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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Fausto José (1903-1975)




Breve biografia

O poeta Fausto José dos Santos Júnior nasceu em 1903, em Aldeia de Cima do concelho de Armamar, tendo feito a Escola Primária na sua aldeia natal, donde transitou para o Liceu Nacional de Lamego até 1917, transitando depois para o Liceu Rodrigues de Freitas, no Porto que frequentou até 1920, ano que foi admitido na Universidade de Coimbra onde se licenciou em Direito em 1929.

É em Armamar que dá início à advocacia, vindo a abraçar, nesse concelho o cargo de Conservador do Registo Civil, funções idênticas que viria a ocupar na ilha do Porto Santo (1938-39), vindo a ser no ano seguinte até 1951, Presidente da Câmara Municipal de Armamar, cargo que abandonou para se dedicar às funções do Conservador em Tarouca (1951-64) e Peso da Régua até ao ano de 1971.

Ainda, estudante, em Coimbra fez parte de um pequeno círculo de jovens que se dedicavam às Letras, onde se incluíam nomes, como José Régio, Miguel Torga, Alberto de Serpa e outros, que por fim, acabaram por fundar a revista "Presença" que apareceu ao público como a paladina de uma nova geração modernista, onde a poesia de Fausto José não se integrava de todo, mais virada para acontecimentos circunstanciais ou de história, onde o seu estro poético mais se enquadrava, o que o levou a colaborar com a revista "Byzâncio" (1923.24) e "Tríptico" (1924), sem contudo, abandonar a "Presença" que amparava financeiramente.

Manteve aturada correspondência, para além de José Régio, com Alberto de Serpa, Adolfo Casais Monteiro, Tomás de Figueiredo e Vitorino Nemésio, tendo mantido palestra sobre temas de Literatura a partir de 1954 na Rádio Alto Douro.

Para comemorar o centenário do seu nascimento, em 2003, a Câmara Municipal de Armamar, tendo-lhe erigido um memorial em Aldeia de Cima, donde ressalta o busto do poeta encimando uma pilha dos seus livros, e dado o seu nome à praça central da povoação.

Publicou:

  • Fonte Branca (1928
  • Planalto (1930)
  • Remoinho (1933)
  • Síntese (1934)
  • Solstício (1940)
  • Embalo (1942
O POETA


VISÃO

Desconheço a matéria  de que és feita,
Que mão febril teus corpo modelou;
Minha alma, ao pressentir-te, insatisfeita,
Como as ondas do mar se alevantou!

Oh! feminil visão clara e perfeita
Que o meu olhar profano dissipou,
Névoa que a luz do alvorecer enfeita
E o hálito da aragem dispersou!...

Na terra, em sonhos ando a procurar-te,
Na terra, pelo céu, e em toda a parte
Para beijar os rastos dos teu pés...

Mas quanto mais minha alma te procura,
Mais teu vulto se perde na fundura...
E por ti morro sem saber quem és!

(Fonte Branca)


PROFECIA

Se evoco a tua história,
Auguro a tua signa:
Terás aquela glória,
Ó alma, de quem és digna...

E embora eu não te veja
Irei sempre contigo...
Bem que, por vezes, seja
O teu pior amigo!...

(Solstício)


POEMA V DE INQUIETAÇÃO

Ah! vida, vida!
Vida preciosa
Que não tem preço!...
Formosa vida
Que eu não mereço...

Fundura de água cristalina,
Onde a luz vibra, se persigna,
Com os meus olhos debruçados
Do verde seio namorados!...

Vida a que tanto me apego...
Ah! vida, meu desassossego:
Exposta a todos os perigos,
Aos golpes de amoráveis inimigos!...

Vida infinita como um céu profundo,
Que tal frágil raiz deita ao mundo!...
Um frémito fugaz, um sopro, um nada
E pronto: a luz foi apagada!...

(Embalo)


E pronto
A luz do Poeta apagou-se em 1975, mas pela vida e obra que deixou teve a arte - o que não acontece a todos os homens - de receber todos os dias e em cheio, na praça que tem o seu nome na terra onde nasceu, a luz do sol a iluminar-lhe o rosto e uma montanha de livros onde apoia a sua mão direita, como se, naquela posição de escrita, continuasse ali, especado, naquela imagem pétrea a escrever o poema dos que, pela vida que levaram se vão da lei da morte libertando.



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