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segunda-feira, 26 de junho de 2017

A dignidade do trabalho humano




Da "Gaudium et Spes" - um documento fundamental do Concilio Vaticano II dedicado ao papel da Igreja no Mundo Actual, pela sua importância eclesial e com incidência secular, um facto marcante mesmo em círculos distantes - reproduz-se do Capítulo III - A VIDA ECONÓMICA E SOCIAL o nº 67 desta "CONSTITUIÇÃO PASTORAL" que o seu autor - O Papa Paulo VI - dedicou ao "TRABALHO"


O trabalho humano, que se exerce na produção e na troca dos bens económicos e na prestação de serviços, sobreleva aos demais factores da vida económica, que apenas têm valor de instrumentos.
Este trabalho, empreendido por conta própria ou ao serviço de outrem, procede imediatamente da pessoa, a qual como que marca com o seu zelo as coisas da natureza, e as sujeita ao seu domínio. 

É com o seu trabalho que o homem sustenta de ordinário a própria vida e a dos seus; por meio dele se une e serve aos seus irmãos, pode exercitar uma caridade autêntica e colaborar no acabamento da criação divina. Mais ainda: sabemos que, oferecendo a Deus o seu trabalho, o homem se associa à obra redentora de Cristo, o qual conferiu ao trabalho uma dignidade sublime, trabalhando com as suas próprias mãos em Nazaré. Daí nasce para cada um o dever de trabalhar fielmente, e também o direito ao trabalho; à sociedade cabe, por sua parte, ajudar em quanto possa, segundo as circunstâncias vigentes, os cidadãos para que possam encontrar oportunidade de trabalho suficiente. 

Finalmente, tendo em conta as funções e produtividade de cada um, bem como a situação da empresa e o bem comum, o trabalho deve ser remunerado de maneira a dar ao homem a possibilidade de cultivar dignamente a própria vida material, social, cultural e espiritual e a dos seus.
Dado que a actividade económica é, na maior parte dos casos, fruto do trabalho associado dos homens, é injusto e desumano organizá-la e dispô-la de tal modo que isso resulte em prejuízo para qualquer dos que trabalham.

Ora, é demasiado frequente, mesmo em nossos dias, que os trabalhadores estão de algum modo escravizados à própria actividade. Isto não encontra justificação alguma nas pretensas leis económicas. É preciso, portanto, adaptar todo o processo do trabalho produtivo às necessidades da pessoa e às formas de vida; primeiro que tudo da doméstica, especialmente no que se refere às mães, e tendo sempre em conta o sexo e a idade. Proporcione-se, além disso, aos trabalhadores a possibilidade de desenvolver, na execução do próprio trabalho, as suas qualidades e personalidade. Ao mesmo tempo que aplicam responsavelmente a esta execução o seu tempo e forças, gozem, porém, todos de suficiente descanso e tempo livre para atender à vida familiar, cultural, social e religiosa. Tenham mesmo oportunidade de desenvolver livremente as energias e capacidades que talvez pouco possam exercitar no seu trabalho profissional.


Uma pequena nota:

A abrir o "Livro do Génesis" (1, 26-28) Deus disse:«Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei, multiplicai--vos, enchei e submetei a terra. 

Eis, porque, Paulo VI num dado passo diz ao referir-se ao trabalho do homem que este marca com o seu zelo as coisas da natureza, e as sujeita ao seu domínio, cumprindo assim, uma determinação do Criador, associando-se a Ele que assim quis que acontecesse, mas que o zelo do homem devendo ser sempre um oferecimento do seu trabalho em ordem do progresso humano, este deva merecer o respeito das leis da economia, pelo que, há, no texto uma chamada de atenção, tendo-se em conta ser demasiado frequente, mesmo em nossos dias, que os trabalhadores estão de algum modo escravizados à própria actividade. Isto não encontra justificação alguma nas pretensas leis económicas. É preciso, portanto, adaptar todo o processo do trabalho produtivo às necessidades da pessoa e às formas de vida; primeiro que tudo da doméstica, especialmente no que se refere às mães, e tendo sempre em conta o sexo e a idade. 

Atenta, a Igreja dos Apóstolos, neste passo como em tantos mais que se encontram, amiúde, neste famoso texto do Concílio Vaticano II, é, com a autoridade que se lhe reconhece, um arauto que foi beber à Fonte para nos dizer - "sem papas na língua" - que não faltam situações em que aqui e ali os trabalhadores estão de algum modo escravizados ao poder da Economia sem rosto, condenável e "assassina" da dignidade do trabalho do homem, tal como preconiza o Livro do Génesis ao fazer de cada homem uma imagem de Deus, logo merecedora de todos os respeitos humanos, pelo que, escravizando-o com o trabalho, o sustento da sua vida é feito contra as Leis imperecíveis de Deus.

Nunca, por isso, será demais ler e meditar este famoso documento do Concílio Vaticano II.

sábado, 10 de junho de 2017

"A morte, destino comum"


A morte, destino comum 

E eu vi ainda, debaixo do Sol, a injustiça ocupar o lugar do direito e a ini­quidade ocupar o lugar da justiça.  

Então eu disse em meu coração: «Deus julgará o justo e o ímpio, pois há tempo para todas as coisas e tempo para todas as obras.» E disse em meu coração acerca dos filhos dos homens: «Deus põe-nos à prova, para lhes mostrar que, só por si, são semelhantes aos ani­mais. 

Porque é o mesmo o destino dos filhos dos homens e o destino dos animais; um mesmo fim os espera. Como a morte de um assim é a morte do outro. A ambos foi dado o mesmo sopro, e o homem não tem qualquer vantagem sobre o animal, pois tudo é ilusão. 

