Adoração dos Magos de Domingos Sequeira
Estou na gruta de Belém!
Sou um simples pastor que desceu
o monte,
trazendo o alforge cheio de presentes
para os dar ao Menino.
Dei-lhos todos, um por um.
Vim, especialmente, à gruta de
Belém
para oferecer os préstimos
do rebanho pequenino que o seu
Amor me deu.
Penso que o Menino ficou contente
ao ver-me feito pastor de mim e
dos meus.
Mas, vi no Seu modo, que me pedia
mais:
pedia-me
para ser pastor no meu emprego
e, até, na rua onde passo todos
os dias.
Olhei-o com ternura.
e depois, pensei, que pastores,
afinal,
são todos os homens.
E vieram-me à mente os que o não
são.
e a ser assim
são as ovelhas perdidas do Seu
rebanho
onde devo ir.
Esta reflexão
de uma quase poesia de Natal que faz parte da colaboração que dou à RR, sugere
que o pastor que sou, veio um dia pelo monte abaixo da existência e tomou sobre
si mesmo a incumbência de se abeirar do presépio, e mostrar disponibilidade ao
Menino para O servir.
Ser pastor, é
isto: servir.
Foi o que fez
o Menino do Presépio. Pediu-nos a graça de O servir na obra do resgate para a
luz dos que vivem nas trevas.
É esta uma das
mensagem que o presépio nos pede, porque, podemos construir presépios lindos,
com papéis coloridos, luzes, sons, caminhos, com São Josés, Nossas Senhoras,
Reis-Magos e camelos, mas se no presépio pomos o Menino a dormir em vez de
sentirmos que a Sua voz interpela, o nosso
presépio é uma encenação a mais no grande teatro do mundo.
É disto que nos devemos precaver.
Aquele Menino rosado e loiro, de olhinhos redondos e límpidos, se
repararmos nunca os fecha no seu leito de palhas porque é assim que Ele quer
ser visto: sempre acordado a ver o mundo que passa, donde será uma falta se O
julgamos a dormir.
No presépio o Menino está atento ao modo como quer ser interrogado
pelos homens que o deitaram naquela posição de sono à espreita, quando, afinal,
Ele olha para todos de olhos nos olhos para ver e sentir o que vamos fazer com
Ele neste Natal.
Já pensamos nisto?
Agradava-lhe, certamente, que ouvíssemos o que Ele tem para nos dizer a
nós que somos pastores não ordenados, mas também responsáveis pelas ovelhas perdidas da casa de Israel. (1)
Como quem semeia, mesmo em chão duro, vamos procura-las.
Neste Natal com a alegria de sentirmos que a voz do Menino nos chama,
partamos pelos nossos caminhos e, embora imperfeitamente, tentemos imitar o que
ele disse e fez relativamente aos que andavam longe da Casa do Pai.
Que o presépio nos inspire e nos leve àqueles que conhecemos e – talvez
por nossa culpa – não se deixaram enxertar na vide verdadeira e não são
sementes de bênçãos.
Semeemos, pois, tendo em mente este poema de Miguel Torga:
Mas todo o semeador
Semeia contra o presente.
Semeia como vidente
A seara do futuro
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente. (2)
Que seja assim.
Que o Menino nos dê a coragem de semear contra o presente, que é um tempo duro, todos o sabemos, mas não
podemos deixar de semear a seara do
futuro.
É a voz do Menino que nos vai interpelar, neste sentido, no próximo Dia de Natal que se aproxima!
(1) - Mt 15, 24
(2) - in, “Nihil Sibi”
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