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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

"O anjo tutelar"

O PRIMEIRO PASSO
Quadro de Kaulbach
in, Revista "Branco e Negro" de 2 de Junho de 1879
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Desde o primeiro momento que os meus olhos tiveram a ventura de olhar para ela famosa tela  do pintor alemão Wilhelm von Kaulbach, que ele intitulou - O PRIMEIRO PASSO - apeteceu-me colocar-lhe como sub-título - o "Anjo Tutelar" - porque se na tela o que o pintor quis simbolizar é que nos primeiros passos de cada criança existe, etéreo e sideral um anjo que a protege e a ajuda a dar o primeiro passo, há quem sustente que esse anjo é o da própria mãe de cada um de nós.

Eu sou dos que pensam assim, porquanto, as nossas mães são Anjos Tutelares que Deus se encarrega de colocar na vida de cada criatura, que elas, pelas dores do parto e das que lhe causamos depois de adultos - e até de velhos(as) - nos cobrem com as suas "asas" de anjos puros nos nossos passos mal dados - quando foram elas que nos ajudaram a dar o primeiro passo, tendo em mente que ele seria o primeiro de muitos milhares e, sempre, dado em frente e de rosto aberto para a vida.

A Mãe, é, efectivamente o nosso "ANJO TUTELAR".

Neste fim de ano em que é necessário fazer o balanço do que foi feito em cada um dos passos que demos - e, talvez, porque sinta que os meus passos estão cada dia a ficar mais duros, como se as pedras da calçada tivessem cola - embora, sem ter consciência do meu primeiro passo, mas porque sei que ele foi dado pelo anjo que tive - e me serviu de Mãe - fui ao baú das minhas lembranças e em sua santa memória fica aqui o Poema que ela me ditou no seu leito de morte, num tempo em que no LIVRO DA VIDA, ela desejava que eu escrevesse todas as folhas que ainda estavam em branco:


EM TUA MEMÓRIA, MÃE

Como se fosse uma finíssima escultura
de um qualquer afamado artista de Atenas
era uma estátua grega o teu rosto mortuário.
Era de tal modo a talha e a linha pura
que o teu rosto escondia as suas penas
e tinha o ar de quem rezava o seu Rosário.

Apesar disso, Mãe,
apesar da tua serenidade amortalhada
e do ar que tinhas... como se dormisses
por teres chegado ao fim da estrada
nunca supus que após o fim da tua vida
deixasses tanto vazio e tanto escuro!

É que tudo é mais longe e é mais além...
e é por me faltar a tua guarida
que em cada passo encontro um muro.

Ensina-me, Mãe, o modo de o vencer.

Que há vidas que tenho de cumprir
e sortes onde não posso perder.
Conto contigo, minha Mãe,
embora nunca mais me digas adeus
quando saía comovido do teu ninho
- que era a nossa casa da aldeia -
e me perdia na curva do caminho.

Sabes, Mãe, dou graças ao destino
por ter sido eu quem te havia de cerrar os olhos.
- Os teus olhos quase cegos - mas que se abriam
 para me ver, como se não houvesse crescido
e fosse sempre ao teu olhar o teu menino!

Graças, Mãe, pela tua força e pelo teu querer
Graças, Mãe, por tudo o que me ensinaste,
Graças, Mãe, pela tua alegria de viver
Graças, Mãe, por tudo quanto amaste
Graças, Mãe, por tudo quanto me deste:
- os teus inolvidáveis presentes.

Graças, Mãe, pelo teu amor à terra
e às suas gentes.

E agora, Mãe, embala-me docemente,
como se eu fosse - e era para ti -
o teu menino... sempre em teus braços.
E reza por mim no alvor celeste
para que eu vença todos os cansaços
e me erga sempre em cada um dos passos
que tenha de cumprir na vida que me deste!


Continuo - apesar do peso dos anos - a pedir o mesmo à memória de minha Mãe: que me erga sempre em cada um dos passos, na certeza que tenho que ela continua a ser O ANJO TUTELAR que agora, no Céu, continua a amparar com o mesmo jeito como amparou o meu primeiro passo.

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