O
sentido social da palavra Amor
Deus, que por todos cuida com solicitude
paternal, quis que os homens formassem uma só família, e se tratassem uns aos
outros como irmãos. Criados todos à
imagem e semelhança daquele Deus que «fez habitar sobre toda a face da terra o
inteiro género humano, saído dum princípio único» (Act. 17,26), todos são
chamados a um só e mesmo fim, que é o próprio Deus. E por isso, o amor de Deus e do próximo é o primeiro e maior de todos
os mandamentos. Mas a Sagrada Escritura ensina-nos que o amor de Deus não
se pode separar do amor do próximo, «...todos os outros mandamentos se resumem
neste: amarás o próximo como a ti mesmo... A caridade é, pois, a lei na sua
plenitude» (Rom. 13, 9-10; cfr. 1 Jo. 4,20). Isto revela-se como sendo da maior
importância, hoje que os homens se tornam cada dia mais dependentes uns dos
outros e o mundo se unifica cada vez mais. Mais ainda: quando o Senhor Jesus
pede ao Pai «que todos sejam um..., como nós somos um» (Jo. 17, 21-22), sugere
- abrindo perspectivas inacessíveis à razão humana - que dá uma certa analogia
entre a união das pessoas divinas entre si e a união dos filhos de Deus na
verdade e na caridade. Esta semelhança torna manifesto que o homem, única
criatura sobre a terra a ser querida por Deus por si mesma, não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo.
in, nº 24 da
Constituição “Gaudium et Spes” Nota: os sublinhados são nossos.
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O amor, no seu
sentido lato e profundo, imbrica-se no pai da fé, Abraão, que ao cumprir a
promessa de Deus com reflexo directo nele e em sua descendência, pela desinstalação
do seu lar mesopotâmico, encontraria o seu cumprimento pleno 2.100 anos depois,
na Pessoa de Jesus Cristo, onde ganhou o sentido maior:
Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei (Jo 13,15), razão que leva a Igreja do Vaticano II a
exortar-nos quanto à sua solicitude paternal e, em
consequência, com o desejo de levar a cada um de nós o amor de nos sentirmos
irmãos espirituais por força da Palavra Viva de Jesus, que a par do nobre
sentimento que nos deve unir na vivência terrena - amar o próximo como a nós mesmos (Mc 12, 33) - ao fundir-se com o
primeiro mandamento das Tábuas da Lei, - amar
a Deus sobre todas as coisas - dos
dois preceitos fundamentais fez um só para o bom governo do homem.
Eis, porque, se deve
por a render no chão da vida a “árvore” sadia do amor social enraizado na
Matriz divina, tendo-se em conta que um
amor assim para com o semelhante é o reflexo evidente do amor que cada criatura
tem por Deus, quer seja através do vínculo radicado na família - a pequena igreja doméstica - como com a comunidade nos seus diversos
cambiantes, se tivermos em conta o aparecimento no tempo que passa de associações,
instituições e suas congéneres que exigem de todo o homem a sua acção fundada,
em primeiro lugar, no amor a Deus e que, repartido a partir d’Ele por todas as
criaturas as deve conduzir ao amor mútuo de que nos fala a Palavra de Jesus.
Viver com empenho
social é viver com a sabedoria que o amor alicerçado no divino nos dá,
porquanto, tal como o ferro que só em brasa é que é moldável, o homem só depois
de estar abrasado no amor de Deus é que pode moldar-se e moldar o outro e,
desse modo dar maior harmonia à sociedade de que faz parte, na certeza que
todos os patamares da vocação têm como ponto de partida um quinhão importante
da vivência humana moldada segundo os princípios do amor que é devido a Deus e
ao próximo.
É aqui que mergulha,
verdadeiramente, o sentido maior do amor social dos homens.
Diz S. Francisco de
Sales que quanto mais tivermos amado mais seremos glorificados no Céu, um
motivo a mais para nos empenharmos na construção de uma sociedade mais justa,
onde a dependência de cada um com o outro e de ambos com o mundo, atinja num
futuro bem próximo um sentido mais perfeito do amor social e, com isso, ganhe o
seu verdadeiro alcance a expressão de
Jesus, que um dia em conversa com o Pai e tendo os homens no pensamento, disse: «que
todos sejam um..., como nós somos um» (Jo 17, 21). porquanto, como nos diz, o texto
a que aludimos, é no sincero dom de si mesmo que cada
homem ao amar em si mesmo o dom da vida, encontra a razão suficiente para amar
o outro - com Deus no meio - a entrelaçar a singularidade do laço humano que os deve unir a dois, a
três… e a milhares de milhões, ou seja, ao
todo, ao Deus Universal que assim o quer.
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