Quando estavas na Igreja
Quando estavas na Igreja
A teus pés ajoelhei.
À Virgem por mim rezavas,
À Virgem por ti rezei.
E na crença e na vertigem
Foi então que eu me perdi.
Em vez de rezar à Virgem
Rezava mas era a ti.
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Mais uma vez a corda da minha saudade tangeu forte e sonora dentro das minhas antigas lembranças fonográficas e dei comigo a lembrar-me de António Menano e desse famoso fado de Coimbra - QUANDO ESTAVAS NA IGREJA - que é, nas duas quadras maravilhosamente esculpidas uma balada de amor onde a mística religiosa se mistura admiravelmente com a humanidade das personagens.
O quadro que a arte do Poeta nos apresenta numa paleta de cores a que a voz melodiosa de António Menano empresta toda a graça, é na sua compostura dividido em duas partes.
A primeira a quadra expressa um acto puramente religioso, À Virgem por mim rezavas, a que corresponde a troca dentro do mesmo sentido místico, À Virgem por ti rezei, para na segunda parte o quadro se nos apresentar expresso numa quadra perpassada de um amor humano cândido e puro, em que o cortejador diz que se "perdeu", sem contudo deixar de assinalar que o fez na crença que ele vivia de joelhos junto da sua amada, pois, Em vez de rezar à Virgem - na vertigem do momento confessa o seu "pecado" - Rezava mas era a ti, o que prova que quando o amor é puro a Virgem que vive no Altar e a quem rezamos costuma receber no seu Amor infinito, o amor finito das criaturas.
Eis, porque, fica aqui como preito da minha saudade à voz de António Menano que tanto me encantou, a minha homenagem, pela arte e pelo seu amor à Virgem do Céu e àquela - possivelmente imaginada, mas lhe preenchia a juventude - e que a seu lado erguia uma oração para o Altar da Virgem, sem suspeitar, que recebia do amado a mesma oração erguida para a mesma Virgem, mas, também, para a mulher amada que a seu lado estava de joelhos numa mesma união de sentimentos.
O quadro é encantador e, porque o é, exprime-se jubilosamente na voz do cantor de Coimbra que jamais esquecerei enquanto Deus me der vida e saúde para o fazer presente no baú das minhas recordações.
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