Os egípcios estavam infectados de idolatria e de magia; o próprio povo de Deus era influenciado por seus exemplos. No entanto, Moisés e outros acreditavam naquele que não viam e o adoravam olhando para os dons naturais que ele lhes preparava.
Os gregos e os latinos, em seguida, fizeram reinar as falsas
divindades; os poetas fizeram cem diversas teologias: os filósofos se separaram
em mil seitas diferentes: no entanto, havia sempre, no coração da Judéia,
homens escolhidos que presidiam à vinda de um Messias que só por eles era
conhecido.
Ele veio, enfim, na consumação dos tempos: e, desde então,
viram-se nascer tantos cismas e heresias, tantos desmoronamentos de Estados,
tantas mudanças em todas as coisas; e essa Igreja a que adora aquele que sempre
foi adorado subsistiu sem interrupção. E o que é admirável, incomparável e
inteiramente divino, é que essa religião que sempre durou foi sempre combatida.
Mil vezes esteve na iminência de uma destruição universal; e, todas as vezes
que se achou nesse estado, Deus tornou a levantá-la com golpes extraordinários
de potência. É assombroso que assim seja e que ela se mantenha sem dobrar-se e
curvar-se sob a vontade dos tiranos.
Pascal
in, Pensamentos - Cap. III – artigigo 3º -Marcas da verdadeira religião
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