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sábado, 13 de dezembro de 2014

Poemas de Natal "roubados" por mim aos Poetas de Portugal (2)




Adoração dos Magos - Quadro de Domingos Sequeira


Foi de novo, numa outra pesquisa, que encontrei o Natal presente nos poetas de Portugal, tornando-o com as suas interpretações poéticas no acontecimento magno que ele é na História da Humanidade


OS REIS MAGOS

Nas torres, olhando os astros,
que viajam pelos céus,
Os Reis Magos viram rastros
do avatar de um grande Deus.

Leram em livros profundos,
que a Caldeia e Assíria têm,
que estava a descer dos mundos
um Deus a Jerusalém

Cheios de assombro à janela,
mudos ficam os seus lábios!
De pé olhando uma estrela,
velam noites os reis sábios.

Não querem mais alimento,
nem com rainhas dormir.
Não tomam ao trono assento!
Não mais volvem a sorrir!

Somente olham, sem cessar,
a branca estrela brilhante
como o ceptro dominante
do rei que vai a reinar.

Abraçam a esposa amada.
Dão as chaves aos herdeiros.
Mandam vir seus escudeiros,
Os seus bordões de jornada.

Despejam os seus erários,
cheios de alvoroço imenso.
Carregam seus dromedários,
d´ouro, de mirra, de incenso.

Passam rios e cidades
cheias de estátuas guerreiras,
palácios, campos, herdades,
cisternas sob as palmeiras.

Seguem a luz do astro belo,
que as estradas lhes clareia,
até chegar ao castelo,
do rei que reina em Judeia.

Chegados ao rei cruel,
que de Herodes nome tem,
bradam: «O Rei de Israel
nasceu em Jerusalém?...»

Fica assombrado o Tetrarca,
Diz-lhes tal nova ignorar.
- «Mas, em nome da Santa Arca,
voltai, reis, ao meu solar!»

Seus olhos ficam sombrios:
vê perdido o seu tesouro,
soldados, terras, navios,
da Judeia o ceptro de ouro!

 Tomam os reis seus bordões
Levantam as suas tendas.
Carregam as suas oferendas.
Demandam novas regiões.

Passam rios e cidades
cheias de estátuas guerreiras,
palácios, campos, herdades,
cisternas sob palmeiras.

Passam colinas, rebanhos,
campos de louras searas,
quando a lua faz desenhos
no chão das estradas claras.

Passam o quente areal
que a palmeira não conforta.
Eis que a estrela pára à porta
de um decrépito curral.

Descem dos seus dromedários,
cheios de pó os reis sábios.
Descarregam seus erários.
- Mas estão mudos seus lábios.

Rojam as barbas nevadas
Sobre o Deus que adormecera.
Com as mãozinhas rosadas
Da Mãe nos seios de cera.

Seus olhos sentem assombros
e nadam cheios de choro.
- Rasgam seus mantos de ombros.
- Dão-lhe mirra, incenso e ouro.

Esquecem sua nação
mais seus carros de batalha.
- Seus ceptros rolam na palha!
- Seus diademas no chão!

E erguendo seus olhos graves,
perguntam então – olhando
as pombas voando, em bando,
os aldeões, mais as aves:

«É este o rei dos senhores?
Tábua da Lei das rainhas?
Por archeiros – tem pastores.
Por pagens – as andorinhas.»

Gomes Leal


UM POEMA DE NATAL


Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa


LITANIA DE NATAL


A noite fora longa, escura e fria,
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono e disse: "Meu Jesus..."
Sem bem saber, sequer, por que o dizia.

E o anjo do  Senhor: "Ave Maria!"

Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mão erguia.
Comigo repetia: "Meu Jesus..."
Que então me recordei do santo dia.

E o anjo do Senhor: "Ave Maria!"

Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: "Meu Jesus..."
E as tarde descaiu, lenta e sombria.

E o anjo do Senhor: "Ave Maria!"

De novo a noite longa, escura e fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: "Meu Jesus..."

E assim, mais uma vez, Jesus nascia.

José Régio


O que o grande Poeta quer dizer com esta "Litania" é que, Jesus está pronto a nascer em cada dia no coração do homem desde que este o invoque e o convoque para lhe fazer companhia, o que vai ao encontro de um axioma muito belo e profundo na sua menagem, ao dizer: Natal é quando o homem quiser, bastando, apenas, dizer com a alma concentrada no grande Mistério: "Meu Jesus..." como o fez José Régio e Ele, fica pronto para nascer no coração do homem.












Eu mesmo, sem que tenha a pretensão de ombrear e, muito menos de me incluir nestes nomes grandes da Poesia de Portugal - um dia - tocado pela Festa que o Advento ia preparando no coração dos homens, tive a ousadia de escrever sobre o Natal de Jesus, deixando-lhe as impressões 


 AO DEUS-MENINO

Grande noticia é esta.
Em Belém,
Há mais de dois milénios de dias
Nasceu um lindo Menino
Para nosso bem!
Em Seu louvor houve festa
E houve um brilho divino
Nos olhos de Sua Mãe
Anunciada em Isaías,

Há muito era esperado.
E ao frio que era um açoite
Nasceu risonho  e rosado...
E fez-se dia em plena noite!


A liberdade poética permite dizer o que expressa o último verso, sem que o autor incorra em qualquer contrasenso, porquanto, a levarmos em conta o sentido espiritual que não pode ser arredado do Natal, Jesus veio para encher de Luz a vida dos homens - seja dia ou seja noite - porque o dom que Ele trouxe as alturas por um Mistério que escapa ao entendimento racional, assim em de ser entendido e respeitado, porque a Força Maior que tudo ordena assim o quis.

E não vale fazer muitas conjecturas.
Este facto ou se aceita ou se recusa.
Nada e ninguém o impõe ao homem que é livre de aceitar, ou não,  o nascimento de Jesus como um facto que mudou a mentalidade de uma parte assinalável de todas as Nações do mundo, a ponto dos maiores vultos da Literaturas e das Artes fazerem dele o tema de muitas das suas criações, independentemente, da Igreja Católica que faz do Natal - não a data maior porque esta é celebrada na Páscoa - mas a génese que marca, na História dos homens, o Grande Sinal, que sempre fez parte dos planos de Deus e que, ao longo dos séculos os seus profetas anunciaram.


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