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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A luta eterna do homem!


O famoso episódio bíblico da luta entre Jacob e o Anjo - que era Deus - e que o Livro do Génesis descreve assim nos versículos 25-30: Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora. Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. E disse-lhe: «Deixa-me partir, porque já rompe a aurora.» Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» – respondeu ele. E então abençoou-o.

Pierre Blanchard serviu-se desta famosa luta para escrever um livro de 250 páginas em que. em todas existe o grande problema do homem de todos tempos a que não escapa o homem contemporâneo, em cuja trajectória de vida existe, cedo ou tarde, a luta para encontrar o seu caminho, sendo, que é neste que mora Deus que não cessa de se mostrar sempre disposto a deixar-se vencer, se para tanto for preciso para trazer o homem para Si.

Foi o que aconteceu com Jacob sem saber que aquele Anjo era a prefiguração de Deus!

No sub-capítulo "A Barreira das Fórmulas" num dado passo o autor coloca a atenção do leitor sobre Saint-Exupéry que clamou a Deus a sua soledade: 

"Tende piedade de mim, Senhor, porque me pesa a minha soledade; nada espero. Eis-me neste quarto onde nada me falta. Senhor ligai-me à árvore a que pertenço. Nenhum sentido tenho se  me encontro sozinho; que alguém se apoie em mim; que eu me apoie em alguém!"

Nesta lamentação, muito no fundo do seu ser, existia a necessidade do escritor se ligar à árvore a que sentia pertencer, ou seja a Deus, por se encontrar sozinho, imitando na sua soledade a de Jacob que, como diz o texto bíblico "tendo ficado só" sentiu que alguém "lutou com ele até ao romper da aurora".
Era para essa luta que Saint-Exupéry desafiava Deus, porque para complemento do seu sentido de humanidade, precisava que alguém se apoiasse nele, sendo que, para tanto, era necessário que ele se apoiasse em alguém e esse era o Anjo-Deus que ele procurava na sua luta interior.

Esta luta é eterna.

Eis, porque, merece a pena ler o livro de Pierre Blanchard por ser preciso e urgente não vacilarmos ao sopro de certas correntes falaciosas e ter presente que na cultura geral dos nossos dias, não pode faltar a que nos liga ao incognoscível,  tal como aconteceu aos que nos antecederam desde há muitos séculos, para podermos dizer como pediu Saint-Exupéry:  "Senhor ligai-me à árvore a que pertenço".

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Parábola do Amigo Importuno




Parábola do Amigo Importuno
Sobre as duas condições essenciais da oração: perseverança e esperança

Texto do Evangelho de S. Lc 11, 5-10
Disse-lhes também: Se um de vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe oferecer; e se ele, de dentro, responder: Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para te atender; digo-vos que, ainda que se levante para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.  Pelo que eu vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.

Esta parábola poder-se-ia também chamar: a parábola do homem da meia-noite.
É uma história que nos fala da magnanimidade de Deus que bem merece toda a atenção pelo ensinamento que encerra, repartido pelo homem que fora despertado à meia-noite – e parte para casa do seu vizinho para suprir o pedido do forasteiro que o interpelara, necessitado de três pães – e, embora de porta fechada e já recolhido na cama, aquele vizinho que dispunha de pães de sobra, levantou-se àquela hora pouco asada para o atender, tendo acrescentando ao gesto, o facto de lhe poder dar, não somente os três, mas todos os pães de que precisasse.

Diz-nos o texto que era já noite bem alta e, mesmo assim, tudo se concertou.

Esta passagem do Evangelho de S. Lucas relata um acontecimento que bem podia corresponder a uma realidade possível, bem na linha da exegese de Jesus, sempre na linha dos acontecimentos que constituíam realidades locais, como esta de alguém ser surpreendido com a chegada de uma visita não anunciada – o que acontecia amiudadas vezes na Palestina onde havia comunidades migratórias e pessoas isoladas que a percorriam a tratar dos seus negócios – e não haver bens comestíveis para honrar o grupo ou, como neste caso, um forasteiro estando em viagem  e que chegou isolado.

Assim aconteceu com aquele amigo apelidado de importuno pelo adiantado da hora em que bateu à porta do outro amigo, na esperança de obter a graça de três pães emprestados.
Era, realmente, muito tarde.
Já toda a gente dormia.
Agastado pela hora imprópria, aquele que era solicitado ainda responde com maus modos: Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para te atender.

O texto deixa claramente pressupor que o importuno não atendeu àquela primeira recusa.
Como diz o povo fez ouvidos moucos e continuou a bater na porta, cada vez com mais força.
Esta atitude é um aviso feito a todos aqueles que ao primeiro desaire, baixam a cabeça e desistem dos propósitos que haviam feito, agindo deste modo sem pensar que a desistência sem luta de um projecto é a antecâmara da derrota.
A aflição do amigo importuno que tinha deixado o outro à espera que ele chegasse com os bens que lhe eram precisos, e naturalmente ansioso por satisfazer o apetite, causava-lhe uma angústia e uma necessidade absoluta e isso provocou que ele voltasse a insistir, admitindo a sua inoportunidade, mas assumindo-a em prol duma causa que lhe parecia muito nobre.

