conímbriga" - Tríptico" e colaborador da "Gazeta de Coimbra" e "Diário de Coimbra", tendo a sua vasta obra abarcado uma faceta a todos os títulos difícil que é a literatura dedicada às crianças de que se dão nota de alguns títulos:


In, livro biográfico de Maria Armanda de Almeida e Sousa


Publicou os seguintes livros:
  • Carta do Desterro (1916)
  • Jardim Fechado (1922)
  • Poemas do Instante e do Eterno (1934)
  • Poemas de Sempre (1937)
  • Reino de Deus (1939)
  • Navio na Montanha (1942)
  • O Primeiro Milagre de Jesus (1942) (teatro)
  • Biografia Literária de Manuel da Silva Gaio (1943)
  • Obed (1947)
  • Caim (1952)
  • A Actual Poesia Portuguesa (1956)
  • Cancioneiro do Amor, Imagem do Dia (1958)
  • Canções do Figueiral (1959)
  • Santa Luzia (1962)
  • O Necessário Encontro (1963)
  • Augúrio do Infante (1963)

O milagre das rosas


Trazia ouro aos Pobres… dava estrelas,
que no jardim azul do céu colhera,
mas, quando El-Rei Dinis desejou vê-las,
floriu, no seu regaço, a primavera.

− «Vede, são rosas brancas, fui colhê-las
para os gafos, Senhor! Julgáveis que era
dinheiro em vez de flores? A Deus prouvera
que em oiro e pão pudesse convertê-las!»

Repete-se o milagre, eternamente:
caem do céu, às horas do poente,
rosas de oiro, vermelhas, a sangrar…

E, à noite, é Ela sempre que, na treva,
sobre a linda Cidade medieva,
desfolha rosas brancas, ao luar!
..........................................

Auto-critica


Senhor! nunca me vi nem conheci
Dentro do negro abismo onde se esconde
O meu segredo humano, nem sei onde
Começa e acaba o que provém de ti!

Sei que errei o caminho e me perdi!
Agora, embora chame e grite e sonde,
No meu longo deserto, só responde
Ao longe, a voz do mar que nunca vi.

Em vão chamo por mim, em vão procuro
A luz que me pertence e que cintila
No fundo inquieto deste abismo escuro;

- Fio de água sumido nas areias, -
Vejo estátuas dramáticas de argila
Com dedadas fatais de mãos alheias!

                                   in, Poemas de Sempre
...................................................................

Fingimento


Iludo o sentido
Da vida em que vivo.
O mundo que sinto
É mundo que minto.

É mundo pensado
Aquém, do outro lado
Da margem do rio
Com águas em fio.

A imagem dos astros,
Das velas, dos mastros,
Das nuvens, das margens
É sombra de imagens.

Perdidas no fundo
Do engano do mundo.
Não quero a certeza
Da minha tristeza.

Deixai-me à vontade
Naquela verdade
Pensada e fingida
Que é logro de vida.

Se minto o que sinto,
De tudo o que minto
Iludo o sentido
Da vida que vivo.

                                  in "O Reino de Deus"
.........................................................

Do livro biográfico de Maria Armanda de Almeida e Sousa dedicado ao poeta de Cernache capturamos, com a devida vénia os seguintes poemas:

































Ao ler esta ternura que o Poeta dedicou aos seus avós - heróis de um tempo difícil e sombrio que se viveu nas localidades da Beira Baixa - quando fala "Da Minha Estirpe" tece com toda a sua alma um hino de amor, não apenas aos seus avós, como a todos os avós daquele tempo e daquele território nacional, onde viveram os meus próprios avós, que regaram como os avós de Campos de Figueiredo, a terra que lavraram.

Obrigado, Campos de Figueiredo, porque honrando na tua poesia os teus avós, honraste os meus e, por isso, eu rezo comovido ao Senhor pela tua alma grande e lastimo que Portugal te tenha esquecido tanto!

