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domingo, 24 de fevereiro de 2019

Raízes


RAÍZES
                                                          
Provenho de uma gente
E de um povo
Que para seguir em frente
Do velho moldou o novo...

Provenho do culto antigo
Que entre as alvas penedias
Fazia  crescer o trigo
E até os próprios dias...
Provenho da raça dura
Das gentes da Serra, sadias,
Que matavam  a’margura
Com as poucas alegrias!
Provenho das suas raízes...
Daquelas que iam ao fundo
Beber a força da vida.
Provenho daí, dos matizes
De uma vivência sofrida
Na terra dura de antanho...
Como se houvesse outro mundo
No povo de onde venho
Que da força que guardou
Fez com amor o presente
Sem matar o que passou!

E é esta viva lembrança
Terna, firme e comovida
Que trago desde criança
E levo ao limite da vida!

(De um livro a publicar sob o título VELA AO VENTO)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Coragem!


CORAGEM!
São longas as estradas da vida…
Bem o sei!
Mas segue a direito
Ainda que ao longe
Uma delas apareça interrompida!
Não descreias nunca!
Evita o percalço... sê constante.
E mesmo sobre a estrada
Que vejas bloqueada
Passarás adiante!

Vai firme e sereno.
Convicto de entre todos
Seres o mais pequeno...

Não sejas arrogante.

Sê fiel a ti
E ao teu destino.
Passarás adiante
E erguerás um hino!

(De um livro a publicar sob o título Vela ao Vento)

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dá-me a tua mão!




Dá-me a tua mão

Eu sei:
tropeçaste e caíste no que julgavas ser
pó do caminho… e era um enorme penedo
que só tu não viste, mesmo quando, muitos dos teus amigos
te diziam:

 - Não vás por aí!

E tu foste, indiferente e calmo
na tua auto-suficiência!

Acontece , amigo… 
acontece assim,
quando  nos iludimos e os nossos sentidos
se fecham às realidades de um Mundo cruel
que se diverte com as fraquezas
dos que se julgam fortes e inatingíveis
nas suas toleimas.

Mas olha, amigo: eu fiquei de atalaia
e por ti fiz “muitos quartos de sentinela”...
e foi por isso, que hoje estou aqui presente
para te dizer:

- Dá-me a tua mão. e recomeça.

A vida, crê, para todos os que porfiam,
teimosamente,
é mais feita de vitórias do que derrotas.
Aceita esta verdade,
e dá-me a tua mão!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Burilando a vida...

O Oleiro

Cá vou burilando a vida
com toda a arte que tenho…
- Pouca, tantas vezes! –
mas teimando, por entender
que a vida em si,
é perfeita, por ser Obra de quem É!

Cá vou burilando a vida
Concertando  uma excrescência
do barro que sou e que deixei amolgar
por omissão minha!

Cá vou burilando a vida
no meu banco de oleiro que ponho a rodar
e sempre o deixo entontecido,
quando me esqueço de o travar…
bastado, apenas, um golpe de pé.

Deste meu pé que anda por aí sem parança,
quantas vezes, esquecido
do passo a mais que deu,
e a que pesa o facto indesculpável
de nem sempre entender, a sabedoria popular
que nos diz:

Avança-se, por vezes,  muito mais
quando a ponderação faz repensar
no passo mal dado que foi dado!

É, por isso, que me sento no meu banco de oleiro
para medir todos os passos que dou…
e, com a perfeição que posso, ir burilando a vida
na esperança deste alimento da alma
que teimosamente se recusa a morrer
sem antes ter deixado para o dia de amanhã
- e, talvez para o que vem a seguir –
obra que se veja!

Eis o motivo de viver
agarrado todas as manhãs ao banco de oleiro
que existe na minha oficina…
e que tem o dom de me chamar
para dar mais perfeição  à minha obra imperfeita!

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Ensina-me, barqueiro!


                                              ENSINA-ME, BARQUEIRO

Feliz barqueiro
Que andas à bolina
O dia inteiro...
Bela é, companheiro
A tua sina!

Ah! Barqueiro rude
Mas cheio de talento;
Vendendo saúde,
És dono de estrelas,
Do sol e do vento:
Ensina-me o modo
De eu ser como és
Assim tão sábio...
Ensina-me a ler
O teu astrolãbio
E a conhecer
Todas as marés!