Todos vão para um mes­mo lugar. Todos saíram do pó e ao pó hão-de voltar todos. 

Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos ho­mens su­birá às alturas, e o sopro de vida dos animais des­cerá ao fundo da terra? E reco­nheci que não há felicidade maior para o homem do que alegrar-se com as suas obras. 

Este é o qui­nhão que lhe toca. Pois quem o trará de volta para ver o que acon­tecerá depois dele?»

Livro do Eclesiastes 3, 16-22

segunda-feira, 8 de maio de 2017

"Excelência da Sabedoria"



Excelência da sabedoria

Meu filho, se receberes as minhas palavras
e guardares cuidadosamente os meus mandamentos,
prestando o teu ouvido à sabedoria,
e inclinando o teu coração ao entendimento;
se invocares a inteligência
e fizeres apelo ao entendimento,
se a buscares como se procura a prata
e a pesquisares como um tesouro escondido,
então, compreenderás o temor do Senhor
e chegarás ao conhecimento de Deus.

Porque o Senhor é quem dá a sabedoria
e da sua boca procedem o saber e o entendimento.

Ele reserva a salvação para os rectos
e é um escudo para os que procedem honestamente.
Protege os caminhos dos justos
e dirige os passos dos seus fiéis.

Então, compreenderás a justiça e a equidade,
a rectidão e todos os caminhos que conduzem ao bem;
pois a sabedoria entrará no teu coração
e o conhecimento será para ti uma delícia.

A reflexão te guardará
e o entendimento amparar-te-á,
para te livrar do mau caminho
e do homem que diz coisas perversas,
dos que abandonam o caminho recto
e andam por caminhos tenebro­sos
dos que se alegram em fazer o mal
e se regozijam em perversidades,
daqueles cujos caminhos são tortuosos
e se extraviam por veredas sinuosas;
para te preservar da mulher alheia,
da estranha que usa palavras sedutoras,
que abandona o companheiro da sua juventude
e esqueceu a aliança do seu Deus.

A sua casa resvala para a morte,
e os seus caminhos, para a região das sombras.
Todos os que têm trato com ela não voltarão atrás
nem encontrarão as veredas da vida.

Portanto, tu caminharás pela senda dos bons
e seguirás o caminho dos justos,

(Livro dos Provérbios 2, 1-20)

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Diz a tradição que o Livro dos Provérbios incluído na secção dos Livros Sapienciais da Bíblia se deve a Salomão, que foi o mais sábio dos reis hebreus, tendo tido um reinado de paz, trabalho e prosperidade para Israel.

Filho do rei David - de onde provém a raiz genealógica de Jesus Cristo - reinou cerca de mil anos antes do seu nascimento e a crer na tradição deixou neste Livro muito do seu saber expresso nas suas palavras que têm sobre elas o peso de três mil anos.

Contudo, se atentarmos nelas, como elas merecem, concluímos que pese embora o peso de tantos anos continuam a ser exactas, porque qualquer pai consciente dos nossos dias, por cerro encontra conselhos que não pode desdenhar de os dar a seus filhos, pela simples razão, que há palavras por onde não passa a erosão dos anos.

Segui-las... eis o problema!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Assim terá de ser, um dia...


No nº 10 da INTRODUÇÃO a este notável Documento do Concilio Vaticano II,  a Igreja pela pena do Papa Paulo VI dá-lhe o título - Jesus Cristo, resposta e solução da problemática humana - convicto de ter de ser assim, algo que pelos homens assim tem de ser entendido, um dia - cedo ou tarde - porque Deus não se esquece da sua Criação, e este conceito há-de prevalecer por cima de todas as diferenças étnicas ou de religião.

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Na verdade, os desequilíbrios de que sofre o mundo actual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem. Porque no íntimo do próprio homem muitos elementos se combatem. 

Enquanto, por uma parte, ele se experimenta, como criatura que é, multiplamente limitado, por outra sente-se ilimitado nos seus desejos, e chamado a uma vida superior. Atraído por muitas solicitações, vê-se obrigado a escolher entre elas e a renunciar a algumas. Mais ainda, fraco e pecador, faz muitas vezes aquilo que não quer e não realiza o que desejaria fazer Sofre assim em si mesmo a divisão, da qual tantas e tão grandes discórdias se originam para a sociedade. 

Muitos, sem dúvida, que levam uma vida impregnada de materialismo prático, não podem ter uma clara percepção desta situação dramática; ou, oprimidos pela miséria, não lhe podem prestar atenção. Outros pensam encontrar a paz nas diversas interpretações da realidade que lhes são propostas. 

Alguns só do esforço humano esperam a verdadeira e plena libertação do género humano, e estão convencidos que o futuro império do homem sobre a terra satisfará todas as aspirações do seu coração. E não faltam os que, desesperando de poder encontrar um sentido para a vida, louvam a coragem daqueles que, julgando a existência humana vazia de qualquer significado, se esforçam por lhe conferir, por si mesmos, todo o seu valor.

Todavia, perante a evolução actual do mundo, cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova acuidade as questões fundamentais: Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida terrena?

A Igreja, por sua parte, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todos, oferece aos homens pelo seu Espírito a luz e a força para poderem corresponder à sua altíssima vocação; nem foi dado aos homens sob o céu outro nome, no qual devam ser salvos. Acredita também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e mestre. 