Portugal esqueceu-te para lembrar quem?
Certamente, para não lembrar ninguém... porque Portugal está a perder a memória!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Luís de Montalvor (S. Vicente-Cabo Verde 1891 - Lisboa 1947)




Luis de Montalvor com Fernando Pessoa

in, ("Restos de Colecção")



Luís  de Montavor é o pseudónimo literário do poeta, ensaísta e editor, de seu nome completo, Luís Filipe de Saldanha da Gama da Silva Ramos, nascido na Ilha de S. Vicente em 1891, da então colónia portuguesa de Cabo Verde, tendo falecido em Lisboa em 1947, num trágico acidente de automóvel, na companhia da mulher e do filho, engolido pelas águas do rio Tejo, nas cercanias da Estação Fluvial de Belém.


O acidente - que nunca assim foi entendido - parece ter-se tratado de um suicídio colectivo, mercê das circunstâncias económicas da família, tendo com aquele acto premeditado - ou não - desaparecido um vulto importante, cuja vida literária nas lides literárias começou como editor da Revista "Orpheu" em 1915 de que, depois, foi colaborador, inscrevendo o seu nome na escola do "modernismo", que alguns estudiosos inscrevem no "movimento que representou a continuidade e redescoberta do simbolismo.decadentismo", levando em linha de conta que a fundação em 1916 da Revista "Centauro", onde faz apelo à recuperação do "simbolismo" que foi buscar ao movimento literário em que professava Maeterlinck, com o seu fundo espiritual de uma mistura poética entroncada no lado misterioso da existência humana.


Capa da Revista "Orpheu" -  nº 1



É nas páginas do "Centauro" que faz publicar os poemas de Camilo Pessanha, que mais tarde (1920) foram reunidos no livro "Clépsidra" e que são, de acordo com os estudiosos, a "expressão mais pura do simbolismo português".

Colaborou, ainda, nas seguintes publicações: "Presença" - "Exílio" - "Athena" - "Contemporânea" - "Sudoseste" - "Cadernos de Poesia" e "Seara Nova", tendo desenvolvido uma actividade relevante ao nível editorial de que usufruiram as gerações poéticas da década de 40, tendo, inclusive, em 1930 fundado a Editorial Ática, que viria a publicar em 1942  as obras completas de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, num tempo em que a Editora gozava de alguma prosperidade, que o pós-guerra viria a complicar, até ao ponto de entrar em crise, o que levou Luís de Montalvor  a compartilhar a tragédia de muitos dos que o acompanharam no projecto da "Orpheu".

O "Mundo Literário" pela pena brilhante de Adolfo Casais Monteiro publicou sobre Luis de Montalvor, lembrando a sua morte, a seguinte local



in, "Restos de Colecção"


Deixou com a sua morte trágica a sua poesia esparsa que foi postumamente coligida em 1960, de que se publicam algumas poesias em honra e louvor de um homem da cultura portuguesa - hoje quase esquecido - o que prova que em Portugal, no tempo do chamado "Estado Novo", como acontece, agora, a cultura continua a ser a parente pobre dos regimes, sejam eles ditatoriais ou democráticos.




Entardecer

Sol-posto ungindo o mar: incensos de ouro!
Recolhe funda a tarde em sonho e mágoa.
Surdina fluida: anda o silêncio a orar –
E há crepúsculos de asas e, na água,
O céu é mármore extático a cismar!

E nas faces marmóreas dos rochedos
Esboçam-se perfis,
- Cintilações,
Penumbra de segredos!

Ó painéis de nuvens sobre a terra,
Ogivas delirantes
Na água refractando…
Encheis de sombra o mar de espumas rasas,
Iniciando
A hora pânica das asas!

E, à meia luz da tarde,
Na areia requeimada,
São vultos sonolentos
As proas dos navios…

Ó tristeza dos balões
Iluminando,
Na água prateada,
Os pegos e baixios…

Dormentes constelações
Que, em fundos lacustres
E musgosos,
Pondes reverberações
Em nossos olhos ansiosos.

Ó tardes de aquático esplendor,
Descendo em meu olhar!

