in, Wikipedia
Não satisfeitos os republicanos com a morte que levaram a cabo do rei D. Carlos e de seu filho o Príncipe Luís Filipe em 1908, dez anos depois, no dia 14 de Dezembro de 1918, em plena Estação do Rossio, Sidónio Pais - o 4º Presidente da República - foi alvejado a tiro à vista de seu irmão e filho, quando se preparava para visitar a cidade do Porto, tendo morrido, era quase meia-noite, a caminho do Hospital de S. José.
É por isso que a I República teve de cair - sem honra nem glória - porque esteve à mercê de braços longos que a mando de poderes que se escondiam na sombra mataram cruelmente e é por isso, que quando ouço ou vejo dar vivas à República, sinto naúseas, desinteresse e passo adiante, sem contudo deixar no mais fundo do meu íntimo uma reprovação pelos homens que ajudaram a cometer tais crimes, sendo que esta minha reprovação é mais funda para eles e muito menos para os que, mandados, executaram estas mortes.
Como não tarda aí este aniversário trágico, transcrevo ipsis-verbis a notícia então veiculada pela Revista PELA GREI de que foi director António Sérgio, esse homem impoluto em cuja raiz me sinto socialmente irmanado.
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Estava impressa a ultima folha
deste caderno da Pela Grei quando mataram o Presidente, - vítima da incultura de
uma Nação; vítima dos erros e dos vícios que temos apontado nestas páginas.
Todos colaboraram para perder um
homem que revelou qualidades excepcionais: os honestos não-politicos, porque
lhe não deram (inertes, ignorantes, ou faltos de carácter) uma força e uma orientação
precisa para uma grande obra nacional; muitos dos conservadores, que o
enredaram; muitos dos seus partidarios, que o comprometeram; e finalmente os
seus inimigos, que lhe deram a morte.
Por isso os assassinos,
apontando-lhe as balas ao coração, aureolaram-no mártir de uma sociedade
bárbara ; e assim a fortuna, não lhe concedendo preparação maior para os
problemas da sociedade, nem colaboradores altura do seu esforço, fez do Dr. Sidónio
Pais menor estadista do que poderia ter sido; mas restituiu-lhe tanto como lhe
tirou, escolhendo-o para a glória de vítima simbólica dos erros e vícios de
todos nós.
A todos nos incumbe reparar o crime
- que é de todos- não deixando inútil o seu sacrifício. “e Salvem a Pátria”,
exclamou ao morrer; e conta-se que já dissera a muitos seus amigos que se nada
conseguisse pela sua vontade lhe restava servir-nos com a sua morte.
Parecia-lhe impossível, decerto,
que nem mesmo assim a consciência da Grei acordasse na elite de Portugal. Os
factos favorecem o seu desígnio; e os homens? Serão mais inconscientes do o que
próprio acaso ? O povo português, na comoção evidente que o trabalha hoje, tem
a intuição confusa de uma verdade, de uma aspiração, de um destino, que a
elite, como de costume, não está sabendo interpretar: a intuição de que o
sacrifício deste homem deve representar alguma coisa, e de que a morte, nas circunstâncias
em que esta se deu, há-de terem ·si uma significação de Vida.
Aprender tal significação é
exprimir a essência desta figura histórica e a verdadeira maneira de a
comemorar, - transformando num plano e numa vontade lúcida, numa consciência
perfeita dos nossos perigos e no entendimento indispensável para a salvação
comum, aquilo que não passou até hoje, na maioria dos admiradores do Presidente
morto, de um entusiasmo idólatras superficial que lhe deu a palma do martírio,
privando-o do triunfo da realização .
in, nº 5 da Revista PELA GREI (1918)
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