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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O sentido social da expressão ESPÍRITO DE SACRIFÍCO


O sentido social da expressão: espírito de sacrifício

Vem a propósito recordar a todos, grandes e pequenos, que o sentido cristão da vida impõe espírito de sobriedade e sacrifício. Infelizmente, prevalecem hoje bastante a mentalidade e a tendência hedonistas, que pretendem reduzir a vida à busca do prazer e à satisfação completa de todas as paixões, com grave prejuízo para o espírito e até para o corpo. No plano natural é sabedoria e fonte de bens a moderação e o domínio dos apetites inferiores. E no plano sobrenatural, o Evangelho, a Igreja e toda a sua tradição ascética exigem o espírito de mortificação e penitência, que assegura o domínio sobre a carne e oferece um meio efïcaz de expiar a pena devida pelo pecado, do qual ninguém é livre senão Jesus e a sua Mãe Imaculada

in, nºs 233 e 234 Carta Encíclica “Mater et Magistra” de Sua Santidade João XXII - . Nota: os sublinhados são nossos.
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Uma das muitas e brilhantes cogitações do Padre António Vieira reza assim: Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros, afirmação que encaminha o nosso pensamento para Jesus Cristo, porque ao dar aos homens a verdadeiro sentido da suas vidas  permitiu que o tratassem como se não fosse um homem (cf.Sl 21, 7), sacrificando-se no Altar do Gólgota para dar Luz ao mundo, porquanto, todos os sacrifícios antes do d’Ele foram ineficazes na reconciliação do homem com Deus e só a partir d’Ele a Luz de Deus, efectivamente, chegou a toda a Humanidade.

E isto, foi assim, porque embora os sacrifícios a. C., lembrassem aos homens as suas iniquidades e tivessem despertado neles sentimentos de arrependimento, estes por si mesmos não se podiam purificar dos seus pecados, algo que só passou a acontecer com a expiação de Jesus Cristo acrescentada com o seu valor infinito, porque trazia de Deus a filiação e o poder de os perdoar, por forma a que a Luz da sua divindade desse a todos os homens o sentido cristão para onde deviam tender todos os passos e, desse modo, dando-lhes o espírito de sobriedade e sacrifício de que nos fala João XXIII.

Se atentarmos que a sobriedade é a temperança que tem de estar actuante nos modos e nas acções, isto torna o sacrifício como uma oferta feita a Deus, apresentando-o como algo de valor que lhe é entregue, dando-lhe o sentido da pobre viúva, que deitou na caixa do Templo os últimos ceitis que possuía (Mc 12, 43), fazendo no modo e na acção um sacrifício que ia inteiro, não só na dádiva, como na renúncia que ela implicava, o que nos conduz e bem perto de nós a Saint-Exupéry, que ao falar do sacrifício, afirma que (...) Ele é uma oferta de nós próprios ao Ser a que recorremos.

Infelizmente, diz o texto que nos serve de fonte, na sociedade frívola que faz do prazer um objecto de vida, este é reprovado por contrariar - impedindo, até - a assunção da atitude sábia que devia estar presente, e não estando, acarreta grave prejuízo para o espírito e até para o corpo, pela imoderação assumida de actos que não dignificam no homem a ambivalência que o torna, por vontade do Criador, não apenas matéria, mas também, espírito, sobre o qual Henry Miller (in "O Mundo do Sexo") nos diz: (…) aos olhos de Deus, tudo é divino. E quando digo tudo, é mesmo tudo o que quero dizer. Quando olhamos as coisas a tal luz, a palavra «transmutação» adquire um sentido ainda maior: pressupõe que o nosso bem-estar depende do nosso entendimento espiritual, do modo como nos servimos da visão divina que possuímos.

Eis, porque, tem de ser na troca do hedonismo em que o homem se vê a si mesmo enquanto matéria para se consumir na fornalha dos prazeres do mundo e, na aceitação da sua vida centrada no espírito das palavras “ Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil 4, 13), que tem de haver o encontro com a parte divina que lhe foi dada e com a qual é capaz de realizar todas as obras, ainda que estas exijam mortificação e penitência, por ser assim que vencemos o pecado de que apenas estão livres Jesus e a sua Mãe Imaculada.

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