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Puxando os cordéis da geringonça!
Geringonças sempre houve e por ser assim, quando corria o ano de 1879, precisamente no dia 12 de Junho em que se começou a publicar o periódico "O António Maria" de Rafael Bordalo Bordalo Pinheiro, com a colaboração de Ramalho Ortigão e Guilherme de Azevedo, no tempo em que, mercê de um escândalo financeiro do Ministro da Fazenda António de Serpa Pimentel envolvendo o Banco Nacional Ultramarino que levou à queda do segundo governo de Fontes Pereira de Melo, o rei D. Luís designou Anselmo José Braamcamp para Presidente do Conselho.
Conta a história que foi - como era costume - um governo de efémera duração a que não faltou a tenaz que na sombra Fontes Pereira de Melo, dorido de ter perdido o poder ia apertando ao ponto duma moção de desconfiança no Parlamento ter feito cair o governo progressista de Braamcamp.
Rafael Bordalo Pinheiro e seus colaboradores do que então se passou na vida política nacional parodiaram, para além da caricatura famosa que se reproduz, com as quatro quadras alusivas ao "teatro" que se viveu, também reproduzidas para facilitar a leitura.
Entra povo, corre ufano
Ao "teatro" a que dá culto.
Levantou a gora o pano
O grande poder oculto.
Por três vinténs (isto à parte)
Contempla, sem que lhe toques
Com isto se faz, por arte
De "beliques" e "berloques".
Ele, por trás da cortina,
Olhando assim, pela sonsa,
Cuidadosos se reclina
Em cima da geringonça.
E depois, devagarinho
Pedindo que te aquietes,
A puxar os cordelinhos
Faz dançar os "marionttes".
Se quisermos interpretar a gravura, concluímos que Anselmo José Braamcamp, que era maçon, é o "artista" cuidadosamente reclinado em cima da geringonça, puxando os tais cordelinhos que faziam dançar os "marionettes", enquanto Fontes Pereira de Melo e o povo -os assistentes daquele teatro espreitam a"arte" sonsa de quem se aprestou para subir a escada do poder, como aconteceu a 1 de Junho de 1879.
Na época, a sátira fez o seu caminho...
Hoje - e porque assistimos ao poder conquistado por uma nova geringonça que na sombra construiu o teatro que veio a resultar e a ter assistentes, pouco depois de 4 de Outubro de 2015 - faltou a pena sagaz de um caricaturista da fama de de Rafael Bordalo Pinheiro e a arte poética que com quadras parecidas ás que se reproduzem, exaltassem o momento.
Mas uma coisa temos por certa: António Costa e os seus pares não são os inventores da geringonça.
Mas uma coisa temos por certa: António Costa e os seus pares não são os inventores da geringonça.
Antes deles, outros houve, provando assim que elas funcionam, apenas sendo preciso saber puxar os cordelinhos... arte a que eu me não rendo por me parecer que se devia jogar sempre às claras... mesmo na vida política.
Mas que havemos de fazer... se geringonças sempre houve na vida política nacional que eu pensei - erradamente - que só haviam existido nos tempos da Monarquia Constitucional em que, na sombra, era hábito a construção destes "teatros".
Creiam, contudo, que eu não estou contra as geringoças - enquanto necessidades de associações de partidos políticos que tenham de se unir para governo de Portugal - mas não posso entender que elas sejam urdidas na sombra e o povo saiba no dia das eleições onde - e para que fim - deposita o seu voto.
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