Anunciação do Anjo de Leonardo da Vinci
Hoje, na consoada, a maioria do mundo cristão católico celebra o nascimento de Jesus, e na vigília da noite não esquece Maria Santíssima, porque ao ter dito SIM à visita do Anjo Gabriel, desde então, está na génese da Festa desta noite em que o Verbo de Deus se humanizou, para ser Deus-connosco.
Maria presente desde a primeira aurora dos tempos nos desígnios celestes, recebeu - como estava escrito - a Boa Nova e com a sua permissão abriu ao mundo inteiro o Livro onde na mistura do divino com o humano, aquele Menino que ela aninhava no seu ventre cumpria toda a Lei e tudo quanto os profetas haviam dito.
Maria, conhecia tudo isto as leituras que ouvia na sinagoga, sem esperar, contudo, que seria ela a Virgem da Anunciação que fazia parte da cultura religiosa que havia aprendido.
Este episódio sagrado, sob todos os aspectos, tem merecido na Literatura universal os mais diversos tratamentos, quer em prosa, quer em verso, especialmente, em verso, omde desde as cantigas e loas populares de exaltação lúdica deste momento singular ao verso mais trabalhado e culto, Nossa Senhora tem merecido as honras que lhe são merecidas.
Em Portugal, muitos dos nossos poetas também não esqueceram a Anunciação do Anjo, ressaltando de entre eles, Gomes Leal. No seu livro "História de Jesus" dedica esta formosa composição, irrepreensivelmente contida em sete sílabas métricas, a que chamou:
A VIRGEM DA GALILEIA.
Era
uma vez uma Virgem
Em
Nazaré, branca aldeia,
que
tinha um noivo da origem
dos
velhos reis a Judeia.
À
porta do seu casal
crescia
a flor do espinheiro,
como
um emblema primeiro
do
diadema real.
De
rastos seus pés beijavam
as
plantas. como às Rainhas.
No
seu telhado adejavam
as
asas das andorinhas.
Consolar
a alheia mágoa
ninguém
sabia tão bem!
Era
mais pura que a água
da
cisterna de Belém.
Havia anseios contidos,
como
vozes de quem roga,
quando
ia, de olhos descidos,
ao
sábado, à sinagoga.
Vinham
as pombas, em bando,
sobre
as suas mãos pousar,
quando
fiava, cantando,
sentada,
à porta do lar.
Dizia
a branca açucena,
para
a flor do rosmaninho:
-
Que casta virgem morena
toda
vestida de linho!
O
mar que se ri da sonda
dizia
com tom estranho:
-
Quem me dera uma só onda
do
seu cabelo castanho!
Toda
a tarde, um rouxinol
cantava
à flor do espinheiro:
-
Que lindo rosto trigueiro!
Que
cantos cheios de sol!
Os
marinheiros as barcas
paravam,
como em delírio.
Era
o mais místico lírio
do
bordão dos Patriarcas!
Ora,
uma vez, que fiava
cantando
ao pé do espinheiro
à
porta do lar pousava
um
singular mensageiro.
Voavam
pombas nos cumes.
O
sol descia a ladeira.
No
ar boiavam perfumes
místicos
de laranjeira.
O
rosto do mensageiro,
plácido
e resplendente,
brilhava
como um guerreiro,
ou
como o sol no Oriente.
Então,
com voz grave, cheia
de
uma inefável poesia,
à
Virgem da Galileia
saudou-a:
"Ave Maria!
Ave,
ó lírio impoluto!
cheia
e graça ante os Céus.
Bento
no ventre é teu fruto,
Convosco
é o Senhor Deus"!
Mas
ela, com humildade,
como
a rasteirinha erva:
- "Faça-se
a vossa vontade,
Senhor,
eis a vossa serva"!
Então
as rolas voaram.
Deu
graças o Oceano vário.
-
Mas, sobre as hastes, choraram
as
violetas do Calvário!
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