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segunda-feira, 26 de junho de 2017

A dignidade do trabalho humano




Da "Gaudium et Spes" - um documento fundamental do Concilio Vaticano II dedicado ao papel da Igreja no Mundo Actual, pela sua importância eclesial e com incidência secular, um facto marcante mesmo em círculos distantes - reproduz-se do Capítulo III - A VIDA ECONÓMICA E SOCIAL o nº 67 desta "CONSTITUIÇÃO PASTORAL" que o seu autor - O Papa Paulo VI - dedicou ao "TRABALHO"


O trabalho humano, que se exerce na produção e na troca dos bens económicos e na prestação de serviços, sobreleva aos demais factores da vida económica, que apenas têm valor de instrumentos.
Este trabalho, empreendido por conta própria ou ao serviço de outrem, procede imediatamente da pessoa, a qual como que marca com o seu zelo as coisas da natureza, e as sujeita ao seu domínio. 

É com o seu trabalho que o homem sustenta de ordinário a própria vida e a dos seus; por meio dele se une e serve aos seus irmãos, pode exercitar uma caridade autêntica e colaborar no acabamento da criação divina. Mais ainda: sabemos que, oferecendo a Deus o seu trabalho, o homem se associa à obra redentora de Cristo, o qual conferiu ao trabalho uma dignidade sublime, trabalhando com as suas próprias mãos em Nazaré. Daí nasce para cada um o dever de trabalhar fielmente, e também o direito ao trabalho; à sociedade cabe, por sua parte, ajudar em quanto possa, segundo as circunstâncias vigentes, os cidadãos para que possam encontrar oportunidade de trabalho suficiente. 

Finalmente, tendo em conta as funções e produtividade de cada um, bem como a situação da empresa e o bem comum, o trabalho deve ser remunerado de maneira a dar ao homem a possibilidade de cultivar dignamente a própria vida material, social, cultural e espiritual e a dos seus.
Dado que a actividade económica é, na maior parte dos casos, fruto do trabalho associado dos homens, é injusto e desumano organizá-la e dispô-la de tal modo que isso resulte em prejuízo para qualquer dos que trabalham.

Ora, é demasiado frequente, mesmo em nossos dias, que os trabalhadores estão de algum modo escravizados à própria actividade. Isto não encontra justificação alguma nas pretensas leis económicas. É preciso, portanto, adaptar todo o processo do trabalho produtivo às necessidades da pessoa e às formas de vida; primeiro que tudo da doméstica, especialmente no que se refere às mães, e tendo sempre em conta o sexo e a idade. Proporcione-se, além disso, aos trabalhadores a possibilidade de desenvolver, na execução do próprio trabalho, as suas qualidades e personalidade. Ao mesmo tempo que aplicam responsavelmente a esta execução o seu tempo e forças, gozem, porém, todos de suficiente descanso e tempo livre para atender à vida familiar, cultural, social e religiosa. Tenham mesmo oportunidade de desenvolver livremente as energias e capacidades que talvez pouco possam exercitar no seu trabalho profissional.


Uma pequena nota:

A abrir o "Livro do Génesis" (1, 26-28) Deus disse:«Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei, multiplicai--vos, enchei e submetei a terra. 

Eis, porque, Paulo VI num dado passo diz ao referir-se ao trabalho do homem que este marca com o seu zelo as coisas da natureza, e as sujeita ao seu domínio, cumprindo assim, uma determinação do Criador, associando-se a Ele que assim quis que acontecesse, mas que o zelo do homem devendo ser sempre um oferecimento do seu trabalho em ordem do progresso humano, este deva merecer o respeito das leis da economia, pelo que, há, no texto uma chamada de atenção, tendo-se em conta ser demasiado frequente, mesmo em nossos dias, que os trabalhadores estão de algum modo escravizados à própria actividade. Isto não encontra justificação alguma nas pretensas leis económicas. É preciso, portanto, adaptar todo o processo do trabalho produtivo às necessidades da pessoa e às formas de vida; primeiro que tudo da doméstica, especialmente no que se refere às mães, e tendo sempre em conta o sexo e a idade. 

Atenta, a Igreja dos Apóstolos, neste passo como em tantos mais que se encontram, amiúde, neste famoso texto do Concílio Vaticano II, é, com a autoridade que se lhe reconhece, um arauto que foi beber à Fonte para nos dizer - "sem papas na língua" - que não faltam situações em que aqui e ali os trabalhadores estão de algum modo escravizados ao poder da Economia sem rosto, condenável e "assassina" da dignidade do trabalho do homem, tal como preconiza o Livro do Génesis ao fazer de cada homem uma imagem de Deus, logo merecedora de todos os respeitos humanos, pelo que, escravizando-o com o trabalho, o sustento da sua vida é feito contra as Leis imperecíveis de Deus.

Nunca, por isso, será demais ler e meditar este famoso documento do Concílio Vaticano II.

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