Num sonho de regresso,
Numa ânsia de voltar,
Em mim todo me esqueço
E fico-me a cismar.

A tarde é toda um sonho moribundo.
É já olor da cor que amorteceu.
O céu vive no mar: sono profundo.
A asa do rumor no ar adormeceu!

Luís de Montalvor, in 'Antologia Poética'



Infante


Dá-me o sol a minha fronte. Doloridos
e chagados meus pés descalços vão fugindo...
- Memórias dos meus doidos passos incontidos!
- Ó meu rumor do mundo em pétalas abrindo!

Ó corças que correis pela tarde desferindo
o balido ligeiro que alonga os ouvidos...
- Tarde de écloga e mel silvestre reluzindo...
- Minhas vinhas de vinhos de oiro não bebidos...

Desfolham-se ilusões e vão-se sem apegos...
Murchou a flor dos meus desejos com que pude
a vida transformar em ócios e sossegos...

Que lucrei, eu, Senhor! com horas execráveis
dum sonho que perdeu meu corpo de virtude?
- o pródigo que fui dos erros inefáveis!

Luís de Montalvor, in 'Antologia Poética'



Baby!


Baby! Sossega a tua voz. Não digas mais
Essas canções do Mundo. Deixa que eu esqueço
Que fui menino ao colo de seus pais.
Deixa! Que o coração em si mesmo o adormeço...

Com olhos de criança olho os desiguais
Dias e nuvens, sós, passando, e empalideço...
Canto de Prometeu todo desfeito em ais!
E a vida, a vida até, brinquedo que aborreço...

Mundo dos meus enganos como a desventura!
Experiência, - pobre fumo! Anela o meu cabelo
E põe-me o bibe azul e antigo da Ternura...

Que a vida, essa Babel desfeita que se embala,
ainda é para mim - criança de Deus, pesadelo
Da infância das fanfarras, fogo de Bengala!

Luís de Montalvor, in 'Antologia Poética'


quinta-feira, 3 de julho de 2014

João de Deus (1830-1896) (2)



Gravura publicada pela Revista "Occidente" de 15 de Julho de 1878


Que dizer de João de Deus que não haja já sido dito?
Embora correndo esse risco, vou servir-me do livro "In Illo Tempore" de Trindade Coelho para respigar dele um dos  tema desse formoso feixe de memórias da sua vida académica, em Coimbra, ""Resurrexit non est hic" e que o autor dedica ao seu colega de estudo coimbrão, João de Deus

“In illo tempore – no tempo em que João de Deus andava em Coimbra, havia na Lusa Atenas, que é terra de mulheres bonitas, duas senhoras muito formosas, que eram irmãs, – uma chamada Raquel e a outra Cândida. A Raquel, principalmente, diz que era uma divindade; e a mocidade da Academia, sobretudo os poetas, bebiam os ares por ela! Não era branca nem morena; tinha uma cor de bronze, de uma suavidade encantadora, nariz grego, e então uns olhos extraordinários, aveludados, muito brilhantes e pestanudos, que eram a perdição da rapaziada! Os pretendentes eram assim – aos cardumes… E a cabeça de rapaz sobre a qual esses olhos admiráveis pousassem por um instante, mesmo casualmente, era cabeça perdida; porque entrava logo de andar à roda, como se fosse uma ventoinha, e o menos que lhe acontecia era rebentar numa catadupa de versos – que nem sempre, diga-se a verdade, eram condignos da inspiradora…

Ora o João de Deus pertencia à ala dos namorados dessa divindade, se bem que nunca lhe falasse; e tanto, que a majestosa Raquel ficou sendo para ele uma espécie de musa, como para o Camões a Catarina, para o Dante a Beatriz , a Laura para o Petrarca, para Miguel Ângelo Vitória Colonna, etc.,etc. Fez-lhe muitos versos, e aquela poesia "A Vida", que a não há mais linda em todo o mundo; e fez-lhe depois, quando ela morreu, aquela elegia que tem o seu nome – "Raquel"–uma das melhores coisas que o génio humano tem produzido, e que João de Deus, por sinal, improvisou numa tourada, alheio, absorto, estranho ao mais formidável chinfrim que se tem desencadeado numa praça de touros! Soubera a notícia da morte quando ia para lá; chegou e amodorrou-se a um canto: e quando se deu fé que a praça de touros tinha desabado, revolvida, de baixo para cima pelo furacão da rapaziada, foi dar com ele o João Vilhena, o seu fiel Acates, no mesmo lugar onde o deixara, e que por milagre tinha escapado! Pegou-lhe por um braço e levou-o dali, como se estivesse doido ou a dormir… (…) 