E afirma, além disso, que, subjacentes a todas as transformações, há muitas coisas que não mudam, cujo último fundamento é Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre. Quer, portanto, o Concílio, à luz de Cristo, imagem de Deus invisível e primogénito de toda a criação, dirigir-se a todos, para iluminar o mistério do homem e cooperar na solução das principais questões do nosso tempo.

in, Constituição Pastoral "GAUDIUM ET SPES" do Papa Paulo VI, publicada em 7 de Dezembro de 1965.

sábado, 15 de outubro de 2016

O sentido social da palavra POLÍTICA


O sentido social da palavra política

(…) A Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é ao mesmo tempo o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana. No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autónomas. Mas, embora por títulos diversos, ambas servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens. E tanto mais eficazmente exercitarão este serviço para bem de todos, quanto melhor cultivarem entre si uma sã cooperação, tendo igualmente em conta as circunstâncias de lugar e tempo. Porque o homem não se limita à ordem temporal somente; vivendo na história humana, fundada sobre o amor do Redentor, ela contribui para que se difundam mais amplamente, nas nações e entre as nações, a justiça e a caridade. Pregando a verdade evangélica e iluminando com a sua doutrina e o testemunho dos cristãos todos os campos da actividade humana, ela respeita e promove também a liberdade e responsabilidade política dos cidadãos.

(nº 76 da Constituição “Gaudium et Spes”) Nota: os sublinhados são nossos.
 Nota: os sublinhados no texto da Igreja são nossos.

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Subordinado ao tema  “A Importância da  Boa Vontade”, Albert Einstein em “in, Discurso-1948”, num dado passo declarou: (…) devemos estar hoje claramente conscientes do peso que uma pequeníssima justificação e uma boa vontade honesta podem exercer sobre os acontecimentos na vida política. Mas, independentemente disso, e independentemente do nosso destino, podemos estar certos de que sem os esforços incansáveis daqueles que estão preocupados com o bem-estar da humanidade como um todo a maioria da espécie humana estaria muito pior do que se encontra realmente agora.

O grande cientista acusado de ateísmo e, até, de lançar dúvidas sobre Deus, não deixou de seguir nesta prelecção um pensamento religioso ao proferir estas palavras onde deixou entrever o quanto as linhas da religião e da ciência são complementares uma da outra. Eis, porque,a Igreja saída do Vaticano II ao assumir-se como sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana, encaminha os seus fiéis para que sintam nas palavras de Einstein - e noutras semelhantes de ontem ou de hoje - um clarão espiritual em cima da sombra que passa.

Efectivamente, se nos lembramos das palavras do cientista, ele disse: sem os esforços incansáveis daqueles que estão preocupados com o bem-estar da humanidade como um todo, a maioria da espécie humana estaria muito pior do que se encontra realmente agora, o que faz haver nestas palavras ressonâncias de Deus, porquanto, sem a boa vontade honesta que vista por qualquer ângulo tem sempre ressaibos do Evangelho se for posta ao serviço da política, esta a quem cabe gerir a res publica como a Igreja, a quem cabe a difusão da doutrina dos Evangelhos, têm caminhos independentes e autónomos mas são convergentes em relação ao bem do homem.

 Mas isto não acontece se ao invés da boa vontade, imperarem a desordem e a imoralidade sem respeito pela dignidade humana, porque o que resulta é o abastardamento da sociedade e, com ele, a falta de amor pelo progresso caldeado no cadinho onde se “misturam” os homens de boa vontade que gerem a política e aqueles que gerem os destinos da Igreja, porque - como diz o Texto do Vaticano II, ambas as realidades servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens.

Era extremamente urgente que os homens do nosso tempo, sobretudo, os políticos tomassem consciência destas verdades para deixarmos de dar alguma razão a Eça de Queirós que em 1867 no jornal “Distrito de Évora” dizia que em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.

Há honrosas e gratificantes excepções a esta asserção azeda, todos o sabemos, mas falta percorrer, ainda, muito caminho. Assim, que os homens não se limitem, como diz o texto a viver, somente, a ordem temporal, mas que todos vivam sobre o amor do Redentor para que a justiça e a caridade - e a moralidade -  caminhem juntas nos campo políticos e, deles saiam como emanação natural para o comum dos cidadãos, na certeza que há-de ser no exercício da boa vontade que temos - sociedade civil e Igreja- de definir os caminhos da liberdade e responsabilidade política dos cidadãos. 

O sentido social da expressão PODER PÚBLICO

O sentido social da expressão poder público


Movido pela profunda convicção de que à Igreja compete não só o direito, mas o dever de pronunciar uma palavra autorizada sobre as questões sociais, Leão XIII dirigiu ao mundo a sua mensagem. Não que ele pretendesse estabelecer normas sob o aspecto puramente prático, quase diríamos, técnico, da constituição social; porque bem sabia, e era para ele evidente, que a Igreja não se arroga tal missão - como declarou, há um decénio, nosso predecessor de saudosa memória, Pio XI, na sua encíclica comemorativa “Quadragesimo anno” .- Na esfera geral do trabalho abre-se ao desenvolvimento são e responsável de todas as energias físicas e espirituais dos indivíduos, às suas organizações livres, um vastíssimo campo de acção multiforme, onde o público poder intervém com a acção integrante e ordenadora, primeiro por meio das corporações locais e profissionais, depois por força do próprio Estado cuja suprema e moderadora autoridade social tem o importante oficio de prevenir as perturbações de equilíbrio económico nascidas da pluralidade e dos contrastes dos egoísmos concorrentes, individuais e colectivos.

Ao contrário é indiscutível competência da Igreja, da qual a ordem social se aproxima e atinge o campo moral, ao julgar se as bases de uma determinada organização social estão em acordo com a ordem imutável, que Deus Criador e Redentor manifestou por meio do direito natural e da revelação: dupla manifestação a que se refere Leão XIII na sua encíclica. E muito bem: porque os ditames do direito natural e as verdades da revelação promanam por diversos trâmites da mesma fonte divina como duas correntes de água não contrárias, mas concordes; e porque a Igreja, guarda da ordem sobrenatural cristã em que concorrem a natureza e a graça, deve formar as consciências, inclusive as daqueles que são chamados a encontrar as soluções dos problemas e deveres impostos pela vida social.(…) 

in, nºs 4 e 5 da Radiomensagem na Solenidade do Pentecostes do Papa Pio XII - 1 de Junho de 1941, no 50º aniversário da Carta Encíclica “Rerum Novarum” de Leão XIII. Nota: Os sublinhados são nossos.