E, conta o texto, é por causa da sua importunação que o amigo que já dormia, lembrando-se da petição feita com modos penosos mas que ouvira com um dos olhos ainda fechados: pois que um amigo meu, estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe oferecer, faz que ele se levante já refeito da importunidade causada pelo homem da meia-noite, segundo é lícito concluir, pois em vez dos três pães reclamados se dispõe a dispensar ao amigo importuno quantos pães ele precisar.

Jesus, subtilmente, antes de proferir o fim do ensinamento que Ele queria atingir e estava implícito na solicitude de Deus sempre pronta e disponível a qualquer hora, dá uma notícia da abundância que n’Ele sempre acontece e se reflectiu nas mãos-largas que o amigo importunado apresentou de boa mente, contrapondo ao pedido concreto de três pães a possibilidade de receber quantos fossem precisos.
Com tamanha disponibilidade, Jesus, acrescenta logo de seguida o conceito fundamental:
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.
Deus é assim.
Um mãos-largas para quem não desiste de O procurar.

Ser perseverante e ter confiança são, deste modo, duas virtudes necessárias ao homem e que Jesus atinge profundamente nesta parábola.
Perseverar é uma virtude conexa com a fortaleza, o quarto dos dons do Espírito Santo, ensinamento que a Igreja posicionou bem dentro da linha do que foi afirmado por Jesus quando se dirigiu aos discípulos e que S. Mateus guardou: E vós sereis odiados por todos por causa do Meu Nome. Mas aquele que “perseverar” até ao fim será salvo.(1)

O amigo importuno da parábola incarna com toda a oportunidade este conceito que Deus quer, deva ser extensivo a todos os homens com fé n’Ele ou em algo em que acreditem, do mesmo modo, que a confiança, por prefigurar uma atitude satélite da esperança é, em boa verdade a segunda das virtudes teologais que levou o Padre António Viera a firmar, referindo-se ao primeiro homem: Não teve paciência nem “confiança” Adão para saber menos e, por isso, quis antes saber mais com pecado que saber menos sem pecado.(2)

São, assim, a perseverança e a esperança-confiança, duas vertentes de uma só atitude perante Deus que assim nos pede seja a nossa oração.
Mas, ainda mesmo, que a nossa esperança não tenha como fonte a teologia do termo, devemos ter essa mesma postura em relação a algo em que creiamos e nos dá a certeza de não nos deixar de mãos a abanar, porque no fim, o que existe é sempre Deus que está posicionado no extremo das nossas necessidades para nos dar um sinal.

O que falta ao homem é o entendimento destes sinais que sempre acontecem.
Deus não se esquece do homem. É criação Sua.
Este amigo importuno é uma bela lição de amor, com Deus presente a bater na aldraba da porta do amigo que já dormia.
Não se sabe quantos pães trouxe, não de empréstimo como pedira, mas dados, porque diz o texto que o amigo se levantou com este firme propósito.
- Vou-lhe dar quantos pães ele precisar.
E deu-lhos.
Deus é assim: buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; pois todo o que pede, recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.


(1) - Mt 10, 22
(2) - Padre António Vieira - Sermões

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Ano 2022: Portugal recebe as Jornadas Mundiais da Juventude


Papa Francisco: a próxima Jornada será em português!

Ao saudar os os fiéis e peregrinos de língua portuguesa durante a Audiência Geral, o Papa recordou que a "próxima Jornada será em português!", em referência a Lisboa, que acolherá o evento em 2022.

O Papa Francisco brincou com os fiéis e peregrinos de língua portuguesa durante a Audiência Geral de 30 de janeiro. Ao saudá-los, recordou que a "próxima Jornada será em português!", em referência a Lisboa, que acolherá o evento em 2022.

"Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente o grupo do Colégio São José de Coimbra. Queridos amigos, o mundo precisa de uma Igreja jovem, alegre e acolhedora: renovemos o nosso compromisso para que as nossas comunidades se convertam em lugares onde se faz a experiência do amor de Deus, que não exclui a ninguém. E a próxima Jornada será em português! Que o Senhor vos abençoe a todos!"
in, Rádio Vaticano

Já todos sabíamos.

Anunciadas no encerramento do encontro de jovens da Igreja Católica na cidade do Panamá, onde chegou no dia 23 de Janeiro de 2019 para presidir à 34ª edição das Jornadas Mundiais da Juventude, hoje, dia 30 de Janeiro na Audiência Geral na cidade do Vaticano, à comunidade portuguesa fez questão de o recordar

Num Mundo a caminhar cheio de desencontros sociais e religiosos as Jornadas Mundiais da Juventude, um evento instituído pelo Papa, hoje, S. João Paulo II em 20 de Dezembro de 1985, desde então passou a reunir milhões de jovens de todo o Mundo que durante uma semana dão mais cor à Fé católica, construindo pontes de amizade e esperança entre povos e Continentes.

Deus dê saúde ao Papa Francisco - uma bênção de Deus para o tempo que passa - para que Portugal o possa receber no ano de 2022.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

"O Filho do Homem"


A expressão "Filho do Homem" é muitas vezes usada nos textos bíblicos como um título que o próprio Jesus Cristo deu a si mesmo, e este tratamento tem gerado para os não crentes alguma perplexidade opondo-o ao outro título "Filho de Deus", como se o primeiro citado estivesse em contraposição com o segundo.