Esta Raquel foi uma paixão de João de Deus e, como assevera Trindade Coelho, foi por sua causa que o Poeta de S. Bartolomeu de Messines levou dez anos a concluir a sua formatura em Direito.
Manda, contudo, a verdade que se diga que em 1850 volta para Messines a fim de ajudar a sua meia irmã Maria Justa que se encontrava doente e que ele muito prezava perdendo assim um ano lectivo (no qual nem se matriculou), uma prova da rara sensibilidade que o levou assim até ao fim da vida.

A Raquel - segundo afirma Trindade Coelho - dedicou João de Deus o famoso poema "A Vida", que a não há mais linda em todo o mundo, como ele assevera:
Vejamos:

A vida

A José A. S. R. de Castro

Cosi trápassa, al trapassar d'un giorno,
Dela vita mortale il fiore e 'l verde,
Nè, perchè faccia indietro april ritorno,
Si rinfiora ella mai, nè si rinverde.

Tasso


Foi-se-me pouco a pouco amortecendo
A luz que nesta vida me guiava,
Olhos fitos na qual até contava
Ir os degraus do túmulo descendo.

Em se ela enuviando, em a não vendo,
Já se me a luz de tudo anuviava
Despontava ela apenas, despontava
Logo em minha alma a luz que ia perdendo.

Alma gémea da minha, e ingénua e pura
Como os anjos do céu (se o não sonharam...)
Quis mostrar-me que o bem bem pouco dura!

Não sei se me voou, se ma levaram;
Nem saiba eu nunca a minha desventura
Contar aos que inda em vida não choraram...

Ah! quando no seu colo reclinado,
Colo mais puro e cândido que arminho,
Como abelha na flor do rosmaninho
Osculava seu lábio perfumado;

Quando à luz dos seus olhos (que era vê-los,
E enfeitiçar-se a alma em graça tanta!)
Lia na sua boca a Bíblia santa
Escrita em letra cor dos seus cabelos;

Quando a sua mãozinha pondo um dedo
Em seus lábios de rosa pouco aberta,
Como tímida pomba sempre alerta,
Me impunha ora silêncio, ora segredo;

Quando, como a alvéola, delicada
E linda como a flor que haja mais linda,
Passava como o cisne, ou como ainda
Antes do sol raiar nuvem doirada;

Quando em bálsamo de alma piedosa
Ungia as mãos da súplice indigência,
Como a nuvem nas mãos da Providência
Uma lágrima estila em flor sequiosa;

Quando a cruz do colar do seu pescoço
Estendendo-me os braços, como estende
O símbolo de amor que as almas prende,
Me dizia... o que às mais dizer não ouço;

Quando, se negra nuvem me espalhava
Por sobre o coração algum desgosto,
Conchegando-me ao seu cândido rosto
No perfume de um riso a dissipava;

Quando o oiro da trança aos ventos dando
E a neve de seu colo e seu vestido,
Pomba que do seu par se ia perdido,
Já de longe lhe ouvia o peito arfando;

Quando o anel da boca luzidia,
Vermelha como a rosa cheia de água,
Em beijos à saudade abrindo a mágoa,
Mil rosas pela face me esparzia;

Tinha o céu da minha alma as sete cores,
Valia-me este mundo um paraíso,
Distilava-me a alma um doce riso,
Debaixo de meus pés brotavam flores!

