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sábado, 8 de junho de 2013

Como está a nossa fé teologal?



A fé de Maria não tem senão um apoio: a palavra de Deus. (…) Que lição para nós! Porque é que a fé desaparece? (…) Porquê? Porque não se dá à fé o seu verdadeiro fundamento: Deus e a sua palavra. Ora isto é absolutamente indispensável para que a fé seja pura de toda a aliança e duma firmeza absoluta, para que seja uma fé teologal. A fé de muitos fiéis de hoje repousa em motivos secundários e frágeis.(…) Está-se marcado pelo ambiente, pelos que nos rodeiam. E a fé teologal? Esta fé repousa sobre Deus?
Pierre-Marie Théas
in, Maria, Modelo de Fé

 
Onde repousa a nossa fé?
Job pode servir-nos de exemplo, porque a sua fé teologal era um dom profundamente centrado em Deus, a quem no meio das suas dores continuava a servir fielmente, mesmo após a tentação do demónio, quando lhe levou os bens, a família e os amigos, vivendo e anunciando a lógica da sua crença, que não era um conjunto de princípios doutrinais resultantes da reflexão humana, mas era algo que emergia de um coração cheio de amor.
Fica, em face disto, outra pergunta:
Se sou provado por um infortúnio e a minha fé abala, qual era a valia da minha fé?
Possivelmente, uma fé assim, está fundada sobre falsos legalismos onde não raro existem desejos de controle de um sobre o outro, seja o indivíduo ou a comunidade, já que é tendência do legalista é o controle do ou dos liderados, pelo facto de não ser respeitada a essência da Graça e da relação de Deus connosco.
A fé verdadeira, é muito mais.
Funda-se na fidelidade ao Evangelho, mesmo que para a afirmar se esteja contra a corrente em face das perspectivas envolventes, mesmo as mais adversas, actividade em que devemos aprender a ser mestres, reagindo contra realidades, ainda que culturalmente aceites pela sociedade laxista que nos possa envolver, na certeza que esta atitude influi poderosamente na transformação do mundo.
O exemplo de Maria e do cristianismo que o seu “sim” proporcionou aos homens, é o caminho que mais directamente nos leva a Deus, a fonte da fé teologal que a não ser vivida faz que tudo quanto dizemos ou fazemos, tenham logo à partida as falhas que hão-de ser causa de abandonos fáceis.
A fé de muitos fiéis de hoje repousa em motivos secundários e frágeis, diz Pierre-Marie Théas, e não deixa de apontar as causas: o ambiente e aqueles que nos rodeiam, onde a cultura deixou de ter o sentido espiritual, na linha do que é afirmado pela Gaudium et Spes: Em sentido lato, a palavra cultura designa tudo aquilo através do qual o homem aperfeiçoa e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por submeter o Universo pelo conhecimento e pelo trabalho; humaniza a vida social, tanto familiar como o conjunto da vida civil, graças ao progresso dos costumes e das instituições; traduz, comunica e conserva, nas suas obras, ao longo dos tempos, as grandes experiências espirituais e as grandes aspirações do homem, para que possam estar ao serviço de um grande número e mesmo de todo o género humano. (1)
Torna-se, por isso necessário repensar a cultura do homem, por forma a que a fé em Deus tenha a força que lhe permita submeter o Universo, e não deixar que as forças adversas que se movem dentro dele o submetam às leis iníquas que tendem a conseguir duas metas: não deixar, sequer, que existam assomos de fé, ou se esta se instala que assente em motivos secundários e frágeis, por forma a poder ser manipulada.
E voltamos ao exemplo de Job que tendo uma fé viva, assente no Coração de Deus, manteve-a bem erguida, submetendo à sua determinação e crença profunda, o Universo que o rodeava de malignidade, numa tentativa de o revoltar contra Deus.
E nós: como está a nossa fé teologal?
Eis uma pergunta que fica de pé porque se torna importante ter dela um conceito que vá para além daquele conjunto de princípios doutrinais resultantes da reflexão humana - que sendo importantes - devem ser entendidos não como um porto de chegada, mas de partida, para que a reflexão se torne, em definitivo, o grande encontro com Deus e a nossa fé seja marcada pelo realismo da Encarnação e possa penetrar nas realidades do mundo, joeirando-o com aquela solidez que se enraíza numa cultura sólida e adulta por modo a que a fé vivida em ambiente teologal corresponda aos combates árduos da submissão do Universo à eterna Lei de Deus.


(1) - nº 2

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