 Lembremos este exemplo em que Jesus fala assim:

"Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores”. Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.  (Mateus 8, 19, 20)

Ainda em S. Mateus lemos o seguinte em 13, 37: "Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem" e ainda mais este exemplo (Mt 17, 22) "Reunindo-se eles na Galileia, Jesus lhes disse: "O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens", a que se seguem (Mt, 18,11): "O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido" e (Mt 24, 44) "Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam" e, ainda (Mt 25,31): "Quando o Filho do homem vier em sua glória, com todos os anjos, ele se assentará em seu trono na glória celestial"

Em termos latos o que temos em todas estas expressões é a confirmação de Jesus - Filho de Deus - com estes títulos arrogados para si ter desejado parecer-se connosco ao ter sido humano como nós somos, ao tomar para a sua Pessoa o primeiro exemplo bíblico de "Filho do homem" que aparece numa profecia de Daniel (7, 13-14):  "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído." 

Nesta profecia, Daniel, antevê a chegada do Messias com este título messiânico, e tal título
dado por Jesus a si mesmo ia ao encontro dos judeus daquela época que naturalmente estariam bem familiarizados com o termo e a quem se referia, e esta foi a razão porque Jesus - judeu como era - ao falar daquele modo mais não fez que lembra a velha profecia e que Deus se manifestou aos homens através daquela "visão da noite" do seu profeta em que ele viu entre as nuvens do céu "um como Filho do Homem", antevendo que aquela personagem que ele viu em sonhos era feito de carne e osso como aconteceu com Jesus que viveu entre os homens, sendo no entanto, Filho de Deus, obra de uma concepção sobrenatural que há-de ultrapassar para sempre o entendimento humano.

Quem foi o profeta Daniel que predisse a chegada de Jesus seicentos anos antes?

Diz a Bíblia que ele era descendente de uma nobre família do reino de Judá e que teria sido deportado para a Babilónia e alio agregado aos pagens do rei Nabucodonosor que ali terá escrito o seu Livro que se entre os capítulos 1 a 6 se serviu de histórias antigas que pertenciam a um género tradicional de literatura didáctica e educativa, então muito em voga. 

Daniel tinham o objectivo de inculcar espe­rança e fé nos judeus perseguidos, e assim, nos capítulos 7 a 12 fê-los crer no género apocaliptico, também frequente naquele tempo em que as revelações de Deus aos homens iam tomando forma, fazendo-a diferir da literatura bíblica tradicional, reportando-a aos tempos do Exilio, afirmando os exegetas que a literatura de Daniel faz a ligação entre o Antigo Testamento e o Novo, demonstrando que entre os dois há uma continuidade de ideias.

 Eis, porque, o seu texto faz parte da visão de alguém que ele viu entre nuvens como "um Filho do Homem", razão por que se considera o Livro de Daniel entrosado nas concepções messiânicas, fazendo que aquele "Filho do Homem" viesse  a ter na Cristologia um importante contributo para a sua compreensão, tanto na letra como no Espírito, motivo suficiente para que, ainda hoje, se possa afirmar que se no tempo em que o judaísmo do tempo de Jesus esperava um Messias-Rei, triunfador dos intrusos romanos da sua terra, Jesus se tenha apresentado como Messias-Servo e sofredor na sua humanidade de um "Filho do Homem" que Daniel viu vir do Céu "para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído".

Ou seja , Ele seria um dominador, mas bem diferente daquele que os judeus esperavam, porque, embora, Rei  "o seu reino jamais será destruído", por não ser um reinado efémero como o reinado vulgar dos homens.

E como "Posfácio" deste apontamento tendo em conta a perplexidade que isto dá em algumas mentes mal esclarecidas ou que fazem deste título um ataque ao Mistério da divindade de Jesus, retenha-se esta frase dita por Ele mesmo e relatada por S Mateus, (18, 22) já referida: "Reunindo-se eles na Galileia, Jesus lhes disse: "O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens", ou seja, neste passo, Jesus que conhecia como ninguém as profecias que falavam da vinda da sua Pessoa, apontou directamente para a visão de Daniel, porquanto, "o Filho do homem" a que Ele se refere para ser imolado "nas mãos dos homens" era o Deus feiro Homem que Daniel prefigurara.

Tudo isto é um Mistério?

É evidente que o é, mas há que ter a humildade de o entender, tal qual ele é, por ele pertencer àquela parte incognoscível que está vedada ao homem por mais inteligente e sábio que seja o seu pensamento.

domingo, 6 de janeiro de 2019

"Dia de Reis" - a Epifania de Jesus aos Reis Magos




Epifania tem vários sentidos, mas entende-se, literalmente, como a manifestação de algo, sendo para a Igreja Católica a apropriação de uma palavra grega para designar a Festa   da Apresentação, ou Manifestação  de Jesus aos Reis Magos - ou seja ao povo gentio -  e ocorre sempre dois Domingos, ou doze dias após a celebração do Natal - é o chamado DIA DE REIS - um acontecimento que com a reforma do calendário litúrgico costuma celebrar-se entre o dia 2  e e o dia 8 de Janeiro.

Tradicionalmente a festa dos Reis recai a 6 de Janeiro, como uma manifestação do Filho de Deus no Corpo de Jesus Cristo, sendo a sua Revelação ao mundo com a adoração dos três Reis Magos e Revelação a todo o Mundo, dando começo a um tempo especial que só vai terminar na terça-feira antes da Quarta-Feira de Cinzas.