Deus era inda meu pai, e em quanto pude
Li o seu nome em tudo quanto existe,
No campo em flor, na praia anda e triste,
No céu, no mar, na terra e... na virtude!

Virtude! Que é mais que um nome
Essa voz que em ar se esvai,
Se um riso que ao lábio assome
Numa lágrima nos cai!

Que és, virtude, se de luto
Nos vestes o coração?
És a blasfémia de Bruto:
Não és mais que um nome vão!

Abre a flor à luz, que a enleva,
Seu cálix cheio de amor,
E o sol nasce, passa e leva
Consigo perfume e flor!

Que é desses cabelos de oiro
Do mais subido quilate,
Desses lábios escarlate,
Meu tesoiro!

Que é desse hálito que ainda
O coração me perfuma!
Que é desse colo de espuma,
Pomba linda!

Que é duma flor da grinalda
Dos teus doirados cabelos!
Desses olhos, quero vê-los,
Esmeralda!

Que é dessa franja comprida
Daquele xaile mais leve
Do que a nuvem cor de neve,
Margarida!

Que é dessa alma que me deste,
Dum sorriso, um só que fosse,
Da tua boca tão doce,
Flor celeste!

Tua cabeça que é dela,
A tua cabeça de oiro,
Minha pomba! meu tesoiro!
Minha estrela!

De dia a estrela de alva empalidece;
E a luz do dia eterno te há ferido!
Em teu languido olhar adormecido
Nunca me um dia em vida amanhecesse!

Foste a concha da praia! A flor parece
Mais ditosa que tu! Quem te há partido,
Meu cálix de cristal onde hei bebido
Os néctares do céu... se um céu houvesse!

Fonte pura das lágrimas que choro,
Quem tão menina e moça desmanchado
Te há pelas nuvens os cabelos de oiro!

Some-te, vela de baixel quebrado!
Some-te, voa, apaga-te, meteoro!
É só mais neste mundo um desgraçado!

E as desgraças podia prevê-las
Quem a terra sustenta no ar,
Quem sustenta no ar as estrelas,
Quem levanta às estrelas o mar.

Deus podia prever a desgraça,
Deus podia prever e não quis!
E não quis, não... se a nuvem que passa
Também pôde chamar-se infeliz!

A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa:
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!

A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida - pena caída
Da asa de ave ferida -
De vale em vale impelida
A vida o vento a levou!

Como em sonhos o anjo que me afaga
Leva na trança os lírios que lhe pus,
E a luz quando se apaga
Leva aos olhos a luz!

Levou sim, como a folha que desprende
De uma flor delicada o vento sul,
E a estrela que se estende
Nessa abobada azul;

Como os ávidos olhos de um amante
Levam consigo a luz de um terno olhar,
E vento do levante
Leva a onda do mar!

Como o tenro filhinho quando expira
Leva o beijo dos lábios maternais,
E à alma que suspira
O vento leva os ais!

Ou coma leva ao colo a mãe seu filho,
E as asas leva a pomba que voou,
E o sol leva o seu brilho...
O vento ma levou!

E Deus, tu és piedoso,
Senhor! és Deus e pai!
E ao filho desditoso
Não ouves pois um ai!
Estrelas deste aos ares,
Dás pérolas aos mares.
Ao campo dás a flor,
Frescura dás às fontes,
O lírio dás aos montes,
E roubas-ma, Senhor!

Ah! quando numa vista o mundo abranjo,
Estendo os braços e, palpando o mundo,
O céu, a terra e o mar vejo a meus pés,
Buscando em vão a imagem do meu anjo,
Soletro à froixa luz de um moribundo
Em tudo só: Talvez!...

Talvez! - é hoje a Bíblia, o livro aberto
Que eu só ponho ante mim nas rochas quando
Vou pelo mundo ver se a posso ver;
E onde, como a palmeira do deserto,
Apenas vejo aos pés inquieta ondeando
A sombra do meu ser!

Meu ser... voou na asa da águia negra
Que, levando-a, só não levou consigo
Desta alma aquele amor!
E quando a luz do sol o mundo alegra,
Crisálida nocturna a sós comigo
Abraço a minha dor!

