Sempre que leio Augusto Gil, é nele que encontro como em nenhum outro Poeta português a arte buriladora do verso, tratado como se fosse o resultado final de uma obra de arte que o cinzel mais hábil do escultor houvesse trabalhado.
Neste GRÃO DE INCENSO acontece isso precisamente esculpido nas duas figuras ajoelhadas em que, se sente vibrar em silêncio - a Igreja é um lugar de silêncio - o ar piedoso das duas personagens em que, uma delas, apaixonadamente, dirige calado mas a falar bem alto dentro de si, uma oração sentida - que aos anjos também se reza... - para no fim, num desabafo de alma - compreensível - ao ver na mulher requestada tanta reza, que foi até - manhã dentro, manhã alta - naturalmente, desiludido, faz a si mesmo a pergunta - também compreensível - se tendo sentido nela tanta fé, apesar disso, lhe faltou a caridade de sentir que ao lado, ajoelhado como ela, estava uma alma que pedia o amor daquele "anjo"?
Poesia de um lirismo simples, lúdico e profundamente bela é este GRÃO DE INCENSO, denunciador da alma - também simples - de um grande Poeta português que bem merece não ser esquecido.
Augusto Gil - um poeta português, cuja poesia tem tanto de simples como de sublime! Lamentavelmente ignorado pelas "mentes pensantes", que aí deveriam beber mais sabedoria e menos arrogância intelectual.
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