O poeta brasileiro Alphonsus de Guimarâes não deixou que o seu estro ficasse indiferente a este momento litúrgico e assemelha-se aos Magos com a oferenda lírica deste belo soneto que fez questão de deixar para a posteridade.

São três as Epifanias de Jesus: a que celebramos, hoje, a Epifania a S. João Baptista com o seu baptismo no Jordão e a Epifania aos seus discípulos que aconteceu nas "bodas de Caná" na Galileia e que marca o início da sua vida pública.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Homenagem a S. Francisco de Assis neste primeiro dia do ano de 2019



Esta oração de S, Francisco  de Assis (Giovanni di Pietro di Bernardone, de seu nome de baptismo) dedicada a um dia não específico bem se pode aplicar ao dia de hoje - o primeiro de um novo "Ano Novo" - e fazer dela uma intenção para todos os dias  do ano e, assim, honrar este Homem que nasceu num berço da burguesia da cidade de Assis e se fez pobre, de uma pobreza completa - mendicante - que renovou o Catolicismo com a Ordem dos Franciscanos que ele fundou, e que pelo seu exemplo de vida levou Dante Alighieri a dizer que ele foi "uma luz que brilhou sobre o mundo".

Não faltou até quem dissesse que ele foi a maior figura do Cristianismo depois de Jesus Cristo, pelo que a sua oração "Senhor" é um cântico de beleza humana que no primeiro dia  deste ano se lembra em homenagem a S. Francisco de Assis                                                                                                            

No silêncio deste dia que amanhece
Venho pedir-Te a paz, a sabedoria, a força.
Quero hoje olhar o mundo com os olhos cheios de amor.
Quero ser paciente, compreensivo, prudente.
Quero ver, além das aparências,
Teus filhos como Tu mesmo os vês.
E assim, Senhor, não ver senão o bem em cada um deles.
Fecha meus ouvidos a toda calúnia, guarda minha língua de toda maldade.
Que só de bênçãos se encha a minha alma.
Que eu seja tão bom e tão alegre que todos aqueles que se aproximem de mim sintam a Tua presença.
Reveste-me de Tua beleza, Senhor, e que no decurso deste dia eu Te revele a todos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Falando de "Justiça" na Suma Teológica

S. Tomás de Aquino
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A "Suma Teológica" é uma Obra imensa dividida em 3 partes, onde se encontram 512 questões. Cada questão tem perguntas individuais. Estas representam os 2669 capítulos onde estão contidas 1,5 milhões de palavras, 1,5 vezes mais que todas as palavras de Aristóteles (1 milhão), o dobro de todas as palavras conhecidas de Platão.
(in, Wikipédia, a enciclopédia livre)

Numa questão dedicada à "Justiça" aparece, naquele famoso Livro, a seguinte pergunta, que faz todo o sentido nesta quadra natalícia em que o comércio menos escrupuloso costuma vender a preços exorbitantes a sua mercadoria

É lícito no comércio vender algo a um preço mais alto do que custar a ser adquirido?
(in, Suma Teológica, II-II, 77, 4)

Esta pergunta é feita pelo autor desse Livro que é a obra mais proeminente de São Tomás de Aquino, um frade, filosofo, teólogo e Santo da Igreja Católica que é considerada uma das principais obras filosóficas da escolástica, escrita entre os anos de 1265 a 1273 e é, ainda hoje, merecedora de consulta.

Para a pergunta que encima este apontamento S. Tomás reponde assim:

É apropriado que os mercadores se dediquem às mudanças das coisas; tais mudanças são de dois tipos: uma, como natural e necessária, ou seja, pela qual a troca de coisa por coisa ou de coisas por dinheiro é feita para satisfazer as necessidades da vida; esse tipo de mudança não pertence propriamente aos mercadores, mas sim aos chefes da família ou aos chefes da cidade, que têm de prover sua casa ou cidade com as coisas necessárias à vida; o segundo tipo de mudança é o dinheiro por dinheiro ou qualquer objeto por dinheiro, não para prover as necessidades da vida, mas para obter algum lucro; e esse tipo de negociação parece pertencer, propriamente falando, àquilo que corresponde aos mercadores. Mas, de acordo com o filósofo, a primeira espécie de mudança é louvável, porque responde à necessidade natural; mas o segundo é com justiça reprovadora, já que, por sua própria natureza, promove o desejo de lucro, que não conhece limites, mas tende ao infinito. Assim, o comércio, considerado em si, encerra certa estranheza, porque não tende, por sua natureza, a um fim honesto e necessário.

Contudo, o lucro, que é o fim do comércio, embora em sua essência não implique algum elemento honesto ou necessário, não implica em essência nada de vicioso ou contrário à virtude. Portanto, nada impede que o lucro seja condenado a um fim necessário ou mesmo honesto, e então a negociação se tornará legal. Esse é o caso quando um homem dedica o lucro moderado que adquire por meio do comércio ao apoio da família ou também para ajudar os necessitados, ou quando alguém se dedica ao comércio para servir ao interesse público, para que eles não percam a vida da pátria. as coisas necessárias, porque então ele não busca lucro como fim, mas remuneração de seu trabalho.


