Vamos falar de Laicismo
(…) Pois, em
virtude do próprio facto da criação, todas as coisas possuem consistência,
verdade, bondade e leis próprias, que o homem deve respeitar, reconhecendo os
métodos peculiares de cada ciência e arte. Por esta razão, a investigação
metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo
verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será realmente
oposta à fé, já que as realidades profanas e as da fé têm origem no mesmo Deus.
Antes, quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da
natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela
mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são. Seja permitido, por isso, deplorar certas atitudes
de espírito que não faltaram entre os mesmos cristãos, por não reconhecerem
suficientemente a legítima autonomia da ciência e que, pelas disputas e
controvérsias a que deram origem, levaram muitos espíritos a pensar que a fé e
a ciência eram incompatíveis. Se, porém, com as palavras «autonomia das
realidades temporais» se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o
homem pode usar delas sem as ordenar ao Criador, ninguém que acredite em Deus
deixa de ver a falsidade de tais assertos.
Pois, sem o Criador, a criatura não subsiste. De resto, todos os crentes,
de qualquer religião, sempre souberam ouvir a sua voz e manifestação na
linguagem das criaturas. Antes, se se
esquece Deus, a própria criatura se obscurece.
in, nº 36 da Constituição
Pastoral “Gaudium et Spes” - Nota: os
sublinhados são nossos.
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Só é entendível falar do
laicismo - e do seu sentido social - por
esta corrente do pensamento libertário respeitar à sociedade onde vivemos e que,
no seu todo, recolhe no seu seio, na pluralidade que a enforma, ideários como o
do laicismo que ao apresentarem-se contra os valores sobrenaturais tende a fractura espiritual da
sociedade respeitadora da transcendência natural da sua origem.
De uma forma pertinente,
desde o Renascimento o laicismo começou, paulatinamente, a assumir para si o
papel de uma revolta contra Deus, com clara evidência no tempo moderno, impondo
o homem ao mundo e vendendo-lhe a falsa ilusão deste se bastar a si mesmo, desembaraçando-o,
assim, de um multissecular empeço e de um irritante e prejudicial obstáculo,
como afirma Michele Federico Sciacca, no seu livro: “A Hora de Cristo”.
É contra isto,
que através da “Gaudium et Spes” a Igreja deplora certas atitudes do espírito,
que eivadas numa concepção da vida ao nível terreno aumentam a crise que está a
afectar a Europa contemporânea, mergulhando-a num abismo onde falta o
fundamento do absoluto da verdade e dos altos valores sobrenaturais e humanos
que brotam das duas primeiras Leis que abem o Decálogo, e ao invés, o que o
laicismo procura é a quebra deste compromisso histórico e amoroso entre Deus e
o homem.
O autor acima
citado e no mesmo livro, num dado ponto faz esta pergunta:: Esta é deveras a hora de
Cristo. Deixá-la-ão passar os católicos assumindo a responsabilidade do advento
da hora das trevas?
Há que
responder, convictos de que sem o Criador a criatura não subsiste,
porque se esta segue as peugadas do laicismo, a Verdade, enquanto a raiz mais
funda da criatura centrada no Ser Supremo de onde ela emerge, arrisca-se a
aceitar a razão como fundamento de si mesma e, como tal, a sua verdade é tida
como contendo em si toda a verdade, o que, convenhamos, é uma “rasteira” que
só, ilusoriamente, se passa a Deus que bem do Alto da sua magnanimidade, desculpa o jogo rasteiro de quem O esquece,
mas nos adverte para o perigo que corremos, porque se se esquece Deus, a própria
criatura se obscurece, algo que com todo o propósito nos diz a
Constituição Pastoral a que fazemos referência.
Eis, porque, a
hora que vivemos tem de ser a Hora de
Cristo porque Deus que O enviou jamais permitirá o triunfo das trevas.
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