Pesquisar neste blogue

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dar.




"Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos"
  Winston Churchill 



Na bela gravura que a mão de um grande Amigo que eu tive burilou para me ofertar num dos muitos gestos com os quais me distinguiu - e nunca esquecerei - a bandeja está pronta para receber a dádiva do pão que as mãos fenderam para a repartição dos quinhões que todas as criaturas merecem e, porque se trata de um gesto de paz, ficou a atestá-la o sentido apostólico da frase de S. Mateus: Bem aventurados os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus.

Neste tempo de Natal - tempo de paz - o verbo "dar", seja o pão ou, simplesmente, a troca de mensagens de amizade que se dão, ganha uma conjugação mais perfeita em qualquer dos tempos em que o declamemos, o que, "de per si" enobrece, sobremaneira, a acção de "dar" por constituir um influxo espiritual que nos conduz até às Fontes Sagradas que desde os primeiros tempos - proféticos e apostólicos -  inspiraram os autores bíblicos, para que, entre todos os filhos espirituais do Deus Eterno reinasse esta acção meritória como um dos muitos "dons" com que foram presenteados.

O acto de "dar" que tão exemplarmente, Winston Churchill, resumiu no axioma acima reproduzido perfeitamente entrosado com alguns pensamentos doutrinais que fomos buscar à Fonte de Jacob, onde Jesus deu a beber àquela mulher de Samaria a "água-viva" de que ela se saciou, recebendo-a como a dádiva maior que algum dia alguém lhe havia dado.

Dar.

Eis, pois, a acção que devemos ter presente neste Natal e em todos os dias do ano, que se quisermos, todos devem ser "Dias de Natal" atendendo a que Jesus está disposto a nascer todos os dias nos corações dos seus irmãos mais novos.

Vejamos como o verbo "dar" se nos apresenta em alguns exemplos recolhidos na Bíblia, o Livro da Eterna Palavra de Deus.


Em "Esdras" 2, 68-69 (dar conforme as posses de cada um):

Alguns dos chefes das casas paternas, vindo à casa do Senhor em Jerusalém, deram ofertas voluntárias para a casa de Deus, para a edificarem no seu lugar; conforme as suas posses, deram para a tesouraria da obra, em ouro sessenta e um mil dáricos, e em prata cinco mil minas, e cem vestes sacerdotais.

No Levítico 19, 9-10 (a acção de dar exige preparação e, até, fazer planos): 

Quando fizeres a colheita da tua terra, não segarás totalmente os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega. Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou o senhor vosso Deus.

Em 2 Coríntios 8,2 (quando damos com algum sacrifício): 

Como, em muita prova de tribulação, a abundância do seu gozo e sua profunda pobreza abundaram em riquezas da sua generosidade.

Em Mateus 2, 11 (quando a dádiva constitui um acto de adoração): 

E entrando na casa, viram o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra.

Em 2 Coríntios 9, 7 (a acção de dar tem de ser feita de boa vontade): 

Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria.

Em 2 Coríntios 8, 12 (dar o que se pode dar): 

Porque, se há prontidão de vontade, é aceitável segundo o que alguém tem, e não segundo o que não tem.

Em Lucas 12, 48 (Deus pede muito a quem muito recebe): 

Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.

Em Lucas 6, 38 (A acção de dar regressa com benefício ao doador): 

Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no regaço; porque com a mesma medida com que medis, vos medirão a vós.


E, por fim, percorrido que está um pequeno caminho pelo ensinamento revelado, vem à colação o poeta Khalil Gibran que nos deixou esta máxima de um profundo sentido social, dando-nos a entender que ele mesmo se havia desedentado na Fonte Sagrada, onde ia beber o credo marotina, em cujo seio nasceu.

Dizeis: darei só aos que precisam. Mas os vossos pomares não dizem assim; dão para continuar a viver, pois reter é perecer.

Esta imagem é preciosíssima, porque o poeta vai ao cerne do problema, como acontece em tempo de Natal, como este que vivemos, quando - e, ainda bem que tal acontece - nos lembramos dos mais pobres e, quer, individual ou colectivamente, por este tempo actuamos de uma forma mais viva - mas, o pensamento e a acção benemérita de "dar" tem, como exemplo, no celebrado místico oriental um fundo mais vasto ao chamar a nossa atenção para as árvores dos nossos pomares - que não agem por impulso num certo dia especial - estando, pelo contrário sempre dispostas a dar para viver, pois reter é perecer, pelo que, quando egoísticamente retemos o que devíamos dar, morremos espiritualmente, embora continuemos vivos para o mundo.


Sem comentários:

Enviar um comentário