Estas são as palavras lapidares do filósofo cristão - PALAVRAS CONSTRUTORAS DE VIDA - que tecem metas em que o lucro dentro da justiça que o deve reger não é um pecado, ou sejas em termos seculares "um crime", porquanto um lucro assim entendido insere-se na norma da vida de qualquer cidadão que faz da sua honestidade, ainda que comercial, um modo de vida para seu próprio sustento ou para servir ao interesse público.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O "Ângelus"


Ângelus (1859), de Jean-François Millet
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Nos meus tempos de jovem  estudante tive a graça de demandar durante alguns anos - e, foram muitos no decorre das chamadas "férias grandes" - a minha aldeia serrana onde vivia a minha avó materna que me acolhia sempre com o esmero que as avós costumam dar aos seus netos, e ali, assisti - sem que a princípio percebesse a razão - que, sobretudo ao meio-dia quem mourejava nos campos interrompiam as tarefas e quedavam-se mudos por momentos, com os homens de chapéu na mão, tal como os pintou Jean-François Millet, na famosa tela que se reproduz.

Devo a minha avó que na sua exposição simples me disse que era um sinal a que chamou As " Avé-Marias" e se destinava a dar "graças à Mãe de Jesus" e que, se estivesse atento iria assistir ao mesmo, de manhã ao romper do dia e quando este se fechava, com o sino da capela a fazer-se ouvir por "três vezes num conjunto de três badaladas".

De manhã - confesso que a minha madracice nunca deu por tal - mas da parte da tarde recordo-me da Senhora Maria, que gostava de me dar rebuçados, passava à minha porta e se a minha avó a visse era costume dizer-lhe:

"Lá vais tu tocar as Avé-Marias". Que Deus te ajude!

Tudo isto - quanto às minhas recordações, lá vão... e que saudades tenho! - mas deste costume, sei, que no interior do País, ele continua a existir por aqui e por ali, lembrando - como hoje sei destas coisas! - que aquele sinal de que me falava a minha santa avó é uma oração da Igreja que reconhece o mérito da Virgem Maria ter ouvido a voz do Anjo Gabriel na cena da Anunciação que ao ter dito aceitar ser a Mãe de Jesus, proporcionou que Ele nascesse, como havia sido profetizado por Isaías:  “Uma Virgem conceberá e dará à luz o Salvador". sendo esse um dos momentos cruciais da História da Salvação, porque marca o início da Redenção com a Encarnação de Cristo, celebrada pela Igreja no dia 25 de Março.

Consta-se que o "Ângelus" composto por três invocações, cada uma com a sua devida resposta, sendo acompanhadas de uma jaculatória - oração da Ave-Maria -  uma breve oração e três Glórias, ficando-se esta composição a dever.se ao Papa Urbano II (1088 a 1099) e que a tradição de a rezar três vezes  é atribuída ao rei Luís XI da França em 1472.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

"Hoje é o dia da raiz"- diz o Papa Francisco


Papa Francisco: 
a Anunciação revoluciona a história!

É uma afirmação de hoje na homilia proferida na capela da Casa de Santa Marta, ao deter-se sobre o Mistério da Anunciação onde se radica o tempo que nos vai conduzir até ao Dia de Natal, que não aconteceria se não tivesse havido a aceitação de Maria no episódio da Anunciação, no Mistério que envolveu a voz do Anjo Gabriel.

Diz o Papa:

Uma passagem do Evangelho de Lucas (Lc 1: 26-38) "difícil de pregar", em que o "Deus das surpresas" muda o destino do homem. Foi o que enfatizou o Papa Francisco durante a Missa celebrada na capela da Casa Santa Marta.

A passagem do Evangelho de Lucas que ouvimos nos fala do momento decisivo da história, mais revolucionário. É uma situação convulsiva, tudo muda, a história fica de cabeça para baixo. É difícil pregar sobre essa passagem. 

E quando no Natal ou no dia da Anunciação professamos a fé para dizer este mistério, nos ajoelhamos. É o momento em que tudo muda, tudo, da raiz. Liturgicamente hoje é o dia da raiz. 
A Antífona de hoje e que marca é a raiz de Jesse, "da qual nascerá um broto". Deus se abaixa, Deus entra na história e o faz com seu estilo original: uma surpresa. O Deus das surpresas nos surpreende (mais) uma vez.

Neste ponto , o Papa relê o Evangelho de hoje, para que a assembleia possa reflectir sobre o alcance do Anúncio.

O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível”. Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se de junto dela.

É nestas palavras que se esconderá para sempre o Mistério para o qual a mente humana, racionalmente, não encontra explicação, porque Deus é Deus e as suas contas jamais baterão certas dom as contas dos homens!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

"No princípio era o Nada"...




O poeta António Correia de Oliveira neste poema que fui captar ao seu livro "Verbo Ser e Verbo Amar", conclui o seu pensamento poético por nos dizer nesta invocação de Deus que no Princípio as "palavras conjugantes" ainda não teriam acordado o "Nada" e, no entanto, no Deus Omnipresente ainda antes do NADA, as "palavras conjugantes" já existiam no fundo mais fundo da sua atitude em que no Divino incognoscível para o género humano, ainda não criado, já existia pleno na mesma divindade, "Fluída em névoa, a Criação futura" - como diz o poeta - o Nascimento de Jesus, como um Filho muito amado para ser Homem e Deus.

