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quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Até um dia destes, minha Mãe!


CARTA PARA A MINHA MÃE

15 de Setembro de 2010


Mãe, eu sei que vives longe e sei que não há correio, daqueles fardados que tu sabes, para te levarem esta carta às lonjuras da Casa onde vives.
Eu sei de tudo isso, Mãe, mas sei, porque tu me ensinaste que eu tenho um Anjo da Guarda para fazer o serviço do meu correio pessoal e é com ele que estou contando para te levar direitinha esta carta onde vai, também direitinha e inabalável a minha ternura de amor filial.

Este dia 15 de Setembro era o dia dos teus anos.

Era hábito meu, nesse dia, dar-te um beijo especial, ainda que a prenda material nem sempre acompanhasse o sentido imaterial do beijo que te dava.
Mas tu compreendias.
O beijo era especial, porque um dia, magnanimamente abriste o teu corpo cheio de dores,  deste-me ao mundo e agradeceste a Deus as dores que te causei e, depois, sorriste cheia de alegria ao olhar o corpito frágil, sadio e perfeito, que viria a ser forte, mas que a vida foi tornando menos sadio.

É assim, que hoje, o corpo forte que me deste está a voltar ao princípio: à fragilidade do meu nascimento, porque o corpo sadio se vai perdendo no desgaste próprio da natureza humana e a perfeição que era um encanto teu no corpo que me deste, essa minha mãe, está alquebrada pela ferrugem dos anos e deu lugar àquela outra perfeição que nunca esquecias de me pedir que a alcançasse  - e que luto, ainda, para a  conseguir  na minha moldura mental - no intuito de a guardar incólume como a coisa mais preciosa da vida na esperança de o Deus que nós partilhámos enquanto viveste, me chamar pelo meu nome.

Escrevo-te esta carta no dia em que fazias anos para te dizer o seguinte:

Hoje, quis o destino, que pela primeira vez tenha ido fazer no Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa, um tratamento ao líquido vital que faz bater o meu coração, porque, como acima te disse o aspecto sadio que me deste por vontade de Deus, também pela Sua vontade se está a perder, necessitando que a ciência dos homens que o mesmo Deus comanda vá arranjando maneira de me dar mais algum tempo para ver se eu consigo atingir a perfeição humana que sempre me pediste.

Na cadeira do Hospital, nas duas horas em que o pessoal de enfermagem, eficientemente, ia mudando os apetrechos médicos, pensei que era o dia dos teus anos -  15 de Setembro -  um dia em que corria para os teus braços, sempre que pude ou de te mandava beijos, na certeza que em troca tinha o teu mavioso “bem hajas, meu filho” a que não falava o teu desejo profundo:

Que Deus te abençoes, e te dê saúde e paz”.

Mãe, peço-te que me mandes pelo meu Anjo da Guarda estas mesmas palavras, porque preciso de mais um pouco de saúde e, também, de mais um pouco de paz.
Tu sabes porquê.
Não preciso de mais nada.
Tenho riqueza que basta, porque me basta saber que tenho uma companheira excelente e dos filhos maravilhosos, para os quais te peço a bênção do nosso Deus.

   Até um dias destes, minha Mãe!

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