Dor inútil! Se a flor que ao céu envia
Seus bálsamos se esfolha, e tu no espaço
Achas depois seus átomos subtis,
Inda hás-de ouvir a voz que ouviste um dia...
Como a sua Leonor inda ouve o Tasso...
Dante, a sua Beatriz!

- Nunca! responde a folha que o outono,
Da haste que a sustinha a mão abrindo,
Ao vento confiou;
- Nunca! responde a campa onde do sono
E quem talvez sonhava um sonho lindo,
Um dia despertou!

- Nunca! responde o ai que o lábio vibra;
- Nunca! responde a rosa que na face
Um dia emurcheceu:
E a onda que um momento se equilibra
Em quanto diz às mais: Deixai que eu passe!
E passou e... morreu!

                                          in, "Campo de Flores"


Quando Raquel morreu - é, ainda, Trindade Coelho que o afirma, João de Desu fez soltar a lira e escreveu a seguinte elegia a que deu o nome do seu acrisolado amor de Coimbra, dedicando-a a sua irmã.


Raquel

A D. Cândida Nazaré

Despe o luto da tua soledade
E vem junto de mim, lírio esquecido
Do orvalho do céu!
Tens nos meus olhos pranto de piedade,
E se és, mulher! irmã dos que hão sofrido,
Mulher! sou irmão teu.

Consolos não te dou, que não existe
Quem de lágrimas suas nunca enxuto
Possa as de outro enxugar:
Não pôde alívios dar quem vive triste,
Mas é-me doce a mim ch
orar se escuto
Alguém também chorar.

Botão de rosa murcho à luz da aurora!
Que pecado equilibra o teu martírio
Na balança de Deus?
Se é como justo e bom que ele se adora,
Quem te há mudado a ti, ó rosa, em uno,
E em uno os lábios teus?

Não enche ele de bálsamos o cálix
Da flor a mais humilde, e esses espaços
Não enche ele de luz?
Não veio o Filho seu, lírio dos vales!
Só por amor de nós pregar os braços
Nos braços de uma cruz?

Mulher, mulher! quando eu num cemitério
Levanto o pó dos túmulos sozinho:
Eis, digo, eis o que eu sou!
Mas, quando penso bem nesse mistério
Da virtude infeliz: Vai teu caminho;
Dois mundos Deus criou!...

Deus não dispara a seta envenenada
À pombinha, que aos ares despedira,
Com mão traidora e vil;
Imagem sua, Deus não volve ao nada,
Não aniquila a flor que ao chão caíra
Lá desse eterno Abril!

Hás-de, cisne, expirando alçar teu canto;
Hás-de lá quando a lua da montanha
Te acene o extremo adeus,
Voar, Cândida, ao céu, e ébria de encanto;
No oceano de amor que as almas banha,
Unir teu canto aos seus.

Seus delas, mãe e irmã... cinzas cobertas
Dum só lanço de terra... Oh desventura!
Oh destino cruel!
Vejo-as ainda ir com as mãos incertas
Guiando-se uma à outra à sepultura,
E a mãe: "Raquel! Raquel!"

Desde então, à janela do ocidente
Te hão de ver como a bússola em seu norte
Fita pensando... em quê?
Oh! não n os voes também, pomba inocente!
É grande a eternidade e é certa a morte:
Espera, vive e crê!

Por ocasião da morte de sua irmã Raquel
e, poucos dias depois, de sua mãe.

                                         in, "Campo de Flores"


João de Deus Ramos nasceu em São Bartolomeu de Messines (Algarve) no dia 8 de Março de 1830 e faleceu em Lisboa, no dia 11 de Janeiro de 1896. Era filho de José Pedro Ramos e de D. Isabel Gertrudes Martins. A sua vida decorre entre os reinados de D. Maria II a D. Carlos.
Em 1849 entra na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Direito, curso que  acaba apenas em  1859, o que lhe terá suscitado dizer, que a sua formatura teria durado tanto tempo como a Guerra de Tróia. Acabado o Curso de Direito em prazo tão dilatado, deixa-se ficar por Coimbra, no meio estudantil das serenatas e da boémia, tendo-se, no entando, dedicado ao jornalismo e à advocacia na cidade do Mondego, a que se seguiram, Beja, Évora e Lisboa.