Eis, porque, no Tempo Novo que Ele abriu de par-a-par com a divindade que trazia por ser Filho de Deus, no antigo local sagrado do Tabernáculo ou Santo dos Santos - uma sala separada do Templo de Jerusalém por uma cortina de linho onde só poderia entrar o sacerdote uma vez por ano para presidir à cerimónia sacrificial do cordeiro - pela sua vontade suprema veio "rasgar os véus do Templo"colocar o Tabernáculo como habitação de Deus entre os homens, como hoje o vemos, à nossa frente e à nossa contemplação orativa.

E é assim, e de tal modo, que não há um só crente que ao passar defronte do Tabernáculo - hoje conhecido por Sacrário - não dobre os joelhos ou, simplesmente, não lhe faça uma genuflexão, porque dentro dele está a morada terrena d'Aquele que por desejo e cumprimento da Revelação deu pleno sentido às "palavras conjugantes" de que nos dá conta o poeta António Correia de Oliveira, fazendo-as conjugar em honra e glória do Deus Eterno, Dono e Senhor do grande Mistério que se escapa a todo e qualquer homem por mais brilhante e erudito que seja o seu pensamento.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Este Mistério Eterno criado a partir do NADA de NADA!




Diz a legenda: "Caminham humildes em nossos presépios" e tal legenda, cheia de sentido ao referir-se aos três Reis-Magos que das suas terras longínquas caminharam - diz a tradição  e o Evangelho de S. Mateus, cap.2 - com o propósito de levar presentes a Jesus, não tendo, contudo, a Bíblia fixado os seus nomes, mas sustenta a tradição e a História Bíblica pela pena do Apóstolo e Evangelista já referido, que este Magos seriam oriundos do Oriente, enquanto a tradição diz que eram astrónomos que das suas terras orientais tendo visto uma estrela de brilho incomum a seguiram e, depois da peripécia vivida em Jerusalém com o rei Herodes, seguiram o seu caminho até à gruta de Belém, porque a mesma estrela não deixava de brilhar. 



Estas ilustres personagens, segundo a tradição oral e que a Igreja recolheu como símbolo da legitimação de Jesus por todos os povos da Terra, de tal modo chegou até nós que foi instituído o Dia de Reis celebrado anualmente na noite de 5 para 6 de Janeiro onde recai a Festa da Epifania do Senhor e que seguindo a mesma tradição é naquela noite que se dá por findo o Cântico das Janeiras iniciado após o Natal, continuando a existir o costume ancestral das famílias cristãs se voltarem a reunir para celebrar o fim dos festejos do Natal.

Temos, assim, que estes Reis Magos chegaram até nós com a força espiritual que lhes deu a importância fundada em duas vertentes: na lenda ou no mito da sua existência, sabendo-se que é por aqui que passam erigidos em condutores da História que tornam credíveis determinados acontecimentos, mas a que acresce, neste caso, o facto deste evento histórico ser atestado por S. Mateus sobre a sua ida até Belém para glorificarem o nascimento de Jesus, o que lhes dá a credibilidade que está para além do mito ou da lenda, porque a História Bíblica do Novo Testamento se baseia em factos.

Neste tempo e com esse propósito caminhemos ao encontro de Jesus para que nessa reunião com o Dia do seu nascimento O sintamos mais uma vez presente na sua sobrenaturalidade existencial.

Que o nosso espírito caia bem fundo na presença de um Mundo Novo que dele proveio, e que é preciso continuar e reformar, tendo em conta que 2018 anos passados sobre a sua estadia física no meio dos homens é uma migalha de tempo se atentarmos na enormidade incomensurável do tempo que passou desde a primeira aurora surgida do NADA de NADA onde se entronca a Obra da Criação do Mundo, o Grande Mistério inexplicável à razão humana e que só a humildade pode entender.

Sobre isto que não hajam dúvidas.

Este Mistério ou se aceita tal com ele é, ou a atitude contrária como tem acontecido ao longo dos dois últimos milénios é a fautora de grandes dramas humanos, tantos deles bem nossos conhecidos e que aconteceram com homens de rara inteligência científica ou filosófica mas que se confrontaram com a razão a não querer ceder à sua atitude - de todo aceitável e compreensível - de o querer entender e explicar numa equação matemática, sem conceberem que a Matemática de Deus não tem entendimento nem explicação humana.

Nunca a terá, convenhamos.

Eis, porque, neste tempo real que nos é dado viver resta-nos caminhar e reconhecer que o nascimento de Jesus é Obra desse Grande Mistério que só a Fé sem fronteiras é que nos leva a crer no sobrenatural que ele encerra bem fechado a sete chaves pelo Criador Eterno.

Tenhamos em conta que todos os homens desde o seu ponto de partida existencial, carregam consigo até ao fim temporal das suas vidas um pedaço igual para todos da sobrenaturalidade que na Origem dos Tempos criou o ser humano e, depois, se manifestou num grau diverso com o nascimento de Jesus Cristo, onde se caldeou numa fusão perfeita o sobrenatural do próprio Deus - sendo Ele uma Pessoa em tudo igual ao seu Criador - com o sobrenatural da sua existência humana enquanto viveu ente os homens.

