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segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Homem: um problema eterno


 
 
Afirma, Martin Heidegger (1) que nenhuma época soube menos que a nossa o que é o homem e, no entanto, em nenhuma época da história humana houve tanto conhecimento sobre aquilo que ele é e representa, enquanto agente especial e único, chamado cada um pelo seu próprio nome para transformar as coisas em seu benefício e prazer e, depois, da colectividade de que faz parte.
A que se deve a afirmação do filósofo, que até parece sem sentido e falha de verdade.
Deve-se, tão simplesmente, a isto: o homem do nosso tempo é um ser angustiado, carregado de problemas que outras gerações não conheceram pelo facto da vida lhes não proporcionar tantas solicitações de carácter ambiental, social e cultural e, até, espiritual.
Há, sobretudo, um facto que deve ser alterado neste mundo de massas e  de ideias feitas que retiram ao homem muito da sua criatividade específica que são causa de prazer, dando-lhe razões de viver pelo aprofundamento da sua vida perante o mundo que o cerca e, onde, ele não pode ser um agente passivo mas interveniente no moldar das coisas que acontecem.
Na origem, o homem foi chamado para ser criador e transformador , sendo com a sua actividade pessoal um colaborador de Deus, havendo entre todos esse espírito de serviço em prol da comunidade desde esse ponto de partida perdido na bruma do tempo.
O homem com as suas trevas e a sua luz, com as suas sombras e com a sua fonte de vida foi chamado a percorrer todos os caminhos e estar presente em todas as instituições e viver dentro delas, respeitando ideias e doutrinas, sem contudo, perder o seu espírito crítico como um valor único que ninguém podia absorver e sem perder algo tão importante, como era a sua identidade própria e insubstituível.
O que se passa, actualmente, é que o homem-massificado tomou conta do mundo através de livros, discursos, jornais, cinemas e, até, de simples conversas que indo a reboque de tudo o que é simplista e imediatista, fez que se perdesse o espírito das primeiras comunidades estreitadas por laços afectivos que hoje se encontram perdidos ou dispersos na amálgama de um mundo cruel, onde o homem deixou de ver para além do seu horizonte e passou a viver o momento que passa sofregamente, como se a vida se esgotasse em cada dia e não houvessem sempre novos dias e novas madrugadas carregadas de sonhos.
Não pode, por tudo isto, o homem deixar de se interrogar sobre os seus problemas actuais que tendem à sua despersonalização pela influência de vastos poderes que o cercam como uma tenaz, fazendo que ele ao deixar de pensar por si mesmo, cometa o erro grave de se deixar vergar à opinião de maiorias acidentais, que hoje existem e amanhã se desfazem sem lhe deixar tempo de reflexão e de se impor, mesmo quando ele é contrário à tal maioria acidental que o envolveu numa teia cerceadora da sua vontade, levando-o a manter no tempo que passa uma afinidade espúria com o cultivo de valores puramente materiais.
Este facto, onde Deus está ausente pela acção irreflectida do homem que O esquece, sem cuidar que Ele é uma Presença viva em todas as ausências que lhe causam todos os que se afadigam em prosseguir a jornada como se não houvessem valores transcendentais, hão-de continuar a ser na sua essência o cerne que esteve presente nas  primeiras comunidades onde cada um tinha o seu próprio espaço.
Razão tem, por isso, Heidegger, para afirmar  que nenhuma época soube menos que a nossa o que é o homem, porque pesem embora todas as suas conquistas nos mais variados campos do saber, lhe falta o principal, que é o âmago da ciência mais importante: ele mesmo que a si mesmo se devia perguntar:
- Quem sou e para onde vou?
A falta de uma resposta concertada na linha espiritual que preenche o destino de cada um é a grande responsável no nosso tempo pela falta de sabedoria que o homem actual sente de si mesmo e do modo como deve gerir o seu papel de agente individual e menos arregimentado a grupos despersonalizadores da sua vontade de gerir o seu modo de vida, pois é do modo como ele se vive que há-de florir a rosa mais bela do roseiral da existência humana, que é o homem em si mesmo e todo o mistério que o prende à sua existência que não pode passar sem sentido.
 
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(1) - Martin Heidegger (1889 -  1976) foi um filósofo alemão. É  um dos pensadores fundamentais século XX, quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia, quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Influenciou muitos outros filósofos, dentre os quais Jean-Paul Sartre.

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