Nota. Os sublinhados no texto da Igreja são nossos.

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O  poder público dimana dos Órgãos do Estado devidamente legitimados devendo actuar no estrito respeito pelos cidadãos em conformidade com a moral social e natural que norteia a sociedade, algo que mereceu a C. Lahr, esta definição: é um todo que se pode comparar ao organismo. Também ela se compõe de membros que são como a matéria desse organismo e dum princípio que é como a alma: a autoridade.

Depreende-se, que sendo a autoridade querida por Deus como uma necessidade natural, esta se radica em ordem à ordenação do bem comum ao próprio Estado que deve agir no âmbito da sua moderadora autoridade social  com o fim de prevenir as perturbações de equilíbrio económico nascidas da pluralidade e dos contrastes dos egoísmos concorrentes, individuais e colectivos.

Foi esta a asserção cheia de sentido do Papa Pio XII, que hoje, como então, leva a Igreja a chamar a si o dever da sociedade agir de acordo com a ordem imutável determinada por Deus e de que se faz eco o salmista: Assim observarei de contínuo a tua lei para sempre e eternamente. (Sl 118, 44), porquanto as directivas do direito natural que sendo absoluto perante Deus, torna-se relativo perante a justiça criminal ou meramente humana, tornando lícita, a actuação do poder público em ordem à defesa do cumprimento do dever que é por si mesmo o verdadeiro sentido deste direito.

Ao invés, na ordem da graça o poder natural ao responder perante Deus na consciência de cada homem - com mais ênfase, a partir da Revelação -  pode e deve tornar-se uma parcela activa, influenciando a soma concertada do dever divino a agir no humano para que resulte daqui o desejo manifestado pela Igreja em formar as consciências, inclusive as daqueles que são chamados a encontrar as soluções dos problemas e deveres impostos pela vida social, tornando, por este facto, altamente responsáveis todos os homens que se dispõem a tomar sobre os seus ombros a tarefa do cumprimento da justiça que enforma o poder público, tornando-o numa escola de virtudes.

È este o desafio que temos pela frente, tendo na devida conta as palavras iniciais do texto de Pio XII: Movido pela profunda convicção de que à Igreja compete não só o direito, mas o dever de pronunciar uma palavra autorizada sobre as questões sociais, o Papa Leão XIII, ao reivindicar este propósito para o Magistério petrino, com a sua atitude desafiou o poder público instituído ao cumprimento do equilíbrio da sociedade na pluralidade social em que ela se movimenta.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Exaltar a MULHER

Exaltar a MULHER

 (…) Em diversos países está sendo objecto de constante procura e, por vezes, mesmo de reivindicações enérgicas, um estatuto da mulher, o qual faça cessar a efectiva discriminação existente e estabeleça relações de igualdade nos direitos e de respeito pela sua dignidade. 
Não falamos, obviamente, daquela falsa igualdade que negasse as distinções estabelecidas pelo mesmo Criador e que estivesse em contradição com o papel específico e, quantas vezes capital, da mulher no coração do lar e, também na sociedade. 
A evolução das legislações deve, ao contrário, orientar-se no sentido de proteger a sua vocação própria e, ao mesmo tempo, de reconhecer a sua independência, enquanto pessoa, e a igualdade dos seus direitos a participar na vida cultural, económica, social e política. 

in,Carta Apostólica “Octogésima Adveniens” do Papa Paulo VI ao Cardeal Maurício Roy, Presidente do Conselho dos Leigos e da Pontifícia Comisão “Justiça e Paz”, no 80º aniversário da Encíclica “Rerum Novarum”)
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O texto que se reproduz faz parte do nº 13 da “Carta Apostólica” e é antecedido duma reflexão do Papa Paulo VI sobre a juventude quanto às suas aspirações de renovação, a que se segue o texto dedicado à mulher, quanto ao estabelecimento de relações de igualdade, conforme o preceituado pela doutrina católica, não daquela falsa igualdade que se podem situar a partir  da publicação em 1960 do livro “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir e assumido pelo movimento feminista - marcadamente político - que advoga que a hierarquização dos sexos é uma construção social e não a uma questão biológica, e em última análise, afirmam que a condição da mulher na sociedade foi uma construção da sociedade patriarcal.

Sem se negar que existe razão quanto aos maus tratos sofridos pela mulher, como a que adveio com o advento do capitalismo, mormente com a Revolução Industrial em que ao adquirir postos de trabalho se sentiu explorada, isso - que foi uma realidade e uma nódoa social -  não implica que se queira de uma forma intelectual e teórica desnaturalizar a ideia da diferença entre os géneros, que é entendível quanto aos direitos, mas não assim, quanto à natural diferenciação natural, algo que não é considerado pelo feminismo, porque agem no sentido de modificar a concepção de que a mulher não é mais frágil que o homem.

Eis, porque, Paulo VI chama a atenção para a falsa igualdade contraposta à Criação e, em consequência - assinala com esmero o seguinte - em contradição com o papel específico e, quantas vezes capital, da mulher no coração do lar e, também na sociedade, como está a acontecer no tempo que passa, onde a mulher encontrou a carta de alforria, que a faz participar activamente na construção da sociedade, a par da dignidade que é dada ao homem, pela participação empenhada da sua acção, de acordo com a nova concepção da sociedade, mas longe dos estafados feminismos que tenderam, como o fim, colocar a mulher contra o homem.

