(...) A Igreja tem uma missão
espiritual, sacerdotal. No campo do espírito constitui uma "sociedade
perfeita", quer dizer, independente sobretudo do Estado, que, no que diz
respeito ao bem comum temporal, forma também uma sociedade perfeita; neste
domínio é autónoma e não depende de nenhuma autoridade na terra. Ambos, Igreja
e Estado, estão ao serviço de Deus nas missões respectivas que Deus lhe
confiou. "Deus dividiu, pois, o governo do
género humano entre dois poderes: o poder eclesiástico e o poder civil; àquele
proposto às coisas divinas, este às coisas humanas. Cada uma delas no seu género
é soberana; cada uma está encerrada em limites perfeitamente determinados, e
traçados em conformidade com a sua natureza e com o seu fim especial. Há, pois,
como que uma esfera circunscrita em que cada uma exerce a sua acção por direito
próprio". (1)
Fonte: Livro "Força e Fraqueza da Religião" de Bernhard Haring
(1) - O texto entre aspas é cópia ipsis-verbis do nº 19 da Encíclica "Immortale Dei" de Leão XIII
(1) - O texto entre aspas é cópia ipsis-verbis do nº 19 da Encíclica "Immortale Dei" de Leão XIII
Após esta leitura que o sociólogo e teólogo alemão enquadra com uma citação do Papa Leão XIII, fica como um consolo para o cristão - um bem que está a acontecer - ou seja, a Igreja completamente desembaraçada do domínio do poder temporal a que acresce a completa falta de ambição de o possuir, ficando deste modo livre de pregar ao Estado o domínio de Deus sobre as duas realidades que vivem lado a lado, mas com funções específicas que sendo opostas nos meios como agem perante a sociedade civil de onde ambas imergem, gerem, afinal, interesses comuns desde que estes sejam exercidos com espírito de missão e de respeito de uma pela outra.
Leão XIII ao explicitar que Deus dividiu, pois, o governo do género humano entre dois poderes, não podia ser mais certeiro, porquanto, se o da Igreja - numa comparação lícita - é como o "ferreiro que molda e tempera o aço", o poder do Estado não pode nem o deve "destemperar" com o cumprimento de leis abusivas da dignidade da pessoa, o que acontece, quando estas se intrometem no campo da moral doutrinal, que é, pela sua natureza aquilo que representa no homem a parte em que ele é parecido com Deus.
E, neste campo, qualquer intromissão do Estado é anti-natural.
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