Questões familiares, fazem-no, em 1862, regressar ao Algarve. O seu espírito rebelde, porém, transvia-o para Beja, onde permanece durante dois anos, ocupado na redacção de “O Bejense”, jornal que em 1863, dá à estampa e por sua lavra artigos de crítica contra António Feliciano de Castilho, defensor do velho Romantismo, já a agonizar, sendo nesse mesmo ano convidado por Rodrigo de Morais Soares a escrever um folhetim educativo para o Archivo Real. (1)

João de Deus não seguiu qualquer escola literária mas adoptou uma estética muito própria, de um lirismo (2) que o torna o maior Poeta de Portugal, nesse campo. As suas poesias foram reunidas na colectânea Campo de Flores, publicada em 1893, incluindo-se nesta duas obras anteriores: Flores do Campo e Folhas Soltas. Dedicou-se à pedagogia, resultando daí a Cartilha Maternal publicada em 1876 – um  ensino de leitura às crianças que foi muito divulgado –  e do qual a Rainha D. Amélia disse: Nos seus versos aprendi a amar Portugal; na sua Cartilha Maternal aprendi a ler português e ensinei os meus filhos a ler.

Regressado a S. Bartolomeu de Messines, é  em Silves, em casa de José António Garcia Blanco que em 1869 que é convencido a disputar a eleição para deputado à Câmara. É eleito pelo círculo de Silves, facto que o obriga a fixar residência em Lisboa. A política, porém, não o fascina minimamente. É raro aparecer na Câmara, onde, no entanto se mantém durante uma legislatura por consideração aos amigos e seus eleitores.
Admira e frequenta a tertúlia e o remanso do Café Martinho, ali perto do teatro de D. Maria II.
Do seu casamento com D. Guilhermina Battaglia, tem cinco filhos, dois rapazes e três raparigas.

É nomeado, e contestado – acontece com os grandes homens - Comissário Geral do Ensino da Leitura, segundo o seu método, declarado de interesse nacional – a Cartilha Maternal.
Poeta, por um dom da sua alma lírica foi jornalista por acaso e pedagogo, por intuição.
Conhecido pelo seu indiferentismo por escolas literárias, João de Deus foi irredutível na ligação que manteve com  a verdade simples, que cantou com rara elevação, arvorando como temas fundamentais, Deus, a mulher, a sobrenaturalidade e aqui e ali o erótico ingénuo, revestido de roupagens naturais que dão uma inusitada beleza.

A sátira e as fábulas que ele trabalhou nos seus últimos anos de Coimbra, nunca  atingiram, no entanto,  o nível inultrapassável do seu lirismo puro e apaixonado.
Foi um poeta popular e ao mesmo tempo de um fino cariz cultural.
Em 1893, Teófilo Braga, edita, toda a obra dispersa no livro: Campo de Flores, que teve uma nova edição em 1896, ainda revista por João de Deus.

No dia 8 de Março de 1895, estudantes de Lisboa, Coimbra, Porto, Santarém, Braga, Lamego e Portalegre a que se juntou a Imprensa portuguesa, o povo anónimo e muitas as crianças, manifestam-se junto a sua casa, na Estrela, em Lisboa.
Era sócio honorário pela Academia Real das Ciências e pelo Instituto de Coimbra.
No dia 9, daquele mesmo ano assiste a um sarau no teatro D. Maria II que contou com a assistência do Rei D. Carlos. No fim saiu da sala sobre as capas dos estudantes.
O seu funeral, cerca de um ano depois, foi uma manifestação nacional, constituindo a maior consagração pública que algum dia se fizeram em Portugal a escritores.

