in, Revista "Branco e Negro" de 9 de Janeiro de 1898
Nunca é demais lembrar para as gerações futuras os grandes homens que honraram com o seu nome e a sua obra, a terra portuguesa em que nasceram e o País que se honra de os ter por vultos maiores e exemplos de cidadania e portugalidade.
A Revista "Branco e Negro" dois anos após a sua morte fez publicar o texto acima reproduzido, o que fazemos com todo o carinho pelo Poeta de que ninguém em vida jamais lhe conspurcara o carácter, acrescentando: Simples, de uma alma lisa como o aço em que ase espelhavam todas as virtudes, ele atravessou a vida como um cenobita fugindo do ruído, da ostentação. do falso oiro das gloriolas retumbantes.
Ilustrando a velha notícia de 9 de Janeiro de 1898, deixo aqui, o Poema CANTIGAS retirado do seu livro "Campo de Flores", como expressão da sua poesia simples, em grandes rendilhados, mas bela na singeleza das palavras e do seu sentido coimbrão por onde andou anos a fio até se formar.
 Cantigas
 Quando vejo a minha amada 
 Parece que o Sol nasceu; 
 Cantai, cantai alvorada 
 Ó avezinhas do céu. 
 Nessas águas do Mondego 
 Se pode a gente mirar, 
 Elas procuram sossego... 
 E vão caminho do mar. 
 A rosa que tu me deste 
 Peguei-lhe, mudou de cor; 
 Tornou-se de azul-celeste 
 Como o céu do nosso amor. 
 Não me fales da janela, 
 Que te não ouço da rua; 
 Fala-me de alguma estrela, 
 Que te vou ouvir da Lua. 
 Dizes que a letra não deve 
 Ser nunca miudinha; 
 Mas grada ou miúda escreve, 
 Que o coração adivinha. 
 Não digas que me não amas 
 A ver se tenho ciúme; 
 Os laços do amor são chamas, 
 E não se brinca com lume. 
 A virgem dos meus amores 
 Sobressai entre as mais belas: 
 É como a rosa entre flores, 
 É como o Sol entre estrelas. 
 Eu zombo de sol e chuva, 
 Noite e dia, terra e mar; 
 Ais de uma pobre viúva, 
 Se os ouço, dá-me em chorar. 
 A sombra da nuvem passa 
 depressa pela seara; 
 Mas a nuvem da desgraça 
 Já de mim se não separa. 
 Eu bem sei qual é a tinta 
 Que dás às faces mimosas; 
 E o carmim com que pinta 
 Deus nosso Senhor as rosas. 
 Quando eu era pequenino 
 Que chorava a bom chorar 
 A mãe beijava o menino, 
 No beijo se ia o pesar. 
 Nunca os beijos que te dei 
 Me venham ao pensamento... 
 Correi lágrimas, correi 
 Para o mar do sofrimento. 
 Faça Deus maior o mundo, 
 Terra, mar e céu maior, 
 Não faz nada tão profundo, 
 Tão vasto como este amor. 
 Se tua mãe te vigia, 
 Faz tua mãe muito bem; 
 Com jóias de tal valia 
 Não há fiar em ninguém. 
 Na alma já não me assoma 
 Aquela antiga visão; 
 A rosa perdeu o aroma 
 A luz perdeu o clarão. 


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