Jacques Leclercq (1891-1971), no seu livro: “A Família”, sobre este assunto aborda-o do seguinte modo: Todos os seres humanos são iguais, com uma igualdade de natureza que lhes confere a mesma nobreza, o mesmo direito de alcançarem o seu fim próprio e de utilizarem os meios necessários para o conseguirem, para concluir num passo adiante: Mas esta igualdade fundamental combina-se com uma desigualdade acidental: desigualdade de dons da natureza (…) e isto pressupõe, apenas - o que é visível quanto à morfologia do ser  único e irrepetível, enquanto obra-prima da Criação.

E depois, acrescenta esta asserção.

O ser humano encontra-se na terra para cumprir uma missão; cada qual deve ocupar o seu lugar na obra do género humano, obra de progresso humano ou de civilização. Cada qual deve ocupar o lugar correspondente à sua capacidade. Tanto a mulher como o homem. Cada mulher como cada homem.

Temos, assim, que o pensador espiritualista ao afirmar, convictamente, que a sensibilidade da mulher está acima da do homem e, como tal, lhe está destinado um desempenho da máxima importância familiar e social - o que é uma evidência natural pelo facto de ter em grau superior  a inteligência ligada àquela qualidade congénita - este facto que lhe faz apurar a intuição, pode intuir-se, não passou  despercebido ao Papa Paulo VI no texto a que fazemos referência, levando-o a exortar o poder legislativo, quanto è necessidade de proteger a sua vocação própria e, ao mesmo tempo, de reconhecer a sua independência, enquanto pessoa, e a igualdade dos seus direitos a participar na vida cultural, económica, social e política.

Não valem, portanto, como norma os feminismos virulentos, mas, o amor, filho da assunção natural das diferenças, que afinal, complementam os dois seres - homem e mulher - e lembrar como fecho, os dois últimos versos do famoso poema de Victor Hugo:  “O Homem e a Mulher”, que nos dizem que o homem está colocado onde termina a terra / a mulher, onde começa o céu.
E, assim, exaltemos a mulher que pela sua natureza é a matriz de todos os homens, tornando-se bem parecidas com Nossa Senhora, Mãe de Jesus.
       

Vamos falar de LAICISMO

 
Vamos falar de Laicismo

(…) Pois, em virtude do próprio facto da criação, todas as coisas possuem consistência, verdade, bondade e leis próprias, que o homem deve respeitar, reconhecendo os métodos peculiares de cada ciência e arte. Por esta razão, a investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será realmente oposta à fé, já que as realidades profanas e as da fé têm origem no mesmo Deus. Antes, quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são. Seja permitido, por isso, deplorar certas atitudes de espírito que não faltaram entre os mesmos cristãos, por não reconhecerem suficientemente a legítima autonomia da ciência e que, pelas disputas e controvérsias a que deram origem, levaram muitos espíritos a pensar que a fé e a ciência eram incompatíveis. Se, porém, com as palavras «autonomia das realidades temporais» se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus deixa de ver a falsidade de tais assertos. Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes, de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na linguagem das criaturas. Antes, se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece

in, nº 36 da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”  - Nota: os sublinhados são nossos.

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Só é entendível falar do laicismo - e do seu sentido social -  por esta corrente do pensamento libertário respeitar à sociedade onde vivemos e que, no seu todo, recolhe no seu seio, na pluralidade que a enforma, ideários como o do laicismo que ao apresentarem-se contra os valores  sobrenaturais tende a fractura espiritual da sociedade respeitadora da transcendência natural da sua origem.

De uma forma pertinente, desde o Renascimento o laicismo começou, paulatinamente, a assumir para si o papel de uma revolta contra Deus, com clara evidência no tempo moderno, impondo o homem ao mundo e vendendo-lhe a falsa ilusão deste se bastar a si mesmo, desembaraçando-o, assim, de um multissecular empeço e de um irritante e prejudicial obstáculo, como afirma Michele Federico Sciacca, no seu livro: “A Hora de Cristo”.

É contra isto, que através da “Gaudium et Spes” a Igreja deplora certas atitudes do espírito, que eivadas numa concepção da vida ao nível terreno aumentam a crise que está a afectar a Europa contemporânea, mergulhando-a num abismo onde falta o fundamento do absoluto da verdade e dos altos valores sobrenaturais e humanos que brotam das duas primeiras Leis que abem o Decálogo, e ao invés, o que o laicismo procura é a quebra deste compromisso histórico e amoroso entre Deus e o homem.

O autor acima citado e no mesmo livro, num dado ponto faz esta pergunta:: Esta é deveras a hora de Cristo. Deixá-la-ão passar os católicos assumindo a responsabilidade do advento da hora das trevas?
Há que responder, convictos de que sem o Criador a criatura não subsiste, porque se esta segue as peugadas do laicismo, a Verdade, enquanto a raiz mais funda da criatura centrada no Ser Supremo de onde ela emerge, arrisca-se a aceitar a razão como fundamento de si mesma e, como tal, a sua verdade é tida como contendo em si toda a verdade, o que, convenhamos, é uma “rasteira” que só, ilusoriamente, se passa a Deus que bem do Alto da sua magnanimidade,  desculpa o jogo rasteiro de quem O esquece, mas nos adverte para o perigo que corremos, porque se se esquece Deus, a própria criatura se obscurece, algo que com todo o propósito nos diz a Constituição Pastoral a que fazemos referência.

Eis, porque, a hora que vivemos tem de ser a Hora de Cristo porque Deus que O enviou jamais permitirá o triunfo das trevas.

