in, Revista "Branco & Negro" de 3 de Maio de 1869
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Minha mãe, minha mãe! ai que
saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de
ti.
Caia mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das
ceifeiras,
E a Lua branca, além, por entre as oliveira,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!..
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo a Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos eu pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas..
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como ainda vai,
Para toda a nudez um pano de seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!..
A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas a sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira,
Como junto de um leão um sorriso divino,
Como sobre uma forca um ramo de oliveira!
Guerra Junqueiro
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