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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Leão XIII - O Papa que aproximou a Igreja com o mundo-pós Revolução Industrial



O Papa Leão XIII (1878~1903)

Foto publicada pela Revista "Occidente" xxv volume, nº 833 - 20 de Fevereiro de 1902


De seu nome de baptismo Vicenzo Gioacchino Pecci, este pleclaro cristão católico desde Carpineto a sua terra natal do território de Siena, subiu toda a escala de formação e ordenação eclesiástica até ao dia 18 de Fevereiro de 1878, em que o conclave cardinalício o elegeu Papa, tendo escolhido para o exercício do seu alto magistério o nome de Leão XIII.

A sua Encíclica "Rerum Novarum" de 15 de Maio de 1891 que o levou a tecer sábias considerações sobre a miserável condição do operariado, foi, sobretudo, uma Cata Aberta que ele dirigiu aos Bispos de todo o mundo, onde as questões levantadas no decurso da Revolução Industrial em desfavor dos operários, tendo na devida conta as sociedades que iam acolhendo a Democracia em finais do século XIX, o levou a apoiar o direito dos trabalhadores em formarem os seus próprios Sindicatos - sem contudo deixar de verberar as tendências socialistas e sociais-democratas da época - mas, pondo como questão fundamental a discussão das relações entre os governos, os negócios, o trabalho e a Igreja.

Para tanto, Leão XIII criticou veementemente a falta de princípios éticos e valores morais da sociedade que via laicizar-se perigosamente, donde resultavam em grande parte a causa dos graves problemas sociais, propondo uma melhor justiça na vida social, económica e industrial, com uma melhor distribuição da riqueza, advogando a intervenção do Estado a favor dos mais desprotegidos, bem como a existência dos patronatos no sentido de educar, proteger e alimentar a população mais carente.

A "Rerum Novarum" é unanimemente considerara a "Carta Magna" do Magistério Social da Igreja, ficando-se-lhe a dever uma sistematização mais actuante do pensamento social católico, onde, ainda hoje, vai "beber" a Doutrina Social da Igreja, sendo aquela Encíclica o primeiro pilar - e o mais importante - que permitiu à Igreja Católica erigir o belo Edifício do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa S. João XXIII em 25 de Dezembro de 1961 e terminado em 8 de Dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI.


No nº 2 da Introdução da "Rerum Novarum",  Leão XIII, expõe com clareza aquilo a que ele chamou, as
Causas do conflito

Em todo o caso, estamos persuadidos, e todos concordam nisto, de que é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida. O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles uma protecção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada. A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição. A tudo isto deve acrescentar-se o monopólio do trabalho e dos papéis de crédito, que se tornaram o quinhão dum pequeno número de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão dos proletários.



Quando, hoje, vemos alguns Sindicatos, mormente os que se tornam elos da corrente que os liga a forças partidárias de protesto social - como acontece entre nós com a CGTP - é-nos lícito pensar que o Papa Leão XIII, com a Encíclica "Rerum Novarum" lhes deu lições sociais que eles aproveitaram, a par de outros documentos do Concílio Vatican II - como a Constituição Pastoral "Gaudium et Spes"-  que é uma tomada de posição do alto Magistério da Igreja Católica sobre o mundo actual, contra os desvios relativamente aos mais pobres.

É assim, que na Introdução - no capítulo "A Condição do Homem no Mundo Actual", no nº 4. é dito o seguinte:  Nunca o género humano teve ao seu dispor tão grande abundância de riquezas, possibilidades e poderio económico; e, no entanto, uma imensa parte dos habitantes da terra é atormentada pela fome e pela miséria, e inúmeros são ainda os analfabetos. Nunca os homens tiveram um tão vivo sentido da liberdade como hoje, em que surgem novas formas de servidão social e psicológica. Ao mesmo tempo que o mundo experimenta intensamente a própria unidade e a interdependência mútua dos seus membros na solidariedade necessária, ei-lo gravemente dilacerado por forças antagónicas; persistem ainda, com efeito, agudos conflitos políticos, sociais, económicos, «raciais» e ideológicos, nem está eliminado o perigo duma guerra que tudo subverta. Aumenta o intercâmbio das ideias; mas as próprias palavras com que se exprimem conceitos da maior importância assumem sentidos muito diferentes segundo as diversas ideologias. Finalmente, procura-se com todo o empenho uma ordem temporal mais perfeita, mas sem que a acompanhe um progresso espiritual proporcionado.

Pena e, por isto, que alguns Sindicatos - e mormente a CGTP -  não tenham aproveitado os ensinamentos cristãos para serem mais próximos destes mestres católicos, continuando a propor o método marxista da "luta pela luta", na certeza que, uma certa humildade no reconhecimento  - que foi a todos os modos uma revolução com incidências sociais dentro da Igreja Católica a partir de Leão XIII - traria mais paz social que os seus desacatos de linguagem e de protestos populares, que não deixam de ser, apenas, um modo de se protagonizarem a eles mesmos.

A Igreja actual - passadas que estão épocas de alguns desvios doutrinais incompreensíveis e de que já se penitenciou - é,hoje, a todos os títulos, uma Instituição que tendo chamado a si com sentimento renovado a pregação do seu fundador - Jesus Cristo - vive melhor com a sociedade de onde imergem os homens que a servem e fundamentalmente empenhados na difusão da doutrina evangélica, mas partindo dela para uma atenta defesa social da sociedade, sobretudo, para os cuidados a ter com uma certa ganância mercantilista que Leão XIII denunciou e a actual Doutrina Social da Igreja não deixa de apontar como um dos graves defeitos sociais do nosso tempo.


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