O sentido social da expressão ESPÍRITO DE SACRIFÍCO


O sentido social da expressão: espírito de sacrifício

Vem a propósito recordar a todos, grandes e pequenos, que o sentido cristão da vida impõe espírito de sobriedade e sacrifício. Infelizmente, prevalecem hoje bastante a mentalidade e a tendência hedonistas, que pretendem reduzir a vida à busca do prazer e à satisfação completa de todas as paixões, com grave prejuízo para o espírito e até para o corpo. No plano natural é sabedoria e fonte de bens a moderação e o domínio dos apetites inferiores. E no plano sobrenatural, o Evangelho, a Igreja e toda a sua tradição ascética exigem o espírito de mortificação e penitência, que assegura o domínio sobre a carne e oferece um meio efïcaz de expiar a pena devida pelo pecado, do qual ninguém é livre senão Jesus e a sua Mãe Imaculada

in, nºs 233 e 234 Carta Encíclica “Mater et Magistra” de Sua Santidade João XXII - . Nota: os sublinhados são nossos.
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Uma das muitas e brilhantes cogitações do Padre António Vieira reza assim: Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros, afirmação que encaminha o nosso pensamento para Jesus Cristo, porque ao dar aos homens a verdadeiro sentido da suas vidas  permitiu que o tratassem como se não fosse um homem (cf.Sl 21, 7), sacrificando-se no Altar do Gólgota para dar Luz ao mundo, porquanto, todos os sacrifícios antes do d’Ele foram ineficazes na reconciliação do homem com Deus e só a partir d’Ele a Luz de Deus, efectivamente, chegou a toda a Humanidade.

E isto, foi assim, porque embora os sacrifícios a. C., lembrassem aos homens as suas iniquidades e tivessem despertado neles sentimentos de arrependimento, estes por si mesmos não se podiam purificar dos seus pecados, algo que só passou a acontecer com a expiação de Jesus Cristo acrescentada com o seu valor infinito, porque trazia de Deus a filiação e o poder de os perdoar, por forma a que a Luz da sua divindade desse a todos os homens o sentido cristão para onde deviam tender todos os passos e, desse modo, dando-lhes o espírito de sobriedade e sacrifício de que nos fala João XXIII.

Se atentarmos que a sobriedade é a temperança que tem de estar actuante nos modos e nas acções, isto torna o sacrifício como uma oferta feita a Deus, apresentando-o como algo de valor que lhe é entregue, dando-lhe o sentido da pobre viúva, que deitou na caixa do Templo os últimos ceitis que possuía (Mc 12, 43), fazendo no modo e na acção um sacrifício que ia inteiro, não só na dádiva, como na renúncia que ela implicava, o que nos conduz e bem perto de nós a Saint-Exupéry, que ao falar do sacrifício, afirma que (...) Ele é uma oferta de nós próprios ao Ser a que recorremos.

Infelizmente, diz o texto que nos serve de fonte, na sociedade frívola que faz do prazer um objecto de vida, este é reprovado por contrariar - impedindo, até - a assunção da atitude sábia que devia estar presente, e não estando, acarreta grave prejuízo para o espírito e até para o corpo, pela imoderação assumida de actos que não dignificam no homem a ambivalência que o torna, por vontade do Criador, não apenas matéria, mas também, espírito, sobre o qual Henry Miller (in "O Mundo do Sexo") nos diz: (…) aos olhos de Deus, tudo é divino. E quando digo tudo, é mesmo tudo o que quero dizer. Quando olhamos as coisas a tal luz, a palavra «transmutação» adquire um sentido ainda maior: pressupõe que o nosso bem-estar depende do nosso entendimento espiritual, do modo como nos servimos da visão divina que possuímos.

Eis, porque, tem de ser na troca do hedonismo em que o homem se vê a si mesmo enquanto matéria para se consumir na fornalha dos prazeres do mundo e, na aceitação da sua vida centrada no espírito das palavras “ Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil 4, 13), que tem de haver o encontro com a parte divina que lhe foi dada e com a qual é capaz de realizar todas as obras, ainda que estas exijam mortificação e penitência, por ser assim que vencemos o pecado de que apenas estão livres Jesus e a sua Mãe Imaculada.

O sentido social da palavra CARIDADE

O sentido social da palavra caridade
  
(…) Quanto à Igreja, a sua acção jamais faltará por qualquer modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se possa desenvolver.
Nós desejamos que compreendam isto sobretudo aqueles cuja missão é velar pelo bem público. Empreguem neste ponto os Ministros do Santuário toda a energia da sua alma e generosidade do seu zelo, e guiados pela vossa autoridade e pelo vosso exemplo, Veneráveis Irmãos, não se cansem de inculcar a todas as classes da sociedade as máximas do Evangelho; façamos tudo quanto estiver ao nosso alcance para salvação dos povos, e, sobretudo, alimentem em si e acendam nos outros, nos grandes e nos pequenos a caridade, senhora e rainha de todas as virtudes
Portanto, a salvação desejada deve ser principalmente o fruto duma grande efusão de caridade, queremos dizer, daquela caridade que compendia em si todo o Evangelho, e que, sempre pronta a sacrificar-se pelo próximo, é o antídoto mais seguro contra o orgulho e o egoísmo do século. Desta virtude, descreveu S. Paulo as feições características com as seguintes palavras: “A caridade é paciente, é benigna, não cuida do seu interesse; tudo sofre; a tudo se resigna” 

in, nº 35 da Carta Encíclica “Rerum Novarum” - Nota: os sublinhados são nossos.
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Camilo Castelo Branco escreveu, possivelmente, num dos raros intervalos da sua atribulada vida o livro “Horas de Paz - escritos religiosos”, dedicando o cap. V ao tema da caridade, onde afirma: Esta virtude, considerada o amor a Deus e o amor do próximo, é a mais excelente de todas as virtudes (…) a esperança cessará quando os prazeres esperados se converterem na dulcíssima realidade das delícias celestes; mas a “caridade subsistirá eternamente” como diz S. Paulo (1ª Cor. 13, 8), por ser senhora e rainha de todas as virtudes, como, mais tarde, acentuaria o Papa Leão XIII, o que nos leva a concluir que a salvação prometida por Deus a todos os homens tem de ter como base primeira e fundamental a assunção da caridade que compendia em si todo o Evangelho, ou seja, amar a Deus na linha do profetismo do AT e, de um modo especial, seguir a pregação de  Jesus e dos seus Apóstolos.

