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quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Em tua memória, Mãe!



    EM TUA MEMÓRIA, MÃE


Como se fosse uma finíssima escultura
de um qualquer afamado artista de Atenas
era uma estátua grega o teu rosto mortuário.
Era de tal modo a talha e a linha pura
que o teu rosto escondia as suas penas
e tinha o ar de quem rezava o seu Rosário.

Apesar disso, Mãe,
apesar da tua serenidade amortalhada
e do ar que tinhas... como se dormisses
por teres chegado ao fim da estrada
nunca supus que após o fim da tua vida
deixasses tanto vazio e tanto escuro!
É que tudo é mais longe e é mais além...
e é por me faltar a tua guarida
que em cada passo encontro um muro.

Ensina-me, Mãe, o modo de o vencer.
Que há vidas que tenho de cumprir
e sortes onde não posso perder.
Conto contigo, minha Mãe,
embora nunca mais me digas adeus
quando saía comovido do teu ninho
- que era a nossa casa da aldeia -
e me perdia na curva do caminho.

Sabes, Mãe, dou graças ao destino
por ter sido eu quem te havia de cerrar os olhos.
- Os teus olhos quase cegos - mas que se abriam
 para me ver, como se não houvesse crescido
e fosse sempre ao teu olhar o teu menino!
Graças, Mãe, pela tua força e pelo teu querer
Graças, Mãe, por tudo o que me ensinaste,
Graças, Mãe, pela tua alegria de viver
Graças, Mãe, por tudo quanto amaste
Graças, Mãe, por tudo quanto me deste:
- os teus inolvidáveis presentes.

Graças, Mãe, pelo teu amor à terra
e às suas gentes.
E agora, Mãe, embala-me docemente,
como se eu fosse - e era para ti -
o teu menino... sempre em teus braços.
E reza por mim no alvor celeste
para que eu vença todos os cansaços
e me erga sempre em cada um dos passos
que tenha de cumprir na vida que me deste!

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