Podemos assim dizer que todos os homens têm o dom de transportar consigo a carga sem peso da mesma sobrenaturalidade humana de Jesus Cristo atendendo a que Ele, do ponto de vista humano é o nosso Irmão mais velho, logo igual a nós nesse aspecto.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Dois Papas Portugueses



Notícia captada em:


O ano de 366 assinala a eleição do Papa S. Dâmaso e o de 1276 o da eleição do Papa João XXI, e desde então, até ao presente  a velha Nação Portuguesa aguarda voltar, um dia, a merecer o "fumo branco" que volte a erigir para o mais alto magistério da Igreja um outro cidadão nacional.

Há, por este tempo, uma esperança que paira no ar.

Pessoalmente, sinto-me dono dessa esperança, convencido que existem homens de grande valor humano e sábios do mundo em portugueses, como D. José Tolentino de Mendonça, convencido que este ilustre membro do Episcopado português na continuação da sua carreira  eclesial vai ascender a um lugar que um dia o vai colocar na escolha do Espírito Santo, o guião imaterial que dirige a Igreja Apostólica de Cristo sediada em Roma.

Sei que não vou ver realizada esta minha esperança pelo peso dos anos de vida que já carrego, mas fica aqui assente o meu desejo por ver e sentir que a Nação Portuguesa nascida em cima do poder da Fé, pela sua postura humanista no tempo que passa é um exemplo.

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Dâmaso (em latim: Damasus; Idanha-a-Velha, Portugal, 305 — Roma, 11 de dezembro de 384) foi 37º Papa da Igreja Católica de 366 até a data da sua morte.

Dâmaso nasceu em Idanha-a-Velha [1] , território que no século IV integrava o Império Romano mas atualmente faz parte de Portugal. A sua época coincidiu com a ascensão de Constantino e a adopção do cristianismo como religião oficial do Império Romano.

Foi eleito Papa em 1 de Outubro de 366, por larga maioria, mas alguns seguidores do anterior Papa Libério, próximos do Arianismo, consagraram o diácono Ursino, criando um Antipapa para tentar depor Dâmaso I.

Foram necessários dois anos de lutas sangrentas para que Dâmaso I assegurasse o seu direito ao papado. As batalhas entre os bandos seguidores dos dois postulantes foram de tal violência que num único dia de batalha foram recolhidos 137 mortos. Acusado pelos seus adversários de assassinato, Dâmaso I teve que se defender perante um Tribunal imperial. Porém o imperador Valentiniano I apoiava Dâmaso I e no ano de 378 ele foi absolvido, enquanto que o seu inimigo Ursino era desterrado.

Esse processo deu a Dâmaso I a oportunidade de ajustar as relações entre a justiça civil e a eclesiástica. O Estado passou a reconhecer oficialmente a competência da Igreja em matéria de fé e de moral, enquanto tomava a seu encargo a execução das sentenças ditadas pelo tribunal do episcopal.

Dâmaso foi um dos mais notáveis papas do século IV, defendendo a Igreja de Roma contra eventuais cismas, enviando legados ao Primeiro Concílio de Constantinopla, e também foi um escritor de grande mérito, autor de valiosos epigramas e de importantes cartas sinodais. Também foi o papa que encomendou a Jerónimo de Estridão uma revisão da versão latina da Bíblia, a qual ficou conhecida como Vulgata Latina, até hoje uma das mais importantes traduções bíblicas.

Foi o primeiro Papa a usar com desenvoltura o anel do Pescador, com o símbolo de São Pedro, que ao contrário de hoje, era passado de pontífice para pontífice, assim que confirmada a sua morte, como símbolo de sua autoridade pastoral. O anel com a égide de Pedro, o primeiro papa, já não existe, pois foi destruído.

Os imperadores romanos, incluindo Constantino, continuaram a conservar o ofício de pontífice máximo (pontifex maximus) até 376 até que o imperador Graciano, por razões cristãs, o recusou, já que reconhecia-o como idolatria e blasfêmia. Há registros de que, em torno do ano 378, Dâmaso era nomeado pontífice, embora não fosse chamado de pontífice máximo, termo que aparece na Bíblia para descrever homens abençoados (Hebreus 5, 14), e em alguns casos o próprio Jesus (Hebreus 3, 1).

É citado no livro "Peregrino da América" como poeta português (Livro II).

Fonte: Wikipédia - a Enciclopedia livre

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João XXI, nascido Pedro Julião Rebolo e mais conhecido como Pedro Hispano, (Lisboa, 1215 — Viterbo, 20 de maio de 1277) foi Papa desde 20 de setembro de 1276 até à data da sua morte, tendo sido também um famoso médico, filósofo, teólogo, professor e matemático português do século XIII.

Adoptou sucessivamente os nomes de Pedro Julião como nome de baptismo, Pedro Hispano como académico e João XXI como pontífice.

Alguns autores indicam como data de nascimento o ano de 1205[2], outros que foi antes de 1210, possivelmente em 1205 ou 1207[3] e outros ainda entre 1210 e 1220.