A virtude da caridade representa a acção altruísta de fazer o bem sem esperar recompensa, como a Palavra defende: Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita (Mt 6, 3), donde deriva ser a caridade a essência do cristianismo, algo que levou S. Paulo a menorizar todas as suas obras se nelas não entrasse como perfume de Deus a caridade, porque não estando vivificado por ela sentia-se arredado do caminho do céu.

Eis, porque, sendo isto tão óbvio, espanta que entre o tempo de Moisés, quando é dito: Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças (Dt 6,5) e o tempo actual, Deus continue a exortar o homem quanto à assunção do vínculo maior - a caridade -  onde o amor que lhe é devido se tem de tornar infinito, pois só assim é possível modificar a natureza do homem, razão porque a recomendação de Moisés vem de muito longe e continua actual, pois só a partir de Deus é que se pode amar, verdadeiramente, o próximo, na linha da caridade a que todos fomos chamados e ressoou, um dia, no antigo grito dos pagãos: “vede como eles se amam” testemunhado por Tertuliano (160-220 d. C).

Este é, certamente, o primeiro e grande paradigma da caridade entre os homens no ágape da repartição fraterna, hoje, um sentimento difuso, onde o homem reduzido a um número passou a ser um ente solitário entre muitos, quando o ideal cristão o torna necessitado um do outro, centrando-se aqui o testemunho que cabe dar à valorização humana do próximo.

Temos assim, que no desfiar dos séculos tem sido o sentimento da caridade o fiel  inspirador de tudo aquilo que nos ata a Deus e tem de ser, a partir desse feixe de amor sublime, a relação com o nosso semelhante, partindo dessa íntima comunhão da Humanidade aos pés do Criador, a fazer-se da caridade - que no dizer de S. Paulo não cuida do seu interesse -  algo que nos deve inquietar, porque a massificação do tempo que passa ao isolar o homem tende a desviá-lo da caridade que é devida ao seu semelhante.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O sentido social da expressão Bem Comum


O sentido social da expressão “bem comum”

Nota: os sublinhados nos textos do Magistério da Igreja são nossos.

A premuni-los contra estes falsos princípios, com que a si próprios fechavam o caminho da justiça e da paz, deviam bastar as palavras sapientíssimas do Nosso Predecessor : «de qualquer modo que seja distribuída entre os particulares, não cessa a terra de servir à utilidade pública». O mesmo ensinámos Nós pouco antes, quando declarávamos, que a própria natureza exige a repartição dos bens em domínios particulares, precisamente a fim de poderem as coisas criadas servir ao bem comum de modo ordenado e constante. Este princípio deve ter continuamente diante dos olhos, quem não quer desviar-se da recta senda da verdade.
Ora nem toda a distribuição dos bens ou riquezas entre os homens é apta para obter totalmente ou com a devida perfeição o fim estabelecido por Deus. E necessário que as riquezas, em contínuo incremento com o progresso da economia social, sejam repartidas pelos indivíduos ou pelas classes particulares de tal maneira, que se salve sempre a utilidade comum, de que falava Leão XIII, ou, por outras palavras, que em nada se prejudique o bem geral de toda a sociedade. Esta lei de justiça social proíbe, que uma classe seja pela outra excluída da participação dos lucros. 

in, Cap.II “Autoridade da Igreja na questão social e económica” da Carta Encíclica “Quadragésimo Anno” Pio XI

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Não há dúvida de que, numa nação, a organização jurídica, ajustada à ordem moral e ao grau de maturidade da comunidade política, é elemento valiosíssimo de bem comum.
Mas hoje em dia a vida social é tão diversa, complexa e dinâmica que a organização jurídica, embora elaborada com grande competência e larga visão, muitas vezes parecerá inadequada às necessidades.
Além disso, as relações das pessoas entre si, as das pessoas e organismos intermediários com os poderes públicos, como também as relações destes poderes entre si no seio de uma nação, apresentam por vezes situações tão delicadas e nevrálgicas que não se podem enquadrar em termos jurídicos bem definidos. Faz-se mister, pois, que, se as autoridades quiserem permanecer, ao mesmo tempo, féis à ordem jurídica existente, considerada em seus elementos e em sua inspiração profunda, e abertas às exigências emergentes da vida social, se quiserem, por outro lado, adaptar as leis à variação das circunstâncias e resolver do melhor modo possível novos problemas que surjam, devem ter ideias claras sobre a natureza e a extensão de suas funções. Devem ser pessoas de grande equilíbrio e rectidão moral, dotadas de intuição prática para interpretar com rapidez e objectividade os casos concretos, e de vontade decidida e forte para agir com tempestividade e eficiência

