Cónego Rui Osório
A oração é uma lenta e serena aprendizagem do silêncio, na
aproximação possível do profundo e insondável mistério de Deus, em comunhão
fraterna com todas as suas criaturas. Nunca rezei tanto como em graves momentos
de sofrimento com um único objetivo: estar na intimidade de Deus na vida
presente como na futura, no tempo como na eternidade, e ter a alegria da
companhia de todos os eleitos, os santos, meus irmãos, para interpretarmos em
coro a celestial a sinfonia divina. Contemplativo na ação e ativo na contemplação,
sei distinguir no possível a súplica da ação de graças e o louvor da adoração.
Limito-me a balbuciar palavras doces de amor até à
eloquência do silêncio. Calado, o mais calado possível, sei que Deus me conhece
até ao íntimo e abandono-me ao seu carinho de Pai, com a ajuda possível da Mãe
do seu Filho e nossa Mãe que me recebe no seu colo maternal e me aquieta o
coração. Desculpem-me, estou em silêncio e nunca tão ouvinte do que me dizem os
meus interlocutores como de quem me quiser ouvir o que melhor tenho para lhes
dizer, saudáveis ou doentes. Apenas e só uma coisa muito simples e muito
verdadeira: sejam felizes e semeiem felicidade a rodos. Rezar é também estar na
companhia fraterna e amiga com todos os homens e mulheres, e com a opção
preferencial pelos mais frágeis e mais padecentes.
Não há desculpa possível para ser egoísta na dor. A dor é
para pôr em comum com quem sofre no corpo ou no espírito. Quem não sabe
partilhar com sabedoria e delicadeza a dor perde uma boa ocasião para ajudar os
outros a serem mais felizes. Detesto a patologia obsessiva da dor, o dolorismo,
e a resignação de quem, vencido ou derrotado, já desistiu de combater até à
exaustão os males dolorosos quaisquer que sejam, reversíveis ou irreversíveis.
Meia cura ou mais está em quem sofre e tudo espera para se libertar da
ignomínia do sofrimento, que, mesmo assim, se for real, é para combater e
jamais para ser perdido como prova de vida que germina na semente da terra
húmida e cálida com a esperança de vida nova à luz do Sol ou como a criança que
sonha no seio materno com a beleza do que será a sua vida à luz do dia e para
longo futuro. Outos agentes, absolutamente obrigatórios, são o pessoal de saúde
e a sua suposta e desejada competência
No resto e é tudo, seja a vontade de Deus, o único que nos
leva a cantar o hino da vida para além das agruras da morte. Sou homem de
palavra, oral ou escrita. Pouco mais sei do que comunicar e ouvir as respostas
possíveis às mensagens. Quem me dera voltar ao normal, Mas ainda não me é
possível, nem sei quando. Até lá, garanto-vos, estou na eloquência do silêncio,
aprendendo o essencial para mim, para vós, queridos leitores, e, como só
desejo, para Deus, até que Ele seja tudo em todos.
Até breve!
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Porto, 31 mai 2018 (Ecclesia) – O cónego Rui Osório, da
Diocese do Porto, faleceu hoje aos 77 anos de idade, na cidade nortenha.
O corpo sacerdote e jornalista vai ser trasladado para a Sé
do Porto, esta sexta-feira; a Missa exequial tem início marcado para as 15h00,
sob presidência do bispo diocesano, D. Manuel Linda, seguindo o funeral para a
freguesia do Olival.
“Foi Diretor Espiritual da Legião de Maria, Director do
Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais até 2003 e Pároco de São João
da Foz. Dedicou grande parte da sua vida ao jornalismo, sendo fundador do
Jornal Voz Portucalense, colaborador do Jornal de Notícias e da Rádio
Renascença”, refere a Diocese do Porto, em comunicado.
O presidente da República Portuguesa publicou uma mensagem
de condolências, lamentando a morte de um “amigo”.
“Homem da Igreja e do Jornalismo, com uma carreira de
décadas no Jornal de Notícias e na Rádio Renascença, fundador da Voz
Portucalense, o padre Rui Osório, desde há muito um amigo pessoal, foi também
um combatente pela Liberdade, discípulo de D. António Ferreira Gomes,
perseguido pela Polícia Política antes do 25 de Abril”, refere o texto
divulgado pela Presidência da República.
“No livro ‘O Senhor escreva connosco’, por ocasião do 50.º
aniversário da sua ordenação, agradeceu ao Espírito Santo o dom da Comunicação;
um dom que pôs ao serviço do bem comum e que fica na memória dos seus leitores
e ouvintes, dos paroquianos da Foz Velha, dos amigos”, acrescenta Marcelo
Rebelo de Sousa.
Ordenado sacerdote em 1964, Rui Osório de Castro Alves
desempenhou várias funções no ‘Jornal de Notícias’, tendo recusado os convites
para ser diretor de vários jornais por solicitação de D. António Ferreira
Gomes.
Natural de Vila Nova de Gaia (Diocese do Porto), onde nasceu
a 27 de outubro de 1940, o cónego Rui Osório deixou a sua marca na área da
comunicação social; era ainda pároco da Foz do Douro, assistente Diocesano da
Ação Católica Rural (ACR) e membro do Cabido da Catedral do Porto.
O diretor da Agência ECCLESIA, Paulo Rocha, evoca Rui Osório
como “um defensor da verdade”, enquanto padre e jornalista”, que “deu ao
jornalismo o sentido da missão e à Igreja Católica o rigor e seriedade na
abordagem das várias problemáticas”.
“Homem do Norte, sempre defendeu as suas gentes e as causas
da região. Voz na Renascença e palavra
no jornal Voz Portucalense e no Jornal de Notícias até há poucas
semanas, o padre Rui Osório foi um mestre no jornalismo e na promoção dos
jornalistas, referência no jornalismo de temática religiosa e amigo dos que
partilham projetos de comunicação. O seu
modo de fazer, de estar e ser permanecem como referência nos ambientes
informativos e crentes”, conclui.
OC
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