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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Em tua lembrança, Pai


MEMÓRIA PATERNA

Pai:
Caíste de pé, como querias!

Tal como o carvalho cansado
Das invernias
Se despediu da floresta,
Também tu caíste
E acabaste os dias!

Só que,
O carvalho caiu cansado
Farto de se reverdecer.
E tu, Pai,
Caído em plena rua fulminado
Tinhas, ainda, vidas por fazer!
Vidas de que eras arquitecto.
E sonhos que só tu sonhavas
Debaixo do humilde tecto
Da casa da aldeia, que tanto amavas!

Pai: Conta comigo.

Hei-de realizar aquilo
Que deixaste inacabado
Ou por fazer!
Dorme no seio de Deus
E sê tranquilo...
Eu sei dos sonhos
Que tinha p’ra viver!

Pai:

Peço-te, estando agora reunido
Ao Deus da minha crença sem enganos,
Que Ele me dê o teu poder caído,
E sejas tu, ainda, o leme  e o sentido
Da vida que me deste há tantos anos!

E como tu,
Um dia, findos os que o Céu me destinar
Eu caia sobre as pedras da calçada...
E que cerre docemente o meu olhar
Sob a luz silente e branca do luar
E tenha um lírio roxo de almofada!

E fique, como tu, com um sorriso
A abençoar o mundo inteiro.
Para que o dia do fim, sendo de Juízo
Me encontre redimido e verdadeiro!

E como a tua, serena,
Na glória celeste
Cumpra a minha última novena
E ser feliz... não tendo pena
Da vida que me deste!

4 de Fevereiro de 1977


Hoje, pai - que farias 107 anos se ainda vivesses - nesta comunhão dos santos em que eu acredito como uma união espiritual antropocêntrica entre vivos e mortos, e cujo conjunto abarca o Corpo Místico da Igreja que me tem ajudado a erguer a vida tendo por cabeça Jesus Cristo - cujo nascimento nos aprestamos para celebrar - lembrei-me da tua memória inefável e associei-te ao que é dito na Primeira Carta aos Efésios (2,19-20) por S. Paulo, um convertido, ao lembrar a união que existe entre os que viveram mais perto ou mais longe da Casa de Deus:  Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus.

E é por eu saber que para além de teres sido meu pai terreno - pela graça de Deus -  hoje, és, também, meu irmão na casa de Deus nesta comunhão de almas de concidadãos, neste dia, uma vez mais, lembro a tua memória imorredoira.

No tempo devido e movido pela dor da tua perda e da lembrança da nossa ida - a teu pedido - num certo dia já longe, ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, escrevi com a saudade que continua viva este poema de Amor paternal que faz parte do meu acervo de intimidades, mas hoje torno público, não tendo pena da vida que me deste -  porque tem valido a pena  - e muito agradecido a Deus de me ter ajudado a concluir coisas que deixaste por fazer, por ter vindo muito cedo para ti na seara da vida a ceifa do trigo que tu foste.

Pai: é de um trigo de natureza diferente, mas tornado - Pão de Deus - que vou alimentando a vida que me deste.

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