A última palavra da
sabedoria está na cruz. Os judeus rejeitaram Jesus porque entenderam que sua
morte era um sinal bem claro de que Deus não estava com ele. Para eles, o
fracasso visível, a perseguição e a morte no martírio constituíam um claro sinal
de que Ele estava enganado. Para eles, o sinal de Deus era o êxito. Para Jesus,
no entanto, o sinal próprio de Deus era a morte na cruz: a vitória de Deus está
na fé do perseguido até mesmo na morte do martírio.
O sinal de Deus é a
ressurreição do mártir e não sua libertação da morte. Uma libertação após a
morte e não da morte. Quem aceita a realidade da cruz e reconhece nela o
caminho de Deus tem a sabedoria de Deus.
J. Comblin - in, Jesus
Cristo e sua Missão
Quem
não entende a pureza destas palavras é sinal de que o seu espírito anda fora do
conhecimento de Deus e do facto da Cruz, que Ele transformou na imensa
sabedoria que ofereceu aos homens, predispondo-os a não terem o comportamento
dos discípulos de Emaús, que só ante o mártir – no gesto do partir do pão -
viram o sinal que lhes fora dado, sem antes, terem compreendido os sinais que
aconteceram.
Os judeus, efectivamente, nem antes, nem depois,
acreditaram.
Para eles, firmados na sua apostasia, a morte no martírio
constituía um claro sinal de que Ele estava enganado, sendo, no entanto, o
caminho conhecido que Jesus levou até ao fim, porque a sua libertação da morte,
constituiria o grande sinal da omnipotência de Deus, e que haveria de
manifestar-se de um modo claro e inequívoco no dia de Pentecostes.
Jesus conduziu sempre a vida em ordem ao Pai.
O meu alimento é fazer
a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a Sua obra. (Jo 4,34).
Este alimento é o mesmo que Ele disse à samaritana, junto do
poço de Jacob, como sendo uma herança que deixaria aos seus discípulos, onde a
água viva seria, entre os homens, após a Sua morte a força espiritual que os
animaria na fé, pois, vai chegar a hora,
e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e
verdade, pois são esses adoradores que o Pai deseja (Jo 4,23).
A cruz estava no caminho. Não podia haver fugas.
Na Cruz, Jesus revela definitivamente, a união hipostática
que lhe vinha desde o momento da Encarnação e lhe conferia o dom único de ser
homem e Deus ao mesmo tempo. Na oração proferida no Getsémani, a reacção que
teve iguala-se à nossa perante a dor violenta.
A grandeza de Cristo é, pois, ser um de nós: Pai, tudo te é possível, afasta de mim este
cálice – é a natureza humana que fala – para concluir, logo a seguir -
tomando a natureza divina – Contudo, não
se faça o que Eu quero mas o que Tu queres. (Mc 14, 36), isto é, cumpra-se
em Mim o sinal que é preciso dar aos homens, que não passava só, pela morte
dolorosa, mas, sobretudo, pela ressurreição do mártir.
Aqui reside na sua plenitude a sabedoria da Cruz.
A morte física de Jesus resume magistralmente toda a
infinita sabedoria divina como obra de salvação, onde o Crucificado é a eterna
força de Deus que já havia inspirado o seguinte ditame: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e
siga-me (Mt 16, 34).
É um convite explícito feito ao homem para que abandone os
vícios que atormentam a alma e venha atrás dos caminhos de salvação que Jesus
deixou e, onde, a crucificação dos pecados é o caminho da ressurreição para
uma vida nova, através do sinal que é a
morte física de Jesus, para ressurgir, depois,
para a Vida Eterna.
Quem reconhecer nisto o caminho de Deus tem a sabedoria de
Deus.
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