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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

NATAL - Um poema de Augusto Casimiro


NATAL

1
A voz clamava no Deserto.

E outra voz mais suave,
lírio a abrir, esvoaçava incerto,
tímido e alvente, de ave
que larga o ninho, melodia
nascente, docemente,
uma outra voz se erguia…

A voz clamava no Deserto.

Anunciando
a outra Voz que vinha:
balbuciar de fonte pequenina,
dando
à luz da Terra o seu primeiro beijo…
Inefável anúncio, dealbando
entre as estrelas moribundas.

2
Das entranhas profundas
do Mundo, eco do Verbo, a profecia
- à distância dos séculos – dizia,
pressentia,
fragor de sinos, o dum mundo ruindo,
redimindo
os cárceres do mundo…

A voz dura e ardente
clamava no Deserto…

Natal de Primavera,
a nova Luz nascera.
Voz do Céu, Luz radiante,
mais humana e mais doce
e irmã dos Poetas
que a voz trovejante
dos profetas
solitários.

3
A divina alvorada
trazia
lírios no regaço
e rosas.
Natal. Primeiro passo
da secular jornada,
era um canto de amor
a anunciar Calvários,
a impor a Esperança
à Terra amargurada,
às horas dolorosas,
aos Gólgotas de dor
da longa travessia.

- Seriam sangue
redentor
as rosas.
Os lírios
aleluia.

Augusto Casimiro
in, “Momentos na Eternidade”
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A voz clamava no Deserto.


Coube a S. João Baptista ser essa voz e se ela cumpriu o papel que lhe estava destinado de apontar o Filho de Deus que vamos lembrar em mais um Dia de Natal, neste tempo de lembranças de velhos acontecimentos bíblicos, esta voz de modo algum pode passar sem uma lembrança, por lhe ter cabido uma parte fundamental no anúncio do que estava para acontecer.

O Poeta Augusto Casimiro não fugiu ao fascínio de nos falar dessa voz que clamava no deserto, porque ela foi o arauto de um Tempo Novo e por falar dele com tanta autoridade levou a que muitos dos seus ouvintes - que já estavam prevenidos que o nascimento do Messias estaria eminente - tivessem julgado ser ele o Messias esperado - e lhe tivessem feito directamente a pergunta:

- Serás tu Aquele que nós e os nossos antepassados esperamos?
- Não. Não sou eu.

E a sua voz continuou a clamar no deserto, 

Anunciando
a outra Voz que vinha:
balbuciar de fonte pequenina,
dando
à luz da Terra o seu primeiro beijo…
Inefável anúncio, dealbando
entre as estrelas moribundas.

Salve, S. João Baptista porque não permitistes - se te tivesses calado - te tivessem aclamado, tomando na tua pessoa o Messias que tinhas o dever de apontar aos homens, não deixando que te confundissem com Ele - fazendo que passasses por aquilo que não eras - uma lição imensa da tua palavra certa e que devia continuar a ser uma directriz para os que neste Mundo, sem o ser, gostam de ser julgado como sendo o que não são.

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