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domingo, 16 de junho de 2013

A Religião e o Humanismo

 

No Livro, “Deus, o Homem e o Universo” Henri du Passage, um dos dezoito cientistas-escritores que formam o conjunto da Obra, escreve o seguinte, num capítulo dedicado ao tema: A Religião e o Progresso Político e Social: os ídolos do paganismo moderno não são menos pesados do que as divindades do velho paganismo.

Esta asserção causa-nos algum desconforto, sobretudo neste tempo onde o ter continua um ídolo, mesmo para muitos homens que fazem gáudio da sua religiosidade, um facto que leva o autor a declarar que a religião, muito embora seja obra divina, por ser executada por homens, estes deixaram  – e continuam a deixar, dizemos nós -  a dedada das suas ignorâncias, dos seus erros e das suas paixões.


Mas é histórico e constitui uma página brilhante e um marco importante da sua acção na sociedade, o papel interventivo da religião católica no período que se seguiu à descoberta do Novo Mundo, em pleno século XVII.

Deve ser realçado o facto de terem sido os cristão franceses os primeiros que protestaram contra o uso e abuso do tráfico dos negros (1637) e, mais tarde, nos Estados Unidos (1774) foi determinante  a sua acção humanista na obra de libertação dos escravos.


É, ainda, aos cristãos que se deve, como assevera Henri du Passage, as primeiras tendências de se situarem no centro do sistema económico para lhe regular o exercício, agindo determinadamente contra os detentores de um capitalismo sem rosto humano que começava a corroer a sociedade de então, onde imperavam leis desumanas.

É, também, por acção deles, graças às  confrarias surgidas, que foi estabelecida a ideia e a prática do mútuo auxílio entre pessoas do mesmo ofício, estando desse modo, os cristãos na origem dos primeiros movimentos agregadores de classes.

Vivia-se, então, a época do abuso motivado pela força desigual entre fortes e fracos, onde estes últimos eram uma classe desprezível e cujo préstimo estava somente na força do trabalho, a começar pelas camadas mais jovens.


Ozanam, o principal fundador da Sociedade de S. Paulo, começou a dar mostras de alguma inquietação social ao constatar tais atropelos à dignidade humana, passo que levaria o Arcebispo de Ruão no ano de 1838 a lavrar um veemente protesto contra a exploração nas fábricas da mão de obra infantil, um facto decisivo que esteve na origem da primeira lei votada a este propósito, mercê da acção de um católico fervoroso, o conde de Montalembert.


Em 1869, Mons. Kettler, bispo de Mongúcia haveria de voltar ao assunto e, mais tarde, nos anos de 1885, 1888 e 1891, a acção empenhada de Mons. Freppel, conjuntamente com Albert de Mun, instigador de leis sociais e criador com La Tour du Pin dos “Círculos Católicos de Operários” e outros parlamentares católicos franceses levaria à discussão e aprovação de leis regulamentadoras da idade de admissão dos operários.

Nesta pequena reflexão não nos vamos alongar mais sobre o papel da religião e do homem católico no tecido social, mas vemos quanto importante foi a sua acção no momento em que foi necessário dobrar a cerviz ao capitalismo desenfreado que escravizava o homem ao reclamar para si a quase totalidade dos benefícios.


Não deixaremos, no entanto, de apontar o erro de se continuar no nosso tempo a endeusação dos bens materiais, como se fossem ídolos, mesmo por homens católicos, pelo facto de não terem do trabalho e dos trabalhadores uma concepção humanista na linha espiritual daqueles que no século XVII se levantaram contra a exploração mercantil dos negros, numa acção social que haveria de desembocar no século XX numa consciência mais perfeita entre operários e patrões, classes indispensáveis à fruição da vida nos seus aspectos mais dignos e mais nobres.


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