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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Falando de "Justiça" na Suma Teológica

S. Tomás de Aquino
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A "Suma Teológica" é uma Obra imensa dividida em 3 partes, onde se encontram 512 questões. Cada questão tem perguntas individuais. Estas representam os 2669 capítulos onde estão contidas 1,5 milhões de palavras, 1,5 vezes mais que todas as palavras de Aristóteles (1 milhão), o dobro de todas as palavras conhecidas de Platão.
(in, Wikipédia, a enciclopédia livre)

Numa questão dedicada à "Justiça" aparece, naquele famoso Livro, a seguinte pergunta, que faz todo o sentido nesta quadra natalícia em que o comércio menos escrupuloso costuma vender a preços exorbitantes a sua mercadoria

É lícito no comércio vender algo a um preço mais alto do que custar a ser adquirido?
(in, Suma Teológica, II-II, 77, 4)

Esta pergunta é feita pelo autor desse Livro que é a obra mais proeminente de São Tomás de Aquino, um frade, filosofo, teólogo e Santo da Igreja Católica que é considerada uma das principais obras filosóficas da escolástica, escrita entre os anos de 1265 a 1273 e é, ainda hoje, merecedora de consulta.

Para a pergunta que encima este apontamento S. Tomás reponde assim:

É apropriado que os mercadores se dediquem às mudanças das coisas; tais mudanças são de dois tipos: uma, como natural e necessária, ou seja, pela qual a troca de coisa por coisa ou de coisas por dinheiro é feita para satisfazer as necessidades da vida; esse tipo de mudança não pertence propriamente aos mercadores, mas sim aos chefes da família ou aos chefes da cidade, que têm de prover sua casa ou cidade com as coisas necessárias à vida; o segundo tipo de mudança é o dinheiro por dinheiro ou qualquer objeto por dinheiro, não para prover as necessidades da vida, mas para obter algum lucro; e esse tipo de negociação parece pertencer, propriamente falando, àquilo que corresponde aos mercadores. Mas, de acordo com o filósofo, a primeira espécie de mudança é louvável, porque responde à necessidade natural; mas o segundo é com justiça reprovadora, já que, por sua própria natureza, promove o desejo de lucro, que não conhece limites, mas tende ao infinito. Assim, o comércio, considerado em si, encerra certa estranheza, porque não tende, por sua natureza, a um fim honesto e necessário.

Contudo, o lucro, que é o fim do comércio, embora em sua essência não implique algum elemento honesto ou necessário, não implica em essência nada de vicioso ou contrário à virtude. Portanto, nada impede que o lucro seja condenado a um fim necessário ou mesmo honesto, e então a negociação se tornará legal. Esse é o caso quando um homem dedica o lucro moderado que adquire por meio do comércio ao apoio da família ou também para ajudar os necessitados, ou quando alguém se dedica ao comércio para servir ao interesse público, para que eles não percam a vida da pátria. as coisas necessárias, porque então ele não busca lucro como fim, mas remuneração de seu trabalho.


Estas são as palavras lapidares do filósofo cristão - PALAVRAS CONSTRUTORAS DE VIDA - que tecem metas em que o lucro dentro da justiça que o deve reger não é um pecado, ou sejas em termos seculares "um crime", porquanto um lucro assim entendido insere-se na norma da vida de qualquer cidadão que faz da sua honestidade, ainda que comercial, um modo de vida para seu próprio sustento ou para servir ao interesse público.

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