História pessoal[editar | editar código-fonte]

Pedro Julião, ou Pedro Hispano, nasce em Lisboa, no então Reino de Portugal, em data não conhecida, mas seguramente antes de 1226, filho de Julião Pais Rebolo, médico, cuja profissão segue, e de sua mulher Mor Mendes, e irmão de Gil Julião Rebolo (embora Luís Ribeiro Soares defenda que possa ter sido filho do chanceler de D. Sancho I, Mestre Julião Pais, o qual foi identificado como sendo a mesma pessoa). Usou as Armas dos Rebolo, que são: de vermelho, três rebolos de ouro vazios do campo postos em roquete. A moderna representação da Heráldica do Papa João XXI apresenta um escudo esquartelado, que tem o 1.º e 4.º quartéis de vermelho, carregado com três crescentes de prata, postos em roquete. Trata-se, na verdade, duma interpretação errada das armas dos Rebolo, que são um escudo de vermelho, carregado com três rebolos de ouro furados no meio, postos em roquete. Algumas representações mais antigas, ainda assim muito posteriores, que terão sido feitas com base nalguma imagem já deteriorada, poderão ter feito parecer esse três rebolos furados com três crescentes, devendo-se a mudança do metal a fenómeno idêntico. Mas poucas dúvidas poderão restar de que as três peças são rebolos furados e não crescentes.

Começou os seus estudos na escola episcopal da catedral de Lisboa, tendo mais tarde estudado na Universidade de Paris (alguns historiadores afirmam que terá sido na Universidade de Montpellier) com mestres notáveis, como São Alberto Magno, e tendo por condiscípulos São Tomás de Aquino e São Boaventura, grandes nomes do cristianismo. Lá estuda medicina e teologia, dedicando especial atenção a palestras de dialética, lógica e sobretudo a física e metafísica de Aristóteles.

Entre 1246 e 1252 ensinou medicina na Universidade de Siena, onde escreveu algumas obras, de entre as quais se destaca o Tratado Summulæ Logicales que foi o manual de referência sobre lógica aristotélica durante mais de trezentos anos, nas universidades europeias, com 260 edições em toda a Europa, traduzido para grego e hebraico.

Prova da sua vastíssima cultura científica encontra-se na obra De oculo, um tratado de Oftalmologia, que conhece ampla difusão nas universidades europeias. Quando Miguel Ângelo adoece gravemente dos olhos, devido ao árduo labor consumido na decoração da Capela Sistina, encontra remédio numa receita de Pedro Julião. De sua autoria, o ‘Thesaurus Pauperum’ (Tesouro dos pobres)[6], em que trata de várias doenças e suas curas, com cerca de uma centena de edições e traduzido para 12 línguas.

Antes de 1261, ano em que é eleito decano da Sé de Lisboa, Pedro Julião ingressa no sacerdócio. O rei Afonso III de Portugal confia-lhe o priorado da Igreja de Santo André (Mafra) em 1263, posto o que é elevado a cónego e deão da Sé de Lisboa, Tesoureiro-mor na Arcebispo de Braga e Cardeal[editar | editar código-fonte]

Arcebispo de Braga e Cardeal

Após a morte de Dom Martinho Geraldes, Pedro Julião é nomeado Arcebispo de Braga pelo Papa Gregório X, em 1273. Um ano depois, participa no XIV Concílio Ecuménico de Lião, altura em que Gregório X o eleva a Cardeal-bispo com o título de Tusculum-Frascati, da Diocese suburbicária de Frascati, o que permite ao pontífice poder contar com os serviços médicos do sábio português. Regressa ao Arcebispado de Braga, até ser nomeado o sucessor, Dom Sancho. De volta à corte pontifícia, Gregório X nomeia-o seu médico principal (arquiathros) em 1275.

A eleição de Pedro Julião, em conclave realizado em Viterbo, após a morte do Papa Adriano V, a 18 de agosto de 1276, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas e com alguns cardeais a sofrer violências físicas. É eleito Papa a 13 de setembro e coroado a 20 de setembro de 1276, e adota o nome de João XXISé do Porto e Dom Prior na Colegiada Real de Santa Maria de Guimarães.

Pontificado

João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecuménico de Lyon. Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os cardeais presentes no conclave que o elegera.

Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos.

Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França, Germânia e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos de Anjou, sem sucesso.

Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres. Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa Divina Comédia, coloca a alma de João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de "aquele que brilha em doze livros", menção clara a doze tratados escritos pelo erudito pontífice português. O rei Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de Dom Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no "Paraíso", canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua época por 'egrégio varão de letras', 'grande filósofo', 'clérigo universal' e 'completo cientista físico e naturalista'.

Mais dado ao estudo que às tarefas pontifícias, João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa Nicolau III, os assuntos correntes da Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de Viterbo, onde morre a 20 de maio de 1277, vitimado pelo desmoronamento das paredes do seu aposento, estando o palácio apostólico em obras. É sepultado junto do altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade. No século XVI, durante os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais são trasladados para modesto e ignorado túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo. Através do contributo da Câmara Municipal de Lisboa, por João Soares então seu presidente, o mausoléu é colocado, a título definitivo, ao lado do Evangelho da Catedral de Viterbo, a 28 de março de 2000.

Deu nome ao Hospital Pedro Hispano e à Estação Pedro Hispano, ambos em Matosinhos, à Avenida João XXI, em Lisboa, Braga e Vermoim, e ao Instituto Pedro Hispano, em Granja do Ulmeiro, no concelho de Soure, no distrito de Coimbra

Fonte: Wikipédia - a Enciclopédia livre