Conhecimento de Deus
Ora, por meio da Revelação, o homem alcança a plenitude do
ser e dos valores, da verdade e santidade divinas. As suas próprias forças
nunca lhe permitiriam alcançar essa plenitude, mas a Revelação dá-lha como
conteúdo da vida. Essa verdade e santidade são acolhidas pelo homem através dos
actos primordiais do cristão que Paulo consigna no capítulo 13 da 1ª Epístola
aos Coríntios “ a fé, a esperança e a caridade”. Delas falam todos os textos
que se referem à participação na vida divina: a mensagem do reino de Deus, do
homem novo e do mundo novo, da vida eterna, do banquete celestial e do hino
eterno, do amor que não acaba, etc….
Romano Guardini (1)
in, Liberdade, Graça, Destino.
Deus ao chamar os
homens à existência passou a olhar benevolentemente para eles, como testemunha
a revelação que fez de Si mesmo através de Abraão, dos Patriarcas, de Moisés e
dos profetas do Antigo Testamento, até ao tempo em que falou pelo Filho, Jesus,
segundo as Palavras que O revelaram quanto aos seus desígnios e vontades, tendo
confiado, depois, a continuação da Revelação aos apóstolos e à Igreja, onde
passou a brilhar a Luz perene do Espírito Santo.
A Revelação é, pois, um
conhecimento actuante de Deus que deu ao homem com o advento da Boa Nova a
graça de ultrapassar o que estava “velho”, dando-lhe a novidade de um tempo
mais propício ao entendimento de se poder alcançar a plenitude do ser e dos
valores, em ordem a ser atingida a verdade e santidade divinas.
A Revelação divina quer
dizer, que ao vir dos céus, tem como particularidade peculiar o facto de ser
perpétua e imutável, o que lhe confere o direito de jamais ficar ultrapassada e
de nunca poder vir a ser alterada pelo homem, donde se infere que toda a
transmissão de Deus que se encontra na Bíblia Sagrada, é a sua Palavra fiel,
tal como foi revelada desde o princípio até à plenitude dos tempos, segundo os
seus altos desígnios.
Temos assim, que a
Revelação ao apontar para o tripé fundamental da acção do homem centrada com a
vontade de Deus, através da fé, esperança e caridade, sendo um plano de vida
terrena mas imbricado no poder da graça que a torna existente para além da sua
finitude temporal, leva-nos a concluir que o “homem velho” ao ceder ao
chamamento de um mundo novo, deixa que se renove em si toda a concepção de
novos ideais que o lançam definitivamente na aventura de viver com uma nova
liberdade à conquista do banquete celestial e do hino eterno, onde os acordes
da divindade passaram a ganhar melodias com sentido.
Tudo assim está
plasmado no Novo Testamento, onde o chamamento ao homem renovado pelo poder da
Graça é a grande atitude de Deus imbricada na Mensagem de Jesus, que não veio
abrogar a Palavra inicial do Pai, mas completá-la através da Revelação completa
e final da sua vontade para todos os homens, pelo testemunho dos Apóstolos
guiados pelo Espírito Santo para lhes transmitir toda a verdade e, assim,
transparecesse, claramente, como eles confiadamente disseram, que aquele poder
extraordinário provinha de Deus e não de
nós. (2Cor 4,7), deixando, bem claro, que a Mensagem tinha como
destinatário, a procura do homem novo.
Eis, porque o teólogo,
não deixa, a propósito de citar a velha frase de Santo Agostinho: Fizeste-nos pata ti, ó Deus, e o nosso
coração está inquieto enquanto em ti não descansar.
É o “homem novo” que
enfim, despertou, um dia, naquele homem singular que viria a ser um Santo e
Doutor da Igreja, deixando-nos a extraordinária certeza que pela Graça da
Revelação o conhecimento de Deus torna-se possível ao ser humano.
A divindade, com
efeito, desde sempre procurou acercar-se do homem.
E assim, mais perto,
Deus quer ser um companheiro do caminho.
Um confidente a quem se
passou a dizer as alegrias, as angústias e as interrogações, pelo simples
motivo do homem ter conquistado uma maior amplidão angular, entendendo-se isto
numa conduta espiritual, que o leva a ter uma mais nítida percepção das coisas,
pelo facto de ter passado a haver, por vontade divina uma transcendência até então desconhecida e onde
Deus e a criatura passaram a formar um conjunto que é desde sempre e assim será
eternamente, o objectivo da divindade para o bem da Humanidade.
(1) - Romano Guardini (Verona, 17 de
fevereiro de 1885 – Munique, 1 de outubro de 1968) foi um sacerdote, escritor e
teólogo católico-romano. Guardini iniciou sua docência, em 1923, na
Universidade de Berlim, permanecendo lá até o ano de 1939 (quando teve seu
curso suprimido por autoridades nazistas1 ). Foi professor, mais tarde, em
Tübingen (1945-1948) e em Munique (1948-1962). Sua influência na teologia
católico-romana do século XX foi grande. (in, Wikipédia)
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