Pesquisar neste blogue

domingo, 27 de janeiro de 2019

"O bom samaritano


 Parábola do Bom Samaritano
Sobre o messianismo de Jesus
  
Texto do Evangelho de S. Lucas 10, 30-37

Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, os quais o despojaram e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo. De igual modo também um levita chegou àquele lugar, viu-o, e passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão;  e aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar.
 Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?  Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe, pois, Jesus: Vai, e faz tu o mesmo.


É uma das parábolas mais conhecidas.
Encerra, para além da atitude de ordem sobrenatural, uma lindíssima e comovente história de solidariedade humana.
Geograficamente existe um acentuado desnível entre Jerusalém (750 m. acima do nível do mar) e Jericó (390m. abaixo). A localização desta cidade herodiana desde sempre permitiu que fosse conhecida pela sua vegetação luxuriante e afamada como a cidade das palmeiras. Nela morreu Herodes, o Grande, que a visitava amiudadas vezes.
A ligar as duas cidades existia uma estrada com cerca de 25 km  comprimento, onde era hábito acoitarem-se salteadores, na procura de interceptar os caminhantes na mira de os espoliar de bens. Jesus sabia desta realidade maléfica que punha bem longe dos corações criminosos o amor ao próximo, que deixava de ter direitos de cidadania naquela estrada.

Na sequência do que havia sido profetizado, Jesus anunciou, definitivamente, o Juízo Final, onde a culpa do homem esquecido das graças oferecidas seria castigada, donde toda a atitude havida em relação ao próximo haveria de por a descoberto a aceitação ou a recusa de Deus.
Aquele doutor da Lei que S. Lucas refere, ao perguntar-lhe: Mestre que hei-de fazer para possuir a vida eterna?(1), sendo como é crível da escola de Gamaliel (2) sabia que os sete últimos Mandamentos da Lei de Deus se referiam no amor que era devido ao próximo e desse modo respondeu acertadamente à pergunta de Jesus sobre o que estava escrito na Lei.

É então que Jesus conta a história em forma de parábola de um homem que descia de Jerusalém a Jericó, tendo sido vítima de um assalto, a ponto dos malfeitores o terem deixado meio morto.
Um sacerdote que vinha pelo mesmo caminho, olhou a cena e o estado em que ficara o infeliz caminhante e fez vistas largas, possivelmente transido de medo não fosse, também ser assaltado e espancado.
O levita (3) que casualmente passou a seguir teve o mesmo procedimento de abandono, sem ter parado um momento que fosse.Viu-o, e passou de largo, não fossem pensar os outros meliantes que se dispunha a ajudá-lo, por isso fez vista grossa.

Mas um homem de Samaria que passou depois de tudo isto, ao ver o estado em que se encontrava o agredido, encheu-se de compaixão;  e aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
E fez mais.
Teve o cuidado de pagar a hospedagem e dizer cheio de amor ao hospedeiro: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar. Aquele bom samaritano ia de viagem e, porque, certamente, teria algum assunto que não podia ser retardado teve a precaução de pagar a quem tratasse o ferido e ajuntar a seguinte recomendação: e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar.
Quando terminou o ocorrido na estrada que levava de Jerusalém a Jericó, Jesus num ímpeto de argúcia fez ao doutor da Lei a pergunta fundamental:
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores? ao que o interrogado respondeu, dizendo: o que usou de misericórdia para com ele.

E respondeu bem.
Vai e faz tu, também, do mesmo modo – despediu-o, Jesus.
Sobre o tema do próximo o Concílio Vaticano II teceu a seguinte consideração, que é um alerta para os homens de hoje, cujos afãs quotidianos nem sempre deixam margem para pensar no amor que nos deve merecer o outro: o Concilio recomenda a reverência para com o homem, de maneira que cada um deve considerar o próximo, sem excepção, como um “outro eu”(...)(4)
É esse “outro eu ”a que Jesus se referiu ao responder a um dos fariseus, após lhes ter constado que Ele tinha calado os saduceus, pensando que O embaraçavam sobre qual era o maior dos mandamentos: Mestre, qual é o grande mandamento na lei?  Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.  Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.(5)

Esta parábola do amor que é devido ao outro, resume-se, finalmente no grande ensinamento do Mestre: Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós também.(6)
O encontro com o próximo é um dos que maiores consequências produz e, ao mesmo tempo, um dos mais inevitáveis. O “eu” está ordenado para o “tu” da comunidade. (7)
O eu e o tu tendem, deste modo, a ser o “outro eu” vendo-se o próximo com o amor como nos vemos a nós mesmos.
O samaritano da parábola foi um fiel intérprete deste sentimento.



(1) - Lc 10, 25
[(2)- Gamaliel é conhecido na história como um dos melhores professores da Lei que orientava o povo de Israel. Era um homem temente a Deus. Foi professor de Paulo. Ele não era fechado nos seus conceitos como muitos outros "doutores da lei", mas sempre se mostrou aberto ao diálogo e tinha capacidade de perceber a verdade que está nas pessoas com pensamentos e tradições diferentes
(3)- O levita era um membro da tribo de Levi, entre os hebreus. Levi foi o terceiro filho de Jacob e de Lia. Nos seus descendentes foi perpetuado o sacerdócio de Israel.
(4) - GS, nº 27- 
(5) - Mt 22, 36-40
(6)- Mt 7,12
(7) - in, A Essência do Cristianismo, de Michael Schmaus

Sem comentários:

Enviar um comentário