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domingo, 6 de janeiro de 2019

"As Coisas Transitórias" - Um poema de Tagore




As Coisas Transitórias

Irmão, 
nada é eterno, nada sobrevive. 
Recorda isto, e alegra-te. 

A nossa vida 
não é só a carga dos anos. 
A nossa vereda 
não é só o caminho interminável. 
Nenhum poeta tem o dever 
de cantar a antiga canção. 
A flor murcha e morre; 
mas aquele que a leva 
não deve chorá-la sempre... 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Chegará um silêncio absoluto, 
e, então, a música será perfeita. 
A vida inclinar-se-á ao poente 
para afogar-se em sombras doiradas. 
O amor há-de ser chamado do seu jogo 
para beber o sofrimento 
e subir ao céu das lágrimas ... 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Apanhemos, no ar, as nossas flores, 
não no-las arrebate o vento que passa. 
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos 
roubando beijos que murchariam 
se os esquecêssemos. 

É ânsia a nossa vida 
e força o nosso desejo, 
porque o tempo toca a finados. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Não podemos, num momento, abraçar as coisas, 
parti-las e atirá-las ao chão. 
Passam rápidas as horas, 
com os sonhos debaixo do manto. 
A vida, infindável para o trabalho 
e para o fastio, 
dá-nos apenas um dia para o amor. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Sabe-nos bem a beleza 
porque a sua dança volúvel 
é o ritmo das nossas vidas. 
Gostamos da sabedoria 
porque não temos sempre de a acabar. 
No eterno tudo está feito e concluído, 
mas as flores da ilusão terrena 
são eternamente frescas, 
por causa da morte. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões
in "Citador" 
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Ler e meditar Tagore, este exímio representante da cultura hindu que pelo seu poder místico se fez uma figura internacional como poeta, romancista, músico e dramaturgo, é ir ao mais fundo da alma humana e trazer de lá a beleza que ele deixou às mãos cheias no seu famosos livro Gitânjali - Oferenda Lírica - onde cada um dos   seus versos de uma sensibilidade extrema não nos deixam indiferentes, neste pequeno excerto de "O Coração da Primavera", o poeta não é menos expressivo, porque continua a dar-nos o sentido da nossa existência  - a flor murcha - que morre e quando chegar - um silêncio absoluto - e a vida se inclinar - ao poente - é, como ele diz que - no eterno tudo está feito e concluído -  mas as fores - da ilusão terrena -  que deixarmos em nossa lembrança - são eternamente frescas - sendo todas as outras, as que murcham e morrem AS COISAS TRANSITÓRIAS que têm o nome que Tagore dá a este poema de análise existencial, onde a verdade é o seu  expoente mias profundo.                                

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