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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

"Pela Grei"... Quando voltaremos a intuir que "Grei" quer dizer: Nação, Povo, Comunidade?


António Sérgio, pensador, pedagogo, filósofo e político (1883-1969) reuniu nestas facetas o seu empenho de homem interessado nas coisas do seu tempo, de que foi exemplo a publicação da Revista "PELA GREI" um órgão da imprensa destinado ao "Ressurgimento Nacional pela Formação e Intervenção de uma Opinião Pública Consciente", porquanto António Sérgio considerava como uma questão principal a constituição de uma opinião pública informada e, consequentemente, a formação de um escol de figuras recrutadas sobre uma base social ampliada, com o fim de seres os fiscalizadores dos representantes do povo eleitos, para poder haver uma Democracia efectiva, onde na sua acepção filosófica da vida tendia a fazer de toda a criatura humana investido da sua dignidade social.

A Revista PELA GREI teve como génese a criação da Liga de Acção Nacional e apareceu ao público no ano de 1918, num tempo em que os desvarios de uma República sem republicanos conscientes da sua acção sócio-política criou em algumas mentes brilhantes, como ade António Sérgio o desejo de fomentar na Nação a cultura política que lhe faltou desde o início do derrube da Monarquia, como se pode inferir neste texto parcial de apresentação que se publica.

O texto "Insistindo" faz parte do nº 2 da Revista e é. pela sua análise serena um documento que, hoje, devia ser meditado de novo, porque não faz sentido como é dito: A Nação "deixa-se ir", que é o que continua a acontecer porque faltam, na actualidade homens da craveira intelectual de António Sérgio, enquanto a Nação definha enrolada em sombras... na penúria de ideias e de significação nacional na luta dos políticos... que como assistimos colocam os partidos onde estão filiados na primeira fila de um interesse mais partidário que de cariz nacional de um Ressurgimento que tarda a encontra-se, por obra (quer das clientelas mendicantes, quer dos potentados oligarcas), uma opinião que vista à luz da sua crueza tem, ainda hoje, razão de ser.
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Insistindo . . .

Desde que publicámos o primeiro numero de Pela Grei a Nação acentuou mais uma vez a sua inacreditável abulia diante da crise que está sofrendo. De um lado a falta de dignidade, a bronca violência, a penúria de ideias e de significação nacional na luta dos políticos; do outro a desorganização e impotência na massa confusa dos não-partidários, dos legítimos representantes da GREI apática, martirizada. 

As elites das varias classes - ou servas por interesse, ou cúmplices por interesse expor comodismo - não tentam dar à Comunidade um plano de vida colectiva e uma organização eficiente, donde surgiria no pais um verdadeiro espírito nacional e um apoio para quaisquer governantes que, não paralisados pela dependência (quer das clientelas mendicantes, quer dos potentados oligarcas) tentassem tomar dentro do Estado o papel executivo que lhes compete numa obra de Ressurgimento. A Nação «deixa-se ir»; os interesses vis vão puxando; o despenhadeiro aproxima-se ...

Dá-se isto quando nos campos de batalha desse mundo melhor da nossa gente se sacrifica. Sacrifica-se a quê? Sacrifica-se - por quê? Que destino damos nós a esse sacrifício sem igual? Que é o que fazemos? Um insulto á mágoa dos enlutados; um escárnio ao heroísmo dos que morrem para que não venham PELA Grei Comunidade, por mãos de estranhos, as desgraças que nós aproprio-lhe causamos pelo nosso procedimento de todos os dias.  Não poderia haver, em uns, maior inconsciência; em outros, sacrificiais absurdo. 

Os políticos afiam as suas garras e a Nação deixa-se ir, na perspectiva de um estado social mais anárquico do que já temos, com um descrédito no mundo mais completo, com a ameaça estrangeira mais efectiva, com os ódios internos mais intensos. Ninguém diria que se passa isto num momento de ansiedade para todos os povos do universo; quando se impôs aos beligerantes necessidade de governos nacionais, com a própria colaboração dos inimigos das instituições; quando a Espanha, país neutral, recorre a um governo de concentração em que se unem os chefes de partidos que, dentro do regime, seguem as tendências mais opostas; quando, enfim, temos a fome a pairar sobre os nossos campos, a indisciplina por toda a parte, uma situação económica alarmante, condições financeiras muitíssimo criticas; quando se aproxima uma luta económica que, - todos o sabem - constituem ameaça terribilíssima para os povos imprevidentes ...

Em 1836, Alexandre Herculano aconselhava:

"Unamo-nos, pois, como irmãos, e abraçando-nos uns como outros, caiam algumas lágrimas de reconciliação sobre esta terra tão regada de lágrimas de amargura, tão ensopada no Sanguedo fratricídio. Refloresçamos em nós a paz e a amizade: tenhamos um nome só, o de Portugueses, um só bando, o da Pátria".

Isto se escreveu em 1836, numa época em que o conselho se impunha com uma evidência muitíssimo menor, com muito menos império que nos dias de hoje. Se as classes superiores do país não sentirem a necessidade de o seguir (e de o fazer seguir) como condição indispensável da reforma que se impõe - revelam uma deminuta inteligência da nossa actual situação.
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Texto notável é este.

E foi depois de o ler e reler o pensamento de Alexandre Herculano que senti uma mágoa profunda de nas eleições do passado dia 4 de Outubro de 2015, António Costa e Passos Coelho se não tivessem entendido e, quase numa luta fratricida estarem - os dois Partidos que eles representam - a levar o País para um destino que bem podia ser mais risonho se não fora o facto dos interesses vis - irem puxando - como se lê  neste documento nobre de sentimentos pátrios, com uma situação económica alarmante, como ainda se lê no documento de António Sérgio.

Até parece que vive, ainda este notável homem público cujas raízes parecem andar esquecidas dos homens públicos do nosso tempo.

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