in, Encíclica “Pacem in Terris” nºs 70 a 72). João XXIII

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O bem comum teve no profeta Amós (VIII séc. a. C) o primeiro paladino bíblico ao denunciar a palavra maliciosa dos maus comerciantes Quando passará a lua nova, para vendermos o grão e o sábado, para expormos o trigo, diminuindo a medida, e aumentando o preço, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras? (Am 8, 5) entroncando-se, assim, estas atitudes desonestas na citação a quer alude o Papa Pio XI:  não cessa a terra de servir à utilidade pública, razão porque, tendo a terra que gera o grão de trigo, sido criada por Deus para servir a comunidade, desde logo, não podem servir-se dela - sem pensar no bem comum -  os falsários que colocam acima de tudo e de todos os seus interesse imediatos, quando a repartição dos bens deveria ter em conta  a utilidade comum, tanto a nível individual como ao nível das nações como refere o Papa João XXIII , chamando a atenção para a necessidade social  em atenção ao bem geral, destas se organizarem avisadamente,  na ordem jurídica e no devido respeito pela moral, por forma a que - no conjunto - haja uma resposta adequada às inquietações e necessidades dos seus naturais, devendo, por isso,  a classe política ter ideias claras sobre a natureza e a extensão de suas funções.

É aqui que bate o ponto. Nas sociedades hodiernas - como a nossa - os políticos eleitos por  sufrágio e a quem incumbe a produção das leis, continuam, com honrosas excepções, a não fazer caso deste aviso sábio do Papa que a Igreja se prepara para canonizar no próximo dia 27 de Abril. 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

O sentido social da palavra AMOR




O sentido social da palavra Amor

Deus, que por todos cuida com solicitude paternal, quis que os homens formassem uma só família, e se tratassem uns aos outros como irmãos. Criados todos à imagem e semelhança daquele Deus que «fez habitar sobre toda a face da terra o inteiro género humano, saído dum princípio único» (Act. 17,26), todos são chamados a um só e mesmo fim, que é o próprio Deus. E por isso, o amor de Deus e do próximo é o primeiro e maior de todos os mandamentos. Mas a Sagrada Escritura ensina-nos que o amor de Deus não se pode separar do amor do próximo, «...todos os outros mandamentos se resumem neste: amarás o próximo como a ti mesmo... A caridade é, pois, a lei na sua plenitude» (Rom. 13, 9-10; cfr. 1 Jo. 4,20). Isto revela-se como sendo da maior importância, hoje que os homens se tornam cada dia mais dependentes uns dos outros e o mundo se unifica cada vez mais. Mais ainda: quando o Senhor Jesus pede ao Pai «que todos sejam um..., como nós somos um» (Jo. 17, 21-22), sugere - abrindo perspectivas inacessíveis à razão humana - que dá uma certa analogia entre a união das pessoas divinas entre si e a união dos filhos de Deus na verdade e na caridade. Esta semelhança torna manifesto que o homem, única criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo

in, nº 24 da Constituição “Gaudium et Spes” Nota: os sublinhados são nossos.
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O amor, no seu sentido lato e profundo, imbrica-se no pai da fé, Abraão, que ao cumprir a promessa de Deus com reflexo directo nele e em sua descendência, pela desinstalação do seu lar mesopotâmico, encontraria o seu cumprimento pleno 2.100 anos depois, na Pessoa de Jesus Cristo, onde ganhou o sentido maior: 
Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 13,15), razão que leva a Igreja do Vaticano II a exortar-nos quanto à sua solicitude paternal e, em consequência, com o desejo de levar a cada um de nós o amor de nos sentirmos irmãos espirituais por força da Palavra Viva de Jesus, que a par do nobre sentimento que nos deve unir na vivência terrena - amar o próximo como a nós mesmos (Mc 12, 33) - ao fundir-se com o primeiro mandamento das Tábuas da Lei, - amar a Deus sobre todas as coisas -  dos dois preceitos fundamentais fez um só para o bom governo do homem.

Eis, porque, se deve por a render no chão da vida a “árvore” sadia do amor social enraizado na Matriz divina, tendo-se  em conta que um amor assim para com o semelhante é o reflexo evidente do amor que cada criatura tem por Deus, quer seja através do vínculo radicado na família - a pequena igreja doméstica -  como com a comunidade nos seus diversos cambiantes, se tivermos em conta o aparecimento no tempo que passa de associações, instituições e suas congéneres que exigem de todo o homem a sua acção fundada, em primeiro lugar, no amor a Deus e que, repartido a partir d’Ele por todas as criaturas as deve conduzir ao amor mútuo de que nos fala a Palavra de Jesus.

Viver com empenho social é viver com a sabedoria que o amor alicerçado no divino nos dá, porquanto, tal como o ferro que só em brasa é que é moldável, o homem só depois de estar abrasado no amor de Deus é que pode moldar-se e moldar o outro e, desse modo dar maior harmonia à sociedade de que faz parte, na certeza que todos os patamares da vocação têm como ponto de partida um quinhão importante da vivência humana moldada segundo os princípios do amor que é devido a Deus e ao próximo.

É aqui que mergulha, verdadeiramente, o sentido maior do amor social dos homens.

Diz S. Francisco de Sales que quanto mais tivermos amado mais seremos glorificados no Céu, um motivo a mais para nos empenharmos na construção de uma sociedade mais justa, onde a dependência de cada um com o outro e de ambos com o mundo, atinja num futuro bem próximo um sentido mais perfeito do amor social e, com isso, ganhe o seu verdadeiro alcance  a expressão de Jesus, que um dia em conversa com o Pai e tendo os homens no pensamento, disse: «que todos sejam um..., como nós somos um»  (Jo 17, 21). porquanto, como nos diz, o texto a que aludimos, é no sincero dom de si mesmo que cada homem ao amar em si mesmo o dom da vida, encontra a razão suficiente para amar o outro - com Deus no meio - a entrelaçar a singularidade  do laço humano que os deve unir a dois, a três… e a milhares de milhões, ou seja, ao todo, ao Deus Universal que assim o quer.