Parábola do Bom Samaritano
Sobre o messianismo de
Jesus
Texto do Evangelho de S. Lucas 10, 30-37
Um homem
descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, os quais o despojaram
e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente, descia pelo
mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo. De igual modo também
um levita chegou àquele lugar, viu-o, e passou de largo. Mas um samaritano, que
ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão; e aproximando-se, atou-lhe as feridas,
deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para
uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro
e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando
voltar.
Qual, pois, destes três te parece ter sido o
próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de
misericórdia para com ele. Disse-lhe, pois, Jesus: Vai, e faz tu o mesmo.
É uma das parábolas mais conhecidas.
Encerra,
para além da atitude de ordem sobrenatural, uma lindíssima e comovente história
de solidariedade humana.
Geograficamente
existe um acentuado desnível entre Jerusalém (750 m . acima do nível do mar)
e Jericó (390m. abaixo). A localização desta cidade herodiana desde sempre
permitiu que fosse conhecida pela sua vegetação luxuriante e afamada como a cidade das palmeiras. Nela
morreu Herodes, o Grande, que a visitava amiudadas vezes.
A ligar
as duas cidades existia uma estrada com cerca de 25 km comprimento, onde era hábito acoitarem-se salteadores,
na procura de interceptar os caminhantes na mira de os espoliar de bens. Jesus
sabia desta realidade maléfica que punha bem longe dos corações criminosos o
amor ao próximo, que deixava de ter direitos de cidadania naquela estrada.
Na
sequência do que havia sido profetizado, Jesus anunciou, definitivamente, o
Juízo Final, onde a culpa do homem esquecido das graças oferecidas seria
castigada, donde toda a atitude havida em relação ao próximo haveria de por a
descoberto a aceitação ou a recusa de Deus.
Aquele
doutor da Lei que S. Lucas refere, ao perguntar-lhe: Mestre que hei-de fazer para possuir a vida eterna?(1),
sendo como é crível da escola de Gamaliel (2) sabia
que os sete últimos Mandamentos da Lei de Deus se referiam no amor que era devido
ao próximo e desse modo respondeu acertadamente à pergunta de Jesus sobre o que
estava escrito na Lei.
É então
que Jesus conta a história em forma de parábola de um homem que descia de Jerusalém a Jericó, tendo sido vítima de um assalto, a ponto dos malfeitores o terem
deixado meio morto.
Um
sacerdote que vinha pelo mesmo
caminho, olhou a cena e o estado
em que ficara o infeliz caminhante e fez vistas largas, possivelmente transido
de medo não fosse, também ser assaltado e espancado.
O levita (3) que casualmente passou a seguir teve o mesmo procedimento de abandono, sem ter
parado um momento que fosse.Viu-o, e
passou de largo, não fossem pensar os outros
meliantes que se dispunha a ajudá-lo, por isso fez vista grossa.
Mas um
homem de Samaria que passou depois de tudo isto, ao ver o estado em que se
encontrava o agredido, encheu-se de
compaixão; e aproximando-se, atou-lhe as
feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura,
levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
E fez
mais.
Teve o cuidado
de pagar a hospedagem e dizer cheio de amor ao hospedeiro: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to
pagarei quando voltar. Aquele bom samaritano ia de
viagem e, porque, certamente, teria algum assunto que não podia ser retardado
teve a precaução de pagar a quem tratasse o ferido e ajuntar a seguinte
recomendação: e tudo o que
gastares a mais, eu to pagarei quando voltar.
Quando
terminou o ocorrido na estrada que levava de Jerusalém a Jericó, Jesus num
ímpeto de argúcia fez ao doutor da Lei a pergunta fundamental:
Qual destes
três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos
salteadores? ao que o interrogado
respondeu, dizendo: o que usou
de misericórdia para com ele.
E
respondeu bem.
Vai e faz
tu, também, do mesmo modo – despediu-o, Jesus.
Sobre o
tema do próximo o Concílio Vaticano II teceu a seguinte consideração, que é um alerta
para os homens de hoje, cujos afãs quotidianos nem sempre deixam margem para
pensar no amor que nos deve merecer o outro: o Concilio recomenda a reverência para com o homem, de maneira que cada um
deve considerar o próximo, sem excepção, como um “outro eu”(...)(4)
É esse “outro eu ”a que
Jesus se referiu ao responder a um dos fariseus, após lhes ter constado que Ele
tinha calado os saduceus, pensando que O embaraçavam sobre qual era o maior dos
mandamentos: Mestre, qual
é o grande mandamento na lei?
Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este,
é: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda
a lei e os profetas.(5)
Esta
parábola do amor que é devido ao outro, resume-se, finalmente no grande
ensinamento do Mestre: Tudo quanto
quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho, de igual modo, vós também.(6)
O encontro
com o próximo é um dos que maiores consequências produz e, ao mesmo tempo, um
dos mais inevitáveis. O “eu” está ordenado para o “tu” da comunidade. (7)
O eu e o tu tendem, deste modo, a ser
o “outro eu” vendo-se o próximo com o amor como nos vemos a nós mesmos.
O
samaritano da parábola foi um fiel intérprete deste sentimento.
(1) - Lc
10, 25
[(2)- Gamaliel é conhecido na história como um dos melhores professores da Lei que orientava
o povo de Israel. Era um homem temente a Deus. Foi professor de Paulo. Ele não
era fechado nos seus conceitos como muitos outros "doutores da lei",
mas sempre se mostrou aberto ao diálogo e tinha capacidade de perceber a
verdade que está nas pessoas com pensamentos e tradições diferentes
(3)- O
levita era um membro da tribo de Levi, entre os hebreus. Levi foi o terceiro
filho de Jacob e de Lia. Nos seus descendentes foi perpetuado o sacerdócio de
Israel.
(4) -
GS, nº 27-
(5) - Mt
22, 36-40
(6)- Mt
7,12
(7) -
in, A Essência do Cristianismo, de Michael Schmaus
Sem comentários:
Enviar um comentário