Conta a História de Portugal que o Rei D Pedro V exerceu o seu curto reinado entre os anos de 1855 a 1861, pela demonstração do seu amor humano pelos pobres e doentes vítimas da cólera amarela que então se fez sentir e cujas pacientes visitava assiduamente nos hospitais e cuja doença contraiu.
Mereceu o cognome de "O Esperançoso" porque foi no seu reinado que tomou forma a Regeneração de Portugal com a entrada na modernidade de que são exemplos a inauguração do telégrafo e do caminho de ferro.
No Cap. XVI do livro "Rei Santo (D. Pedro V" que o autor Rocha Martins intitulou "O Ofício do Rei", num dado passo o monarca tecendo um diálogo com o general D. Carlos de Mascarenhas, ao focar o assunto que lhe merecia a sorte dos desvalidos e da qual era seu desejo sentir o peso dos martírios que sofriam, no livro citado, Rocha Martins estabelece este diálogo:
- Foi por isso que mandei colocar além no portão (do Palácio das Necessidades) as duas caixas...
- Que caixas, meu senhor?
- Aquelas onde o povo deve lançar as suas petições.
- Vossa Majestade fez isso?
- Sim!
- Mas...
- O quê?!
Segue a descrição e diz o autor que o pobre general quase sufocado, passando a mão trémula pelo bigode murmurava;
- Mas... mas... o que vai suceder... que de cosas... meu senhor...
- Já sei (responde o rei) ... vão admirar-se... A corte!
- Meu senhor, sois o rei!...
- E então?
Quase desesperadamente o velho bradou:
- Sois o rei e eu um súbdito leal, um antigo soldado, um fiel servidor...
- Eu o rei!...
- Vossa Majestade já pensou em que toda essa gente se lhe vai queixar?!
- General!...
A sua voz torno-se áspera e o seu olhar mais duro:
- General, ninguém se queixa sem razão! Ninguém esmola só por esmolar!...
- Vossa Majestade não conhece ainda os homens, perdõe vossa majestade, mas...
Com um gesto o rei atalhou:
- Conhecer os homens!... Queres dizer que no fundo da alma humana vive o mal!
-O embuste...
- Oh!... Não sei então como os homens são formados! Não si também que muitas injustiças se praticam!"
Gravura inserta no Livro de Rocha Martins (1º volume)
onde são visíveis as duas caixas de pedidos ou reclamações do povo.
onde são visíveis as duas caixas de pedidos ou reclamações do povo.
Diz-lhe, ainda, o general:
- Vossa Majestade quer então atender as desgraças!
- Quero fazer justiça.
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- A justiça é o único prazer dos reis!...
- E mesmos dos súbditos, real senhor, volveu o general com lágrimas na voz. Vossa Majestade deu-me agora a maior lição que é possível dar-se a um velho (...)
E Rocha Martins na continuação do livro até ao ponto em que ante o olhar estufefacto do velho general, o rei D. Pedro V, exibiu as duas caixas de reclamações e pedidos, abrindo-as com chaves que retirou e uma corrente de que só ele dispunha para ter a certeza do que o povo lhe fazia chegar.
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Modernamente, os Chefes de Estado da República Portuguesa - ao disponibilizarem por via electrónica um meio de poderem ser contactados - mais não fazem que seguir o exemplo das duas caixas de reclamações que o Rei D. Pedro V inaugurou - com a diferença substancial de não serem eles que em primeira mão abrem o correio.
Prova isto que a figura do Rei na pessoa de D. Pedro V deu uma lição à República do nosso tempo, que a aprendeu... e fez muito bem.
Prova isto que a figura do Rei na pessoa de D. Pedro V deu uma lição à República do nosso tempo, que a aprendeu... e fez muito bem.
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