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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Campos de Figueiredo (1899-1965)





José Campos de Figueiredo, poeta, ensaísta e dramaturgo é natural Cernache, distrito de Coimbra. No tempo que passa, ele que foi um poeta de primeira grandeza é uma figura injustamente esquecida, como resultado de um tempo inculto que não vê nos escritores, como Campos de Figueiredo os pilares de uma certa imaterialidade vivida em cima das coisas reais de que se compõe a vida e que é preciso ler, porque mesmo na ficção- quando a usam - não deixam de apontar caminhos de vida.

Ele são - e se o não são - deviam ser considerados uma valia do País.

Campos de Figueiredo aliou à sua carreira de homem das Letras, num dado tempo, a profissão de bancário da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de que foi gerente, mas tendo-se notabilizado, sobretudo, como poeta o que lhe valeu ter recebido no ano de 1942 o prémio Antero de Quental com o livro "Navio da Montanha".

Como dramaturgo distinguiu-se no teatro radiofónico com o poema lírico-dramático "Obed", que lhe valeu a outorga em 1957 do prémio Ricardo Malheiros conferido pela Academia das Ciências de Lisboa.

Não é considerado como um lídimo representante de qualquer escola literária, no campo da poesia, tendo situado a sua obra poética escrita à margem de qualquer espartilho de ordem literária, assumindo assim, um cunho muito pessoal, onde perpassa um sentido cristão, sem esconder, no entanto, uma tendência pessimista o que, em termos cristológicos não deixa de ser algo antagónico, tendo em conta que estes apontam para uma linha de salvação do homem fundada nas raízes da sua esperança em Deus, como se habitasse nele o poeta atormentado pelo efémero das coisas e dos seres e alguma melancolia pelo destino frágil do homem.

A sua poesia, tem no entanto, uma graça leve a roçar o ar da Primavera, como se esta existisse sempre na roda do ano, o que de certo modo atenuou o pessimismo, onde nunca deixou morrer o seu cristianismo fazendo deste sentimento o recurso intemporal da sua arte poética.

Na sua juventude foi redactor do Jornal "O Povo de Cernache" e o "Académico", um periódico estudantil, até que, num vôo mais largo foi director de Revistas, como: "Conímbriga" - Tríptico" e colaborador da "Gazeta de Coimbra" e "Diário de Coimbra", tendo a sua vasta obra abarcado uma faceta a todos os títulos difícil que é a literatura dedicada às crianças de que se dão nota de alguns títulos:


In, livro biográfico de Maria Armanda de Almeida e Sousa


Publicou os seguintes livros:
  • Carta do Desterro (1916)
  • Jardim Fechado (1922)
  • Poemas do Instante e do Eterno (1934)
  • Poemas de Sempre (1937)
  • Reino de Deus (1939)
  • Navio na Montanha (1942)
  • O Primeiro Milagre de Jesus (1942) (teatro)
  • Biografia Literária de Manuel da Silva Gaio (1943)
  • Obed (1947)
  • Caim (1952)
  • A Actual Poesia Portuguesa (1956)
  • Cancioneiro do Amor, Imagem do Dia (1958)
  • Canções do Figueiral (1959)
  • Santa Luzia (1962)
  • O Necessário Encontro (1963)
  • Augúrio do Infante (1963)

O milagre das rosas


Trazia ouro aos Pobres… dava estrelas,
que no jardim azul do céu colhera,
mas, quando El-Rei Dinis desejou vê-las,
floriu, no seu regaço, a primavera.

− «Vede, são rosas brancas, fui colhê-las
para os gafos, Senhor! Julgáveis que era
dinheiro em vez de flores? A Deus prouvera
que em oiro e pão pudesse convertê-las!»

Repete-se o milagre, eternamente:
caem do céu, às horas do poente,
rosas de oiro, vermelhas, a sangrar…

E, à noite, é Ela sempre que, na treva,
sobre a linda Cidade medieva,
desfolha rosas brancas, ao luar!
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Auto-critica


Senhor! nunca me vi nem conheci
Dentro do negro abismo onde se esconde
O meu segredo humano, nem sei onde
Começa e acaba o que provém de ti!

Sei que errei o caminho e me perdi!
Agora, embora chame e grite e sonde,
No meu longo deserto, só responde
Ao longe, a voz do mar que nunca vi.

Em vão chamo por mim, em vão procuro
A luz que me pertence e que cintila
No fundo inquieto deste abismo escuro;

- Fio de água sumido nas areias, -
Vejo estátuas dramáticas de argila
Com dedadas fatais de mãos alheias!

                                   in, Poemas de Sempre
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Fingimento


Iludo o sentido
Da vida em que vivo.
O mundo que sinto
É mundo que minto.

É mundo pensado
Aquém, do outro lado
Da margem do rio
Com águas em fio.

A imagem dos astros,
Das velas, dos mastros,
Das nuvens, das margens
É sombra de imagens.

Perdidas no fundo
Do engano do mundo.
Não quero a certeza
Da minha tristeza.

Deixai-me à vontade
Naquela verdade
Pensada e fingida
Que é logro de vida.

Se minto o que sinto,
De tudo o que minto
Iludo o sentido
Da vida que vivo.

                                  in "O Reino de Deus"
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Do livro biográfico de Maria Armanda de Almeida e Sousa dedicado ao poeta de Cernache capturamos, com a devida vénia os seguintes poemas:

































Ao ler esta ternura que o Poeta dedicou aos seus avós - heróis de um tempo difícil e sombrio que se viveu nas localidades da Beira Baixa - quando fala "Da Minha Estirpe" tece com toda a sua alma um hino de amor, não apenas aos seus avós, como a todos os avós daquele tempo e daquele território nacional, onde viveram os meus próprios avós, que regaram como os avós de Campos de Figueiredo, a terra que lavraram.

Obrigado, Campos de Figueiredo, porque honrando na tua poesia os teus avós, honraste os meus e, por isso, eu rezo comovido ao Senhor pela tua alma grande e lastimo que Portugal te tenha esquecido tanto!

Portugal esqueceu-te para lembrar quem?
Certamente, para não lembrar ninguém... porque Portugal está a perder a memória!

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