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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Estou na gruta de Belém!




Adoração dos Magos de Domingos Sequeira




Estou na gruta de Belém!
Sou um simples pastor que desceu o monte,
trazendo o alforge cheio de  presentes
para os dar ao Menino.

Dei-lhos todos, um por um.

Vim, especialmente, à gruta de Belém
para oferecer os préstimos
do rebanho pequenino que o seu Amor me deu.
Penso que o Menino ficou contente
ao ver-me feito pastor de mim e dos meus.

Mas, vi no Seu modo, que me pedia mais:
pedia-me
para ser pastor no meu emprego
e, até, na rua onde passo todos os dias.

Olhei-o com ternura.
e depois, pensei, que pastores, afinal,
são todos os homens.
E vieram-me à mente os que o não são.
e a ser assim
são as ovelhas perdidas do Seu rebanho
onde devo ir. 




Esta reflexão de uma quase poesia de Natal que faz parte da colaboração que dou à RR, sugere que o pastor que sou, veio um dia pelo monte abaixo da existência e tomou sobre si mesmo a incumbência de se abeirar do presépio, e mostrar disponibilidade ao Menino para O servir.
Ser pastor, é isto: servir.

Foi o que fez o Menino do Presépio. Pediu-nos a graça de O servir na obra do resgate para a luz dos que vivem nas trevas.
É esta uma das mensagem que o presépio nos pede, porque, podemos construir presépios lindos, com papéis coloridos, luzes, sons, caminhos, com São Josés, Nossas Senhoras, Reis-Magos e camelos, mas se no presépio pomos o Menino a dormir em vez de sentirmos que a Sua voz interpela, o nosso  presépio é uma encenação a mais no grande teatro do mundo.

É disto que nos devemos precaver.
Aquele Menino rosado e loiro, de olhinhos redondos e límpidos, se repararmos nunca os fecha no seu leito de palhas porque é assim que Ele quer ser visto: sempre acordado a ver o mundo que passa, donde será uma falta se O julgamos a dormir.
No presépio o Menino está atento ao modo como quer ser interrogado pelos homens que o deitaram naquela posição de sono à espreita, quando, afinal, Ele olha para todos de olhos nos olhos para ver e sentir o que vamos fazer com Ele neste Natal.

Já pensamos nisto?
Agradava-lhe, certamente, que ouvíssemos o que Ele tem para nos dizer a nós que somos pastores não ordenados, mas também responsáveis pelas ovelhas perdidas da casa de Israel. (1)
Como quem semeia, mesmo em chão duro, vamos procura-las.
Neste Natal com a alegria de sentirmos que a voz do Menino nos chama, partamos pelos nossos caminhos e, embora imperfeitamente, tentemos imitar o que ele disse e fez relativamente aos que andavam longe da Casa do Pai.

Que o presépio nos inspire e nos leve àqueles que conhecemos e – talvez por nossa culpa – não se deixaram enxertar na vide verdadeira e não são sementes de bênçãos.
Semeemos, pois, tendo em mente este poema de Miguel Torga:

Mas todo o semeador
Semeia contra o presente.
Semeia como vidente
A seara do futuro
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente.  (2)

Que seja assim.

Que o Menino nos dê a coragem de semear contra o presente, que é um tempo duro, todos o sabemos, mas não podemos deixar de semear a seara do futuro.
É a voz do Menino que nos vai interpelar, neste sentido, no próximo Dia de Natal que se aproxima!




(1)  - Mt 15, 24
(2) - in, “Nihil Sibi”

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