Foi em cima deste pensamento de Gandhi, ao pensar na sua vida e no modo como ele lhe deu os atributos humanos que fez dele um santo contemporâneo, que num assomo de clareza espiritual comecei por dizer que o perdão é a esmola do esquecimento
quando pomos a render a virtude da caridade.
Assim, o perdão
que damos ganha aos olhos de Deus a dimensão divina de que ele quis que fosse
feito o barro que somos, o que nem sempre acontece porque ficamos muitas vezes
presos à matéria e nos esquecemos da vertente espiritual que nos eleva e nos
transporta acima das coisas banais da vida, que temos o dever de tornar
diferente e mais sublime em cada um dos momentos que somos chamados a viver.
Amanhã, querido
companheiro, que porventura estejas a ouvir esta reflexão e por ela te sintas
espicaçado, usa o teu perdão esquecendo as ofensas que te fizeram, mas usa-o
com o sentido da esmola da caridade que te é pedida.
Se o fizeres deste
modo e o teu esquecimento for um acto profundo da tua vontade, podes crer que
subiste um degrau para cima e passarás a ver os outros homens não com o olhar
sobranceiro daquele que vê de mais alto, mas antes, com o olhar daquele que vê
mais de cima - mais perto de Deus - mas estando no mundo à altura dos seus
iguais.
Que o Senhor,
que tem capacidades de nos fazer olhar assim, mais de cima com os olhos que nos
deu semelhantes aos seus, nos dê uma santa noite e nos dê, amanhã a capacidade
do perdão que hoje não tivemos.
E foi, por tudo isto que servindo-me da "Introdução à Sabedoria" de Juan Luis Vives, retirei do texto esta pequena migalha que completa sabiamente - a par das palavras de Gandhi - tudo quanto me sugeriu por em prática o acto de perdoar a quem nos ofendeu.
Sem comparação, é muito menor mal receber agravo que agravar
alguém; ser injuriado que injuriar; e é melhor que outros te enganem do que
enganes alguém, como, por sabedoria humana, chegaram a compreender gentios como
Sócrates, Platão e Séneca. Lembra-te que é coisa de homens e conforme à
fraqueza da nossa humana natureza sofrer engano ou errar. Por isso não leves
tão a mal os pecados cometidos pelos outros, nem te sintas tão agravado pelo
erro que cometeram contra ti.
Perdoar é próprio dos
ânimos generosos, mas guardar rancor é coisa de homens ásperos e cruéis, baixos
e de casta ruim; isto a mesma natureza o mostra nos animais mudos.
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