in, Revista "Branco & Negro" de 17 de Mao de 1896
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Há, no silêncio da água que corre escondida nos canos das fontes que serviam antigamente as aldeias, um mistério da Natureza, porque não nasceram ali pela acção humana, mas brotaram em locais - muitas vezes paradisíacos - como par emoldurar o ambiente campestre, ouvindo-se, apenas, quando ao encher dos cântaros e à medida que a água subia, subia igualmente a sua canção de amor nas notas que se faziam ouvir até estes transbordarem.
Tudo isto é quase um passado sem retorno e as poucas fontes que existem, ainda, perderam muito da sua antiga poesia - como atesta a velha gravura que se reproduz - estando muito delas ao abandono, sem contudo, a maravilha da nascente continuar a sua presença nas bicas de onde a água sai, serena e pura, continuando a sua canção, agora sem ter ouvintes.
Um dia, já longe - como eu me recordo! - quando me dei conta pelas visitas que fazia à aldeia onde nasci, que fica num fundo de um vale entre montes, que a velha fonte que desedentou a casa dos meus avós, ia morrendo no esquecimento, escrevi com alguma ternura e em seu louvor a quadra simples que deixo aqui.
Ó velha fonte cantante
Se te matarem, um dia,
A alma da própria aldeia
Há-de morrer nesse instante.
A velha fonte ainda não morreu e de todas as vezes que vou à minha aldeia vou visitá-la e numa saudade vibrante lembro a minha santa avó, que um dia, era eu criança, junto à fonte me deu o lanche da tarde que ainda hoje me sabe - e muito bem - acompanhado por um púcaro de água... das mesma água que hoje, desaproveitada continua a correr num caudal diminuído, como se a velha fonte "soubesse" que não fazendo agora tanta falta, faz correr, apenas a água necessária para manter viva a lembrança antiga de todo o bem que fez!
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