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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

"A vendedeira de laranjas"

A VENDEDEIRA DE LARANJAS
Aguarela de Roque Gameiro
in, Revista "Branco e Negro" de 3 de Outubro de 1897
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Não raro, ainda hoje, no bairro onde habito, em locais bem marcados e, sobretudo, onde é costume passa gente, existem os vendedores ambulantes que oferecem as suas mercadorias hortícolas, denunciando que elas são frutos recentes das suas pequenas explorações agrícolas, muitas vezes, existentes nos próprios quintais das casas onde habitam.

Sentam-se - quando podem - e exibem ramos de salsa, coentros, cabeças de nabos, rabanetes, morangos, framboezas, couves, fruta de várias espécies, onde não faltam as laranjas que inspirou a aguarela de Roque Gameiro (Alfredo).

Este pequeno comércio - ilegal perante o Fisco - e, portanto, ambulante, quando passo por ele deixa-me sempre a pensar na pobreza daquela gente que vende produtos tão ricos, quantas vezes retirando-os da mesa onde comem os seus filhos, apenas para poderem angariar algum dinheiro para suprir as necessidades diárias de casas pobres, de que parece um exemplo A VENDEDEIRA DE LARANJAS de Roque Gameiro, em cujo rosto e na mão que ostenta uma laranja se lê o desejo de chamar a atenção de quem passa.

É isto que eu mesmo sinto quando passo pelas vendedeiras ambulantes do meu bairro ao ver o seu ar simples, e o olhar empobrecido de quem sem roubar o alheio, faz pela vida, com a honestidade dos que vendem - parecendo agradecer àqueles que lhe compram o que apregoam - sem, como eu tenho visto, não regatear o preço que é sempre pequeno para poder ser vendido.

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