Como um marco lírico ficou profundamente estrelado no céu da poesia portuguesa, o famoso poema, Enjeitadinha, que o povo antigo sabia de cor:

De que choras tu, anjinho?
"Tenho fome e tenho frio!    
— E só por este caminho
Como a ave que caiu
Ainda implume do ninho!...
A tua mãe já não vive?

"Nunca a vi em minha vida;
 Andei sempre assim perdida,
E mãe por certo não tive!"
— És mais feliz do que eu,
Que tive mãe e... morreu!

Sobre a mulher, deixou-nos, do seu profundo respeito e idolatrado sentir humano, composições que são jóias raras, com esta, Mal Sabes, que entre outras tem estas duas quadras:

Despedi-me de ti, os lábios rindo
Mas estalando o coração, que em suma
Deus me livrasse a mim por forma alguma,
De te nublar um dia o gesto lindo!

Que eu sofra, muito embora: o meu destino
Qual é senão sofrer a vida inteira?
Causa da tua lágrima primeira
É que nunca serei: não te amofino.

Na célebre cançoneta, Amor, João Deus eleva o seu lirismo tão puro e imaculado, que dir-se- á, estarmos em presença de um poeta de alma etérea:
                                                   
                                                     Não vês como eu sigo
                                                     Teus passos, não vês?
                                                     O cão do mendigo
                                                     Não é mais amigo
                                                     Do dono, talvez!

                                                     Ao pé de uma fonte
                                                     No fundo de um vale,
                                                     No alto de um monte
                                                     De vasto horizonte.
                                                     Sem ti estou mal!

João de Deus era um poeta de cunho cristão.
No poema Pátria, deixa-nos explícito algo que nos lembra a Parábola do Filho Pródigo, tecendo um ideia entretecida de sentimentos filiais tão nobres e tão altruístas que devem merecer de todos aqueles que têm a graça de lerem este formoso e cândido Poeta, um sentido respeito, pela harmonia e sentido dos versos e pelo seu encadeamento singularmente belo, que leva todo o homem de sentimentos puros a desejar morrer onde lhe embalaram o berço, como se naquele punhado de terra estivesse a Pátria inteira.
Diz, assim, João de Deus:

Como o pródigo volta ao lar paterno
Desenganado do que em vão procura,
Eu já desfalecido nesta lida
De sonhos sobre sonhos de ventura,
Desejava dormir o sono eterno
Abrindo junto ao berço a sepultura!
Fechar em suma o círculo da vida
No saudoso ponto de partida!

Chegado, pois, Senhor, aquele dia
Que se me apague a luz que me alumia,
Deixai-me descansar onde repousa
Meu santo pai e sua terna esposa
- A minha santa mãe!
Ser-me-á assim mais leve a fria lousa...
Que a terra onde se nasce é mãe também!

Este desejo do Poeta, de dormir o sono da morte junto dos seus progenitores não se cumpriu.
Pela sua postura de cidadão erguido ao cume mais alto da honra de ter vivido e ter feito da vida uma causa em prol dos outros, como o atesta, para além do valor da sua obra poética – que é um ímpar em toda a Literatura portuguesa – a sua obra de pedagogo, traduzida na Cartilha Maternal, onde muitas gerações de portugueses aprenderam a ler, a Pátria, fez do seu corpo, património comum, e ao dar-lhe honras de Estado, fê-lo repousar no Panteão Nacional ao lado de Almeida Garrett e Guerra Junqueiro, homens, que como ele, se libertaram da lei da morte, no dizer inspirado de Luís de Camões.
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(1) - Jornal de Agricultura fundado em 1858, quando o Bacharel em Medicina, que ficou conhecido por Morais Soares, tomou posse em1852 do cargo de Chefe de Repartição da Agricultura da Secretaria das Obras Públicas, criada no reinado de D. PedroV. Em Lisboa, existe uma rua com o seu nome
(2) - O lirismo tem a sua primeira afirmação nacional na poesia trovadoresca, cujos géneros principais são: as cantigas de amor assimiláveis à poética provençal, na qual o poeta exprime uma forte admiração e submissão em relação à mulher amada