CARTA PARA A MINHA MÃE
15 de Setembro de 2010
Mãe, eu sei que vives longe e sei que não há correio, daqueles fardados que tu sabes, para te levarem esta carta às lonjuras da Casa onde vives.
Eu sei de tudo
isso, Mãe, mas sei, porque tu me ensinaste que eu tenho um Anjo da Guarda para
fazer o serviço do meu correio pessoal e é com ele que estou contando para te
levar direitinha esta carta onde vai, também direitinha e inabalável a minha
ternura de amor filial.
Este dia 15 de Setembro era o dia dos teus
anos.
Era hábito meu, nesse dia, dar-te um beijo especial, ainda que a prenda material nem sempre acompanhasse o sentido imaterial do beijo que te dava.
Mas tu
compreendias.
O beijo era
especial, porque um dia, magnanimamente abriste o teu corpo cheio de dores, deste-me ao mundo e agradeceste a Deus as
dores que te causei e, depois, sorriste cheia de alegria ao olhar o corpito
frágil, sadio e perfeito, que viria a ser forte, mas que a vida foi tornando
menos sadio.
É assim, que hoje, o corpo forte que me deste está a voltar ao princípio: à fragilidade do meu nascimento, porque o corpo sadio se vai perdendo no desgaste próprio da natureza humana e a perfeição que era um encanto teu no corpo que me deste, essa minha mãe, está alquebrada pela ferrugem dos anos e deu lugar àquela outra perfeição que nunca esquecias de me pedir que a alcançasse - e que luto, ainda, para a conseguir na minha moldura mental - no intuito de a guardar incólume como a coisa mais preciosa da vida na esperança de o Deus que nós partilhámos enquanto viveste, me chamar pelo meu nome.
É assim, que hoje, o corpo forte que me deste está a voltar ao princípio: à fragilidade do meu nascimento, porque o corpo sadio se vai perdendo no desgaste próprio da natureza humana e a perfeição que era um encanto teu no corpo que me deste, essa minha mãe, está alquebrada pela ferrugem dos anos e deu lugar àquela outra perfeição que nunca esquecias de me pedir que a alcançasse - e que luto, ainda, para a conseguir na minha moldura mental - no intuito de a guardar incólume como a coisa mais preciosa da vida na esperança de o Deus que nós partilhámos enquanto viveste, me chamar pelo meu nome.
Escrevo-te
esta carta no dia em que fazias anos para te dizer o seguinte:
Hoje, quis o
destino, que pela primeira vez tenha ido fazer no Hospital de Santo António dos Capuchos,
em Lisboa, um tratamento ao líquido vital que faz bater o meu coração, porque, como acima te disse o aspecto sadio que me deste por vontade
de Deus, também pela Sua vontade se está a perder, necessitando que a ciência
dos homens que o mesmo Deus comanda vá arranjando maneira de me dar mais algum
tempo para ver se eu consigo atingir a perfeição
humana que sempre me pediste.
Na cadeira do
Hospital, nas duas horas em que o pessoal de enfermagem, eficientemente, ia mudando
os apetrechos médicos, pensei que era o dia dos teus anos - 15 de Setembro - um dia em que
corria para os teus braços, sempre que pude ou de te mandava beijos, na
certeza que em troca tinha o teu mavioso “bem
hajas, meu filho” a que não falava o teu desejo profundo:
“Que Deus te abençoes, e te dê saúde e paz”.
“Que Deus te abençoes, e te dê saúde e paz”.
Mãe, peço-te
que me mandes pelo meu Anjo da Guarda estas
mesmas palavras, porque preciso de
mais um pouco de saúde e, também, de mais um pouco de paz.
Tu sabes
porquê.
Não preciso de
mais nada.
Tenho riqueza
que basta, porque me basta saber que tenho uma companheira excelente e dos
filhos maravilhosos, para os quais te peço a bênção do nosso Deus.
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