Ensina-me, barqueiro...
Tenho um barquito
E até tenho um mar...
E é, por isso que em ti que fito
O meu olhar!
Quero, como tu...
- Porque a vida ensina -
Em cima do mar da vida
Andar à bolina!

domingo, 11 de novembro de 2018

Não há sereias


"Canto de Sereia" - Tela de Jaroslaw Kukowski
............................................

NÃO HÁ SEREIAS

A voz que ouves ao longe
por cima das ondas do mar que inventaste
e onde o teu barco humano baloiça,
tem cuidado meu tonto marinheiro de águas paradas
e escuta bem:
É a voz do teu mar estranho que não dominas
e que julgas no teu sonho vir de lá
como se fosse a voz duma sereia
como a das velhas figuras da mitologia 
que tinham como missão com o seu canto
encantar
todos aqueles que se faziam a um mar traiçoeiro
num dia de temporal 
para ali 
num namoro endoidecido
os destroçar!

domingo, 9 de outubro de 2016

Neblina


NEBLINA
  
Este dia
Com o Sol virado do avesso
Parece trazer no seio
A grande aventura
Da manhã do Começo!

Dia sombrio.
Com línguas magras de luz
Furando o nevoeiro frio
De vez em quando...

Dia sem horizonte
Que esconde o quadro
Daquelas crianças tristes
Que vivem ali, defronte...

Dia sem arrebol
Que parece fechar-se a noite...
E de Céu tão baixo
Que o tocamos com as mãos
Sedentas de Sol!

Abre-me a tua névoa...
Deixa-me ver às claras
O rosto dos meus irmãos!


1970

(De um livro a publicar sob o título 
VELA AO VENTO)
  

sábado, 8 de outubro de 2016

Quadro



QUADRO


Cai a tarde serena no seu manto.
Fumosas espirais sobem, abrindo...
Há um trinar saudoso cheio d’encanto
Nas pernadas verdes... e, entretanto,
Descuidadas crianças folgam, rindo!

Beijam o ar perfumes cativantes
Emanados das flores olorosas;
E vagos, compassados e distantes
Erguem-se com graça os descantes
Que chegam em notas caprichosas...

Voga rio acima, docemente
Um barco leve... vai a todo o pano,
E o Sol, bola de fogo, cai no Poente
Num beijo doce ao monte quente
Que agradece e se fecha todo ufano!

E nessa hora de mágicas venturas
Passam brandas, serenas amizades...
E que contentes vão as criaturas!
Aqui perto soam brandas e seguras
As notas suaves e santas das Trindades!


Miradouro da Senhora do Monte 
(Monte de S. Gens)

Graça – Lisboa (1955)

(De um livro a publicar sob o título VELA AO VENTO)

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Amigo...



AMIGO

Amigo, o que é para ti?
Alguém de que te serves quando precisas,
ou, pelo contrário, alguém que te faz falta
para te ouvir, aconselhar e, até,
se for preciso te recriminar
se a tua conduta o merecer?

Amigo, o que é para ti?

É bom que penses nisto.
É que, se todos aqueles de que te serves
e tratas de amigos por conveniência tua,
um dia, percebem o embuste da tua conduta
hão-de esquecer-te.

Amigo, pensa bem… é outra coisa:
é um sentimento puro
nascido da perfeição do amor humano,
mais pronto a dar  do que a receber.

Tem cuidado, por isso, no modo como tratas
aqueles que chamas falsamente de amigos,
para que a tua atitude não venha  a dar razão
ao Poeta, que nos diz:

Viver sem amigos
é morrer sem testemunhas.


De um livro a publicar sob o título VELA AO VENTO
  

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Solitário


SOLITÁRIO

Vou estrada fora, só,
Gelado deste frio de solidão
Em busca duma aurora, dum sol quente…
Que não quero mais noite, não!

Vou errante, cego da treva,
Mas é no meu passo miúdo que asseguro
A visão amiga duma aurora futura,
Que há-de, enfim, trepar sobre o meu muro!

Vu serenamente, aquecendo a noite fria
Nos meus poemas, sem deles fazer alarde.
Perto ou longe, eu sei, está o grande dia,
Rasgando a noite aonde o meu sonho arde!

1977
(De um livro a publicar sob o nome: Vela ao Vento)