Breve
biografia
O poeta Fausto
José dos Santos Júnior nasceu em 1903, em Aldeia de Cima do concelho de
Armamar, tendo feito a Escola Primária na sua aldeia natal, donde transitou
para o Liceu Nacional de Lamego até 1917, transitando depois para o Liceu
Rodrigues de Freitas, no Porto que frequentou até 1920, ano que foi admitido na
Universidade de Coimbra onde se licenciou em Direito em 1929.
É em Armamar que
dá início à advocacia, vindo a abraçar, nesse concelho o cargo de Conservador
do Registo Civil, funções idênticas que viria a ocupar na ilha do Porto Santo
(1938-39), vindo a ser no ano seguinte até 1951, Presidente da Câmara Municipal
de Armamar, cargo que abandonou para se dedicar às funções do Conservador em
Tarouca (1951-64) e Peso da Régua até ao ano de 1971.
Ainda, estudante,
em Coimbra fez parte de um pequeno círculo de jovens que se dedicavam às
Letras, onde se incluíam nomes, como José Régio, Miguel Torga, Alberto de Serpa
e outros, que por fim, acabaram por fundar a revista "Presença" que
apareceu ao público como a paladina de uma nova geração modernista, onde a
poesia de Fausto José não se integrava de todo, mais virada para acontecimentos
circunstanciais ou de história, onde o seu estro poético mais se enquadrava, o
que o levou a colaborar com a revista "Byzâncio" (1923.24) e
"Tríptico" (1924), sem contudo, abandonar a "Presença" que
amparava financeiramente.
Manteve aturada
correspondência, para além de José Régio, com Alberto de Serpa, Adolfo Casais
Monteiro, Tomás de Figueiredo e Vitorino Nemésio, tendo mantido palestra sobre
temas de Literatura a partir de 1954 na Rádio Alto Douro.
Para comemorar o
centenário do seu nascimento, em 2003, a Câmara Municipal de Armamar, tendo-lhe
erigido um memorial em Aldeia de Cima, donde ressalta o busto do poeta encimando
uma pilha dos seus livros, e dado o seu nome à praça central da povoação.
Publicou:
- Fonte Branca (1928
- Planalto (1930)
- Remoinho (1933)
- Síntese (1934)
- Solstício (1940)
- Embalo (1942
O POETA
VISÃO
Desconheço a matéria de que és feita,
Que mão febril teus corpo
modelou;
Minha alma, ao pressentir-te,
insatisfeita,
Como as ondas do mar se
alevantou!
Oh! feminil visão clara e
perfeita
Que o meu olhar profano
dissipou,
Névoa que a luz do alvorecer
enfeita
E o hálito da aragem dispersou!...
Na terra, em sonhos ando a
procurar-te,
Na terra, pelo céu, e em toda a
parte
Para beijar os rastos dos teu
pés...
Mas quanto mais minha alma te
procura,
Mais teu vulto se perde na
fundura...
E por ti morro sem saber quem
és!
(Fonte Branca)
PROFECIA
Se evoco a tua história,
Auguro a tua signa:
Terás aquela glória,
Ó alma, de quem és digna...
E embora eu não te veja
Irei sempre contigo...
Bem que, por vezes, seja
O teu pior amigo!...
(Solstício)
POEMA V DE INQUIETAÇÃO
Ah! vida, vida!
Vida preciosa
Que não tem preço!...
Formosa vida
Que eu não mereço...
Fundura de água cristalina,
Onde a luz vibra, se persigna,
Com os meus olhos debruçados
Do verde seio namorados!...
Vida a que tanto me apego...
Ah! vida, meu desassossego:
Exposta a todos os perigos,
Aos golpes de amoráveis
inimigos!...
Vida infinita como um céu
profundo,
Que tal frágil raiz deita ao
mundo!...
Um frémito fugaz, um sopro, um
nada
E pronto: a luz foi